Durante os 12 anos em que morei na cidade de Guarulhos, de 2001 a 2013, acompanhei de perto o cenário underground local. E me lembro como era movimentada as coisas na cidade. Várias bandas, muitos shows e uma galera que se conhecia e fazia parte de tudo. Porém, com o passar dos anos, muitos desanimaram, muitos apareceram para tirar proveito da situação e depois desencanaram. Algumas bandas começaram a tocar mais pelo status e não pelo som e colaboraram com o enfraquecimento da cena. E hoje, poucas bandas e pessoas daquela época ainda estão circulando pelo meio underground de Guarulhos. E podemos incluir nesse meio a banda Small Chapters.
A banda foi formada em 2011 por Rodrigo Cavichioli (voz), Renato Lippa (guitarra e voz), Jonas Adamoli (baixo e voz) e Ronaldo Ragonha (bateria). Por mais que a banda seja nova, o grupo conta com integrantes que fizeram parte dessa época citada no começo dessa resenha. E hoje, estão aí na ativa, fazendo seu barulho e mostrando o seu som.

O Small Chapters faz uma mistura de rock alternativo com hardcore melódico bastante influenciado por bandas como Hot Water Music, Garage Fuzz, Reffer, Face To Face. Porém o mais interessante no som dos caras é que a banda não tenta soar como suas referências, nem ser mais uma cópia das bandas mais conhecidas do gênero. Você pode até perguntar: “Ah tá! Os caras não têm nenhuma influência de bandas como Dead Fish, por exemplo? Sim, claro que tem. Porém, é notável que as influências não passam de influências e não de uma fórmula a seguir para tentar ser aceito e fazer sucesso na cena. Tá ligado?
Lançaram em 2013 seu primeiro álbum intitulado “Prefácio”. Gravado, mixado e masterizado em Guarulhos, no Flight Estúdio, sob o comando de Rogério Oliveira. Não posso deixar de dizer que a gravação ficou show de bola.

Esse primeiro registro conta com 13 sons, onde é possível notar a pegada e o entrosamento do grupo. Bases e arranjos bem trabalhados e executados com bastante competência, aliado com aquela vibe mais “old school” do hardcore. Algo que raramente está presente nas bandas de hardcore de hoje, infelizmente. Fazia um tempo que não ouvia uma banda com essa pegada, o que me deixou animado. Além do ótimo instrumental, a banda possuí ótimas letras. Nelas são abordados temas cotidianos, como no som “Reagir”, pessoais e reflexivos, como na faixa “Spero”, e a acústica “Juntando as Forças”. Um detalhe bem curioso (e bastante positivo), é que algumas letras falam do própria cena underground. “Music Tour” fala da sensação de como é prazeroso sair em tour com a banda mesmo com as adversidades. Já a música “Pule e Nade” fala dos recorrentes problemas da cena. Falando a real, sem essa de ficar passando um pano. Falando o que muitos já devem saber, mas que não abrem a boca com medo de se “queimarem”. Poderia ficar aqui falando do restantes das músicas. Mas prefiro que você dê uma escutada no álbum e entenda qual é o lance dessa ótima banda.

Acredito que a cidade de Guarulhos está bem representada no hardcore melódico com o Small Chapters. Mostrando que, quando se toca um som realmente pela música, por amor, a mensagem é passada na melhor forma possível. Como sempre deveria ser. Como verdadeiramente é.
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