Punk, hardcore e alternativo

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Terror Revolucionário pelo México [parte 3.2]

Seguindo a série de diários de 3 tours da banda Terror Revolucionário, chegamos na terceira parte em que a banda fez uma tour pelo México. Devido ao tamanho do relato, essa terceira parte foi divida em três, sendo que você pode conferir a primeira delas, a 3.1 (clicando AQUI). A 3.3 será publicada na segunda-feira, 13/1. Para ler e conferir a passagem da banda por outros países da América Latina, basta clicar AQUI (Chile) e AQUI (Argentina).

Texto por Thiago Cardoso (Barbosa Osvaldo)

11/08/2019 – Valle de Chalco/Estado De Mexico

Era um domingo, e estava previsto para tocarem quase 15 bandas. A Rosa, organizadora do evento, disse que as bandas tocariam pouco tempo cada e que começaria cedo. Chegamos cedo para conhecer o povo e ver as bandas. Pegamos um Uber que nos levou até o pico. Uns 35 km de distância, numa região periférica próxima da Cidade do México. Quase chegando, vimos um cartaz escrito Terror Revolucionário com uma seta apontando para a esquerda. Sensacional!

O local era um restaurante que abria as portas para eventos desse nível. Já tinham passado por ali bandas como Lobotomia, Rattus, Terror Algum (banda do Adriano de Recife/PE). Local bem clássico e conhecido e os punks colavam em peso. Tinha uma fábrica de tortilhas bem ao lado da entrada improvisada, onde se passava para adentrar ao recinto pisando em uns cabos de aço de material de construção. Atrasou umas 2 horas para começar. Tinha um parque de diversões montado na rua em frente com uns brinquedos bem antigos. Certa hora fui lá dar uma volta, depois de uma chuva rápida e muito forte, comprar uma batata frita chips com limão e pimenta. Foi escurecendo e os punks saindo dos bueiros. Veio gente lá de Toluca, onde quase fechamos um show, mas o camarada que iria fazer a gig morreu (RIP!).

Conhecemos os caras do Pueblos Muertos, que seriam uma das primeiras bandas. Galera gente boa demais. Ganhei uma camiseta com estampa de um anarquista que foi assassinado em Oaxaca. José Augusto (o grandalhão – irmão do Ângelo) estava lá. Ele me mostrou um desenho que ele fez para o flyer de um show que estava organizando e perguntou se poderíamos tocar nesse show. Uma pena que aconteceria em duas semanas e não dava pra gente. Como falei, eles gostam de conversar, saber como é a cena underground no Brasil. E não tem muita diferença no underground não. É na raça como aqui e em vários cantos por onde já passamos. Situações como gente reclamando do valor da entrada, bebendo do lado de fora e não entrarem no show, falando mal, acontece em todo canto.

Com o passar do tempo, o local foi enchendo e muito, e as bandas tocando. Nas primeiras bandas estava rolando uma microfonia dos diabos, som mal regulado que estava uma tristeza, mas que foi melhorando aos poucos. Rolava cerveja de 1 litro. Cerveja mexicana Indio, muito boa, que se tomava na própria garrafa ou num copão gigante com um tipo de páprica apimentada na borda. Pessoal do Causa Justa chegou e veio sem o guitarrista, que pela bebedeira não conseguiu comparecer nesse dia e assim o Oscar tocou guitarra. Muitos punks chegando, e conforme ia ficando mais tarde, a galera ia ficando mais louca. Um cheiro de cola de sapateiro empesteava o ar em todos os cantos. O pogo foi ficando cada vez mais agitado e insano. Rolou até briga. Nem vi, foi na hora que saí para dar uma volta. Só vi depois uns caras circulando com o nariz estrunchado, como se nada tivesse acontecido. Cigarros filados eram acesos, a cola no ar, garrafas se quebrando e cervejas sendo derramadas deixando encharcado o piso que no início estava um brilho. Eu mesmo contribuí para isso, quando ao conhecer os caras do Kagada de Perro, clássica banda punk na ativa desde 1988, fomos tirar uma foto, e dei uma bicuda no copo cheio de cerveja do baterista que ele tinha deixado no chão para sacar a foto. Putz! Corri no bar e busquei outra cerveja pro cara na hora.

Nos preparamos para tocar, chutando os cacos de vidro para os lados. Magrelo queria cortar uns sons, dizendo que o som estava ruim e que a garganta dele estava bichada. Falamos: “Negativo! Vamos tocar o tempo que deixarem e se pá o set list inteiro”. Tocamos o primeiro som, e o negócio tava violento. Sem palco, o pessoal vinha em nossa direção e nos empurrava. Caí encima da bateria nem sei quantas vezes. Uma lasca da minha guitarra ficou pelos pratos do Vein. Estava intenso e perigoso, do jeito que um show precisa para incendiar. Jeffer Vein errou o início de Educando para Destruir umas 3 vezes e isso me deixou muito puto e enfurecido na hora. Toquei com mais sangue no olho ainda. (risos). Era gente caindo, escorrendo na cerveja derramada, pogo lindo e insano. Teve um cara que ficou parado com sua mochila no chão bem na minha frente boa parte, quase ao final do show. No último som, coloquei a guitarra para cima e ao retornar acertou em cheio a cabeça desse cara. Foi sem querer. Acidente de show punk/hardcore. Pedi desculpas, demos um gole na cerveja e estava tudo certo, com a cabeça dele e com a minha velha guitarra de guerra.

Kagada de Perro veio na sequência, e o que estava violento pareceu ficar ainda “pior”. Banda consagrada e muito querida na cena mexicana. Sem espaço, com a banquinha de merchandise sendo derrubada, recolhemos às pressas as coisas e fomos curtir a bagaceira. O vocalista, que atende pela alcunha de Psicopata, instigava os punks e o cheiro de cola rolava forte em todo o lugar.

Outra banda muito clássica tocou depois, a Coprofilia. A banda da Rosa ainda iria tocar. Oscar disse que nos levaria para casa, e assim juntamos tudo e todos, umas 10 pessoas no seu carro mini van que foi literalmente se arrastando pelas ruas do bairro e rodovias. Parecia que a cada quebra molas uma parte do carro ficava pelo caminho. Esse show considero um dos mais loucos nesses 20 anos de banda! Que noite para ficar na memória!!!

12 e 13/08/2019 – Day Off Cidade do México

Finalmente na segunda-feira conseguimos dar uma sossegada melhor e respirar o ar seco e poluído do centrão da Cidade do México. Impressionante como o nariz acordava ressecado. Chegava até a sangrar, lembrando os momentos de baixa umidade do ar no auge da seca em Brasília. Já tínhamos feito compras num supermercado, então tinha comida para o café da manhã, lanches, água para beber. Adriana Tiú entrou em ação.

Fomos dar uma volta pela área que ficamos hospedados. Como já disse antes, perto do Zócalo, ruas bem movimentadas, muitas feiras, camelôs, perto de um setor com várias lojas de instrumentos musicais, bairro japonês, um prédio que do alto se via a cidade e uma praça muito bonita e arborizada, onde tinham uns palhaços e artistas de rua. Povo mexicano é muito guerreiro. Se vira como pode vendendo comida na rua, camelô. Desigualdade é grande, assim como no Brasil, mas infelizmente parece que pior.

Combinamos com o motorista do Uber que conhecemos, o mesmo que nos levou para Valle de Chalco, e ele fez um bom preço para levar nós 5, apertados no carro, até as pirâmides de Tetiohuacan. Fomos cedo, na terça-feira, e uns 50 minutos de viagem estávamos no local. Paga-se barato na entrada, pouco mais de (equivalente a) 15 reais por pessoa. Lugar lindo, surreal. Na descida da pirâmide do sol, um cara me viu com a camiseta do Cutre, banda de Buenos Aires/Argentina, e perguntou onde eu havia conseguido a camiseta. Ele é conhecido do Hernan Diente, vocalista da banda. Achei foda isso! Na hora, nem me lembrei de dar um adesivo para o cara nem nada. Sorte que depois, contando a história para o Diente, consegui o contato do cara e o convidei para o nosso show na quinta-feira. O cara é de El Salvador, mora nos Estados Unidos, está passeando pelo México, e encontrou um brasileiro com uma camiseta de uma banda da Argentina.

Na volta passamos pela basílica de Guadalupe. Tem uma parte que está inclinada por conta dos terremotos. Rola um papo também que a Cidade do México está afundando. No outro dia ainda fomos no museu Leon Trótski e também no museu Frida Kahlo. Ambos muito massa e interessantes, num bairro muito agradável e diferente do centro. Lotado o museu da Frida. Super concorrido! Quase não conseguimos os ingressos, se não fosse a ajuda de minha cunhada aqui em Brasília, não ia rolar de visitar. Fomos de metrô, que corta boa parte da cidade. Cidade do México deve ser a cidade com a maior quantidade de museus. Dá para ficar vários dias só passeando por museus e conhecendo melhor a história do país e um pouco da história do mundo também. Preços muito acessíveis. E muito bem cuidados também. Vale a pena!

14/08/2019 – UNAM/Cidade do México

A Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) tem um campus gigante. O nosso conhecido do Uber nos levou novamente numa corrida particular. Rafinha estava lá e nos levou para um passeio pela Unam. Lalo, um dos vocalistas do Causa Justa e fanático por futebol, nos levou até o estádio que fica na universidade e nos contou várias histórias.

Fomos para tocar na ocupação Che Guevara, que é um auditório dentro da Unam ocupado há vários anos por estudantes, punks e anarquistas, e com muita resistência contra a polícia e a reitoria. Vários estudantes foram presos por conta dessa ocupação. Mário, um dos guardiões da ocupação, nos apresentou as instalações. Lá realizam aulas de boxe, tem uma cozinha vegetariana, uma fanzineteca, e o grande auditório onde rolam shows, debates, apresentações diversas. Demos entrevista para um cara muito figura, Neto Lamuerte, que tem um programa de rádio. O grandalhão José Augusto estava por lá. Mas o show em si não foi bom não. O som estava uma merda e bem caótico. Nesse show tivemos que cortar umas músicas e fizemos um set list bem aleatório. O sistema do microfone sem fio que tinha estava muito ruim. Uma plateia de punks, zumbis, cachorros e estudantes. Teve uma banda que até emprestei minha guitarra para a menina. Valeu conhecer essa okupa!!!

Ana e Oscar foram mais uma vez nos dar aquele apoio e levaram sua pequena e linda filha Regina. Esse casal que nos ajudou muito com os primeiros shows na região da Cidade do México. Seremos eternamente gratos por todo suporte e carinho!

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