Por Fabio Rodarte
O ano de 2017 foi agitado para o Punk Rock mundial, pois foi celebrado 40 anos de movimento, na verdade marcou a explosão mundial do Punk Rock, pois o Punk já existia antes de 77, e aqui no Brasil as comemorações serviram pra dar uma alavancada nos eventos que andavam meio em baixa se compararmos com outros períodos destas 4 décadas.
Nesta matéria falaremos de quatro shows com a temática de celebração de 40 anos. Começando pelo evento de Juiz de Fora (MG) que rolou dia 08/10/17, idealizado pelo Aécio Silva (proprietário do Espaço Cultural Matinée) e Juarez da banda Dekradi, o evento marcaria a volta da banda Sarjeta, o que acabou não acontecendo, pois o Oscar (ex Calibre 12, Menstruação Anárquika, Mukeka di Rato…) acabou se mudando para o nordeste pouco antes do show.
Dekradi fez ótima apresentação, banda referência do gênero Street Punk. Kaos 64, banda formada em 1980, uma das pioneiras do hardcore nacional, fez uma apresentação arrasadora, emendando um clássico em cima do outro. Pra fechar Periferia S/A, banda formada pelos membros originais do Ratos de Porão, apresentação impecável, com direito a clássicas canções do começo de carreira do Ratos. Como disse o guitarrista e vocalista Jão: “uma das noites punks daquelas que jamais esqueceremos”.
Festival Punk-se BH
Ainda em Minas Gerais, desta vez em Belo Horizonte, rolou no dia 16/12/17 o “Festival Punk-se BH, Homenagem aos 40 Anos de Punk”. Na discotecagem de Natcheli, vários clássicos. A primeira banda a subir no palco foram os veteranos do Consciência Suburbana que mandaram o Punk Rock 77. Na sequência foi a vez do Hardcore Old School do Desistência Zero, banda revelação do underground de Minas Gerais em 2017. A terceira banda foi o Spirit, que com apenas baixo distorcido, mandou seu Punk Rock, detonaram os clássicos deles, BH Rock City, Spirit Machine. A quarta banda foi a Drástiko, que com suas letras politizadas mandou o recado levando o público a moshar. A quinta banda foi o Komando Kaos, com suas guitarras e baixo distorcidos, entre discursos políticos contra políticos partidários, religiosos picaretas e contra a esquerda e a direita, detonando os clássicos como Vaticano, Parem a Violência, Vote Nulo, Esquerda Assassina e Direita Fascista. Insolentes arrebentou, clássica banda oitentista de BH, maravilhoso ver eles em ação. Atack Epilético foi um dos pontos altos do evento, clássico, anarco, performance irretocável, um grande privilégio vê-los em ação. Banda DOPS, grande referência HC, super indico pra quem ainda não conhece, tecnicamente perfeita banda, showzaço. Na sequência, nada mais, nada menos que a Banda do Lixo, banda pioneira do Punk Rock nacional, uma apresentação histórica, quem viu pode se considerar um Punk muito privilegiado. Dependente Químicos, os Dead Kennedys de Guarulhos, ótima apresentação, uma das bandas mais fodas da atualidade, ótimo entrosamento, ótimas letras e arranjos, arrebentaram tudo. Hino Mortal foi a penúltima banda, desfalcada de seu baterista Babão. Pra fechar, Kaos 64, um tsunami sonoro, a punkaiada destruiu tudo e cantou os grandes clássicos da banda, realmente BH é uma cidade que ama Kaos 64, e nós amamos BH igualmente.
Plataforma em São José (Santa Catarina)
Dia 13/01/18, evento realizado pela produtora Mohawk e Mutante Rádio no Plataforma em São José – Santa Catarina. Insalubre abriu a sonzeira com um hardcore pesado. Insurgentes, banda ativista que mistura hardcore com metal, super indico. Pogo Zero Zero, hardcore na praia NYHC, ótimos músicos. Devastadoras, banda gaúcha formada por minas, grande revelação dos últimos anos, show impecável, performance realmente devastadora, grande apresentação. Toquei com Invasores de Cérebros no Plataforma em 2015, show memorável, e lá estava eu novamente em cima daquele palco, algo que pensei que nunca iria acontecer, pois dias depois do show do Invasores em 2015 a casa pegou fogo, e desta vez, Ariel e convidados tocando clássicos dos Invasores de Cérebros, Restos de Nada e Inocentes, com apenas um ensaio (incompleto diga-se de passagem), quase que o Plataforma fecha de vez, apresentação impecável, o Plataforma veio abaixo, foi surreal, parte da plateia não sabia se chorava ou pogava, na dúvida rolou as duas coisas. Pra fechar, Hino Mortal, novamente desfalcada do baterista, foi a última vez que toquei nesta banda que estive por 6 anos, apresentação tão razoável que na metade do show o Plataforma estava quase que totalmente vazio.
Comando Suburbano
Dia 03/03/18, em Mogi Guaçu, rolou o 4º Comando Suburbano, baita evento foda. Primeiro Smoners, uma das melhores bandas nacionais da atualidade, técnica e performance fodasticas. Grotesque, outra baita banda, referência do Punk Rock do interior paulista, mega indico, foda pra caralho. Dependentes Químicos, bandaça com mais uma apresentação impecável. Pra fechar, Kaos 64 botou a punkaiada toda pra pogar e cantar os clássicos oitentistas da banda. Evento histórico… e o melhor está por vir sempre, viva o movimento Punk, ÊRA PUNK!
Depoimentos
Juarez (Dekradi): Foi uma grande satisfação para o Dekradi tocar ao lado de grandes bandas do cenário punk nacional, como o Kaos 64 e Periferia S.A. Apesar da banda Sarjeta ter cancelado sua apresentação, o show foi foda, de grande importância para o cenário local. Primeira vez de Kaos 64 e Periferia S.A. em Juiz de Fora, ficou pra história.
Wilson Alviano (Brigada do Ódio, Ulster, Olho Seco): Realmente um prazer conhecer a cena juiz-forano e rever antigos amigos ao mesmo tempo. Dekradi não se intimidou é fez um puta show, seguido pelos veteranos do Kaos 64 é Periferia S.A. Pessoalmente foi um momento de impacto pra mim. Conheço o Nivaldo, o Jão e o Jabá há mais de 3 décadas… aí vem na cabeça vários shows dos 80…
Reunião dos punks de SP e BH
Silva (DOPS: Esse evento foi bastante gratificante pelo fato de fazer a conexão do Punk de Minas Gerais e São Paulo, juntar bandas históricas com bandas mais recentes, e marcar o retorno da Banda do Lixo. Foi um ano de muitas celebrações e reflexões para a cultura Punk no Brasil, e é gratificante ter colaborado pra desenvolver eventos que possam ajudar a fortalecer o cenário, e movimentar a possibilidade de reuniões, onde além de música, ocorra a circulação de zines, debates, palestras, ativismo e a cena possa desenvolver mais.
Luis Sacramento (Banda do Lixo): Devo dizer que as duas coisas mais importantes neste retorno da Banda do Lixo são: A constatação de como o Punk cresceu, e se consolidou no Brasil, graças a guerreiros como você Fábio. E a oportunidade que temos de poder estar juntos, nesta luta que sabemos que é árdua, mas da qual não podemos fugir. Tamo junto sempre! Fazer nosso retorno aqui em BH, na mesma noite que o Kaos 64, foi para mim uma honra, e marcou a certeza de vamos estar juntos, muitas vezes ainda.
Movimento nunca há de morrer
Marlos Olivino (Grotesque): Eu coloco os rolês do seguinte modo: temos a satisfação pessoal, pois organizamos no intuito de trazer as bandas que curtimos. E os rolês movimentam a cena no Guaçu, pois no momento somos nós, e nossos colaboradores Rota 25, Coletivo Insurgência Ativa e a galera que cola, que faz a cena e o movimento acontecer. Já tivemos no Guaçu vários momentos em que rolês aconteciam, e neste momento nós também estamos a organizar os rolês com diversidade musical, mas o carro chefe e o Punk Rock. Trazer e tocar com a bandas que nos influenciam é muito bom.
Rodrigo Treinota: Poder trazer as bandas que nos influenciam de forma alternativa é a maior satisfação. Assim podemos ver que o movimento Punk nunca há de morrer. E vale ressaltar a competência das bandas, com anos de estrada, vivendo na mesma fraternidade sem exaltação. Punk.
Régis (Grotesque): Fazendo esta fraternidade e intercâmbios, mantemos o Punk vivo por aqui, e quanto mais subversivo melhor.