Seguindo a série de diários de 3 tours da banda Terror Revolucionário, chegamos na última parte em que a banda fez um tour pelo México. Devido ao tamanho do relato, a terceira e última parte foi divida em três, a 3.1 (que pode se lida AQUI), a 3.2 (leia AQUI) e agora a 3.3, representando o fim da tour pelo México. Para ler e conferir a passagem da banda por outros países da América Latina, basta clicar AQUI (Chile) e AQUI (Argentina).
Texto por Thiago Cardoso (Barbosa Osvaldo)
15/08/2019 – El Mundano/Cidade do México
Voltamos para tocar novamente no El Mundano. O show anterior por lá tinha sido muito foda, então a expectativa era que seria muito bom novamente. E assim, foi. Rafinha compareceu novamente, pela terceira vez, e nos deu muita força. Obrigado, Rafinha! E teve um cara que veio nos ver pela quarta vez. Mais uma vez, ele, José Augusto. Já devia saber até a sequência das músicas. Tiramos foto com o cara, agradecemos muito pelo apoio e nova amizade. Hard Coreen foi o organizador nesta noite e tocamos com bandas diferentes da outra vez que tocamos por lá. Chegamos e estava no final de uma banda já. Depois veio Nuclear Black, banda de uns moleques bem novos tocando thrash/death metal. E na sequência o trio Navajo, bateria/baixo/vocal. Não tem guitarra, e funciona bem pra caralho. Os caras mandam muito bem, e o som é bem carregado e preenchem bem com seu sludge/grind. Fodido!
Fomos a última banda. E foi bonzão novamente. Mas dessa vez, sem os pedidos de bis como da outra vez (hehe). Rolou o set list inteiro e pronto. Foi muito bom! Ao final, galera trocando ideia, comprando nosso material, nos presenteando com apetrechos de suas bandas, nos dando cerveja. Nos despedimos e voltamos a pé para casa na madrugada. CDC estava receoso, pois antes de viajar soube de uma história que uma banda estrangeira foi assaltada e algum integrante esfaqueado pelas ruas da Cidade do México. Sem problemas em relação a isso. Voltamos ilesos, e o CDC ainda mais magro de tanto saborear as tortilhas.
16/08/2019 – Puebla/Puebla
Chegou o momento de pegar a estrada. Era o dia de finalmente encontrarmos com Pancho e os Anarchus. Saímos do apartamento que ficamos por sete dias, juntamos todas nossas coisas e tomamos dois Ubers até o local combinado com Pancho. Por sorte, os carros que saíram em momentos diferentes, pararam no mesmo lugar e nós 5 conseguimos nos reunir. Esse ponto não era bem o lugar que Pancho combinou. Era perto, porém tinha que dar uma volta do cacete pra chegar até lá. Paula tinha comprado um chip com internet e com isso ajudou muito em nossa logística e comunicação. Nos salvou nesse momento. Assim conseguimos contato com Pancho e ele solicitou à Abuelo e Thrasher para nos encontrar e ajudar a carregar nossas malas e instrumentos. O lugar era caótico, muito movimento por pessoas e veículos. Por ali seria o lugar de encontro das bandas para pegar uma van e viajar até Puebla. César, o médico grind de Huajuapan, quem agilizou essa pernada da tour. Tudo com intermédio de Pancho. Então qualquer situação, atraso da van, as bandas que iriam, era César quem decidia.
Jeffer quase ficou para se consultar na clínica que cobrava 35 pesos mexicanos no atendimento (algo em torno de 7 reais). Quase no mesmo instante, chegam a van e a banda Jesus Cristo Mentiroso. Uma van velha, que não tinha cintos de segurança nem para o motorista, com os bancos traseiros adaptados para lotação rápida, seria nosso transporte pelos próximos três dias. O motorista Alfredo encostou o carro e foi fumar um cigarro. Socamos as coisas num tetris maluco no fundo do carro. E claro que não iria caber à todos. E olha que tinham mais umas duas bandas que cancelaram. Pancho ligou para César e contou da situação. Rapidamente ele fala para nós embarcarmos juntos dos Jesus Cristo, e que eles, Anarchus, dariam um jeito de chegar até Puebla. Assim, seguimos viagem. Lamentamos o Anarchus não poder viajar junto, mas não tínhamos o que fazer para contornar isso.
Muito trânsito para sair da Cidade do México. Viagem de 200 km que durou umas 4 horas ou mais até. Conhecemos a figura de Ernesto, vocalista do Jesus Cristo Mentiroso. Esse coroa inquieto, figura, e seus discípulos mansos e despreocupados. Ernesto foi contando várias histórias engraçadas e fomos nos conhecendo e trocando ideia durante o caminho. Finalmente, depois de muita luta para o Alfredo entender o GPS e os comandos que lhe eram ditos, chegamos no bar La Despacheria.
Eduardo Doi, brasileiro que mora próximo à Puebla e que o CDC tinha feito contato, já estava lá na porta. Ele tem um portal de divulgação chamado Metal Maniacs Mexico. Antes de começar os shows, fomos procurar algo para comer, já eram umas 20h quase, e os intensos camelôs nas ruas começavam a desmontar suas barracas. Uma pena que chegamos tarde e não pudemos conhecer Puebla. Anarchus chegou. Viajaram de ônibus. Em determinado momento até achamos que eles não fossem mais. O que seria muito lamentável, pois Pancho e Abuelo vinham de longe, eles vivem em Águas Calientes e viajaram 7 horas até a Cidade do México para pegar a van.
A ideia dos caras era seguir para Huajuapan de Leon logo após o final do show, que terminaria lá pelas tantas da madrugada. Estávamos cansados, imaginamos que o motorista também, e propomos a saída pela manhã cedinho. Aceitaram meio a contragosto. Pancho ligou para César e comunicou. Eduardo nos ajudou a encontrar um hotel vagabundo e barato apenas para passarmos a noite. E achamos um, com 5 camas de solteiro no quarto, colchões velhos e afundados, banheiro com água quente até determinada hora (que não foi no curto momento que estivemos por lá), sem café da manhã.
La Despacheria é um bar muito massa que parecia um casarão antigo. Tinha uma espécie de corredor no mezanino que levava até um quarto que era usado como camarim. Palco, som e backline muito bons. Tocaram junto as bandas locais ExDxSx e Perros Muertos. Pena que nesse dia não teve muito público. Arrisco a dizer umas 50 pessoas no máximo, contando com o povo das bandas. Montamos a banquinha de merchandise perto das coisas do agilizado Ernesto, que vendia suas camisetas. Incrível que a galera sempre chega junto e compra material. Eduardo registrou parte de nosso show em vídeo. Anarchus, veio com sua formação clássica que produziu muito pelos anos 90 e 2000. Os caras do Jesus Cristo Mentiroso agitaram bastante nas bandas que tocavam. E o show deles é muito bom. Hardcore/grind com várias intervenções de Black Sabbath. Cinco caras, sendo 2 vocalistas. Show começou tarde e acabou quase umas 3h da madrugada. Combinei com o Pancho o encontro às 8h para seguir a Huajuapan.
17/08/2019 – Heroica Ciudad de Huajuapan de Leon/Oaxaca
Às 8h em ponto e lá estava na frente do hotel a van com o pessoal do Anarchus. Acho que os caras nem dormiram. Dessa vez, Jesus Cristo Mentiroso iria dar seu jeito de chegar até a próxima cidade. Outra longa viagem para uma distância de 230km, com penhascos à beira da estrada de tirar o fôlego, cactos e uma vegetação que muitas vezes lembrava o cerrado brasileiro. Foi legal conhecer um pouco melhor os caras do Anarchus. Thrasher, o guitarrista, toca em outras 8 bandas. Membro fundador do Atoxxxico, AK47, Cacofonia, Massacre 68. Essa Massacre 68 eu fui procurar depois para ouvir e achei sensacional. Abuelo tem outros projetos e bandas também. Ambos retornaram em 2019 ao Anarchus. Pancho, membro fundador do Anarchus, segue na luta desde 1987. Paramos para o café da manhã, que pelos pedidos mais parecia um almoço. Em frente ao restaurante, na beira da estrada, tinha uma paisagem muito animal de um vulcão.
O show desse dia era para comemorar o aniversário de César Madrigal, o médico forense, que, segundo ele, seria uma festa regada a muito álcool para curar as feridas. Cirrosis Fest! era o nome de sua festa. Chegamos ao espaço alugado por César e já tinha um rango pronto para os convidados e muita cerveja. Tinha tambem o Mézcal, uma típica bebida de Oaxaca, com cerca de 48% de álcool. Fomos descansar um pouco para voltar com muita energia para a festa.
César convidou seus amigos e o evento era particular, apenas paras as bandas, sua família e seus convidados. Rolou até um palco, alto pra caralho, com umas pedras servindo de calço para completar a gambiarra. Veio uma banda de Oaxaca chamada Nephyla, que são duas garotas tocando grindcore. Muito legal o show delas. Tocaram vários sons próprios e covers de Rot e Agathocles. Subimos ao palco, ajeitamos os instrumentos, baixo ligado na mesa. Nessa noite tocamos quase que sem se movimentar pelo palco, devido ao palco que poderia desmoronar. CDC logo desceu e ficou urrando lá embaixo, com medo do palco despencar. Tocamos todos os sons do set list perfeitamente, e o som tava bom pra caralho. Dava para ouvir tudo ali em cima. César delirava com a barulheira e tomava todas. Ele estava feliz demais, toda vez que passava por mim me dava um abraço, pois finalmente depois de meses de conversa estávamos ali para conviver, confraternizar e tocar em sua cidade. Anarchus e Jesus Cristo Mentiroso (esses caras que ficavam agitando para as bandas) fizeram excelentes shows.
18/08/2019 – Oaxaca/Oaxaca
Pessoal do Anarchus teve que voltar à Cidade do México. Como combinado com os caras do Jesus Cristo Mentiroso, acordamos cedo, encontramos o pessoal do Anarchus ainda pelo hotel e nos despedimos deles. Somente Ernesto do JCM estava de pé e agitado andando pelas ruas, e os outros caras dormindo. Encontramos ele quando saímos pra comer os deliciosos pães que compramos para o café da manhã. Só conseguimos juntar todos e sair do hotel quando já eram quase meio dia. Os caras sugeriram visitar umas ruínas e depois ir numa cachoeira, tudo pela região de Huajuapan. Fomos nas ruínas, acompanhados de um pessoal local, e depois para a cachoeira. Alguns se animaram e foram tomar um banho no poço da cachoeira. Alfredo, o motorista, quase se dá mal e passou apuros pois não sabia nadar. Ao retornar, tomou uma cerveja em temperatura natural para relaxar, cortesia da festa do César no dia anterior.
Já eram quase umas 16h e os caras inventaram de comprar um rango para almoçar. Fomos para casa de um dos amigos que moram em Huajuapan e o Ernesto saiu para fazer compra e volta com dois frangos assados com molho apimentado e já cortados acondicionados dentro de um saco transparente e mais umas cebolas e pimenta jalapeño, que ele pica rapidamente para a galera comer. Dei uma apressada no povo, pois já estava ficando tarde e ainda iríamos viajar até Oaxaca por umas 3 horas.
O show estava previsto para começar às 17h, obviamente chegamos atrasados e perdemos as primeiras bandas. Chovia uma chuva fina e o local era o fundo de uma casa, aberto, com uma piscina mais ao fundo do terreno, e ao lado da piscina, uma parte alta que serviu de palco, onde colocaram uma tenda para proteger os equipamentos da chuva. O ambiente tava massa, tinha um bom público, era o último show da turnê e estávamos felizes em estar ali. As meninas da Nephyla tocaram novamente.
Adriana foi ao bar do local e voltou com uma cerveja de 1 litro. Disse que era só chegar, falar que era da banda que iria tocar e eles davam cerveja e comida. Fui lá e ganhei uma comida que parecia uma pamonha, vinha envolta de palha de milho e tinha um gosto pimenta catimbó defumado. Gosto estranho. Eu, Adriana e Jeffer provamos. Comi tudo, estava com fome e seria feio desperdiçar. Aos poucos foram chegando umas doses de Mézcal. Tomei uns 3 shots antes de tocar e fui ficando louco. Fiquei cuidando da banquinha de camisetas e CDs do Ernesto enquanto ele tocava com Jesus Cristo Mentiroso. Marquei a hora, e eles tocaram por exatos 60 minutos. Show gigante.
Fomos a última banda. Falei pros meus companheiros de banda que fazia questão de tocar todos os sons do set list e os bônus. Era o último show. Despedida! Durante a montagem dos equipos apareceu mais dose de Mézcal. Forte, parecia álcool puro. Eu senti uma euforia louca, sentia as palhetadas ultravelozes de uma forma que nunca toquei. Por umas 3 vezes apontei a guitarra para a piscina e quase que arremesso lá dentro. Conheci o David, organizador do evento, e combinamos de nos encontrar alguma noite, já que eu ficaria por Oaxaca alguns dias passeando com a Paula. Foi uma grande noite de despedida dessa primeira tour mexicana. Uma pena foi chegar tarde e aproveitar nada da cidade. Assim ficou o sentimento do Fellipe CDC, Jeferson e Adriana, que no dia seguinte voltariam para a Cidade do México e de lá retornariam para Brasília.
Na manhã de segunda-feira, despedi dos caras do Jesus Cristo Mentiroso, e ficou ali no ar a vontade de nos encontrarmos um dia e fazer mais shows juntos. Tomara que isso aconteça!
Foi muito foda conhecer o México e vivenciar todos esses momentos que passamos juntos. Muchas gracias, hermanos! Viva México!!!