O que fazer em uma noite gelada de sexta-feira em São Paulo? Se para alguns é um grande pretexto para ficar trancafiado em casa debaixo das cobertas, para outros foi uma noite perfeita para enfrentar o frio, assistir e prestigiar duas lendas vivas do punk rock nacional no Aquarius Rock Bar: Inocentes e 365.
O Aquarius Rock Bar é uma casa de shows que fica na Zona Leste, entre Itaquera e a Cidade Tiradentes. Por mais que pareça ser longe pra cacete é fácil chegar lá. O bar é bem conhecido da região e sempre tem como atração bandas covers, mas de uns tempos pra cá eles estão abrindo espaço para as bandas autorais e grandes nomes do rock nacional. O espaço é grande, com mesas pra quem quer ficar de boa sentando tomando um drink, além de mesa de bilhar, uma lanchonete e um bar. E a estrutura de palco e aparelhagem para as bandas é bem bacana. Aliás, se todas as casas de rock fossem assim, muita coisa melhoraria, não só para as bandas como também para o público.

A casa abriu às 22h e a movimentação na entrada estava bem tranquila. Infelizmente, isso não mudou com o decorrer do tempo. Fiquei observando quem já havia chegado e a movimentação na entrada. O tempo foi passando e o publico ainda chegava timidamente ao local. Poucas pessoas realmente quiseram enfrentar a noite fria e assistir a um grande show. Mas os poucos que estiveram lá com certeza não se arrependeram de ter saído de casa.
A primeira atração da noite, a banda Mattilha, sobe ao palco um pouco antes da meia noite. O grupo, formado em 2010, faz um Hard Rock muito bem tocado. Influenciado por Velhas Virgens, Matanza, Guns N’ Roses, os caras surpreenderam todos que não conheciam a banda. O grupo tocou seus sons autorais e em português, apresentando músicas do álbum de estreia da banda, o “Ninguém é Santo”, lançado neste ano.

Além dos sons próprios como “Duro de Dizer”, “Sem Hora Marcada”, tocaram também as covers “I Believe in Miracles”, clássico do Ramones, e fizeram uma versão bem interessante de “Bete Balanço”, do Barão Vermelho. Fecharam com a música “Noites no Bar”, som esse que foi veiculado na rádio 89 e que no disco conta com a participação especial de Paulão, dos Velhas Virgens no vocal. Com certeza, essa banda deixou uma ótima impressão para aqueles que estavam aguardando as principais atrações da noite. É bem possível que você ainda ouça falar do Mattilha por aí. Eles deram conta do recado.
Em seguida, foi a vez da lendária banda 365 de volta a ativa com a sua formação original, com Finho nos vocais, além de Ari Baltazar (guitarra), Miro Mello (bateria) e Luiz (baixo) . A banda logo subiu ao palco e já mostrou os sons “Quando Parti” e “Nunca Mais”. Após a segunda musica ocorreram alguns problemas técnicos, mas isso não esfriou a energia do publico que estava lá agitando e prestigiando a banda. Aliás, foi possível notar que a banda tem um público fiel, que não se incomodou em esperar até que fosse solucionado os problemas com a guitarra.
Com tudo resolvido a banda seguiu sem deixar a peteca cair, e continuou tocando clássico atrás de clássico, como “Tietê”, “Só Armas” e “Crianças”. A banda mostrou-se afinadíssima, tocando os sons com bastante energia, sentido a vibração do público que cantava junto todas as músicas. A impressão que dá ao ouvir o 365 é que a banda possui em sua discografia verdadeiros hinos do rock paulista. As melodias soam de uma maneira tão vibrante que até quem nunca ouviu a banda se empolga com a energia e autenticidade do grupo. O show contou com a participação de Clemente, do Inocentes, dividindo os vocais com Finho na música “São Paulo”, hit da banda e que é um verdadeiro hino do rock paulista/nacional. Vale citar que Os Inocentes regravaram essa música anos atrás. Após essa participação, rolou até uma cover da clássica (e linda) música “Flowers By the Door”, do TSOL. A música parecia até ter sido composta pelo próprio 365.
A banda encerrou sua apresentação com a música “Cegos Movimentos”. Após todas as mudanças na formação do grupo, idas e vindas de seu atual vocalista e até algum tempo de inatividade durante a carreira não parecem ter prejudicado o entrosamento e a energia do quarteto. Não há nem o que dizer sobre esse show. Só posso dizer que quem preferiu ficar em casa perdeu um puta show, de uma grande banda.

Uma das lendas vivas do punk nacional sobe ao palco para encerrar a noite: Os Inocentes. Eles estão em turnê divulgando o seu mais novo lançamento, o “Sob Controle”, pelo selo Substancial Music. O frio era intenso, porém os caras trataram de esquentar a noite. É impressionante ver a banda ao vivo e perceber que os mais de 30 anos de estrada só mostram que a banda ainda tem muita lenha pra queimar. Os Inocentes tocam como estivessem subindo ao palco pela primeira vez, não param de agitar um minuto sequer. Clemente, no auge dos seus 50 anos de idade agita feito um adolescente. As músicas, hinos até hoje, são executadas de forma excelente, como se estivéssemos ouvindo um disco da banda.


Um pouco mais de uma hora de show e dava para ver fácil o sorriso estampado no rosto de todos. E a lição que levamos dessas apresentações no Aquarius Rock Bar é que ainda temos muito que aprender com esses caras. O 365 e o Inocentes estão aí, mais vivos e insanos do que nunca. Há três décadas continuam tocando com energia e muito amor ao rock.
É uma pena que poucos presenciaram esse show histórico, um dos mais legais do ano na minha humilde opinião. E se você que está no auge dos seus 30 anos de idade já se acha velho para sair de casa à noite para ir a um show de punk rock, só posso te dizer uma coisa… Vá dormir porque já está tarde! O rock aqui fora ainda está indo muito bem. E eu vi que essas lendas do rock nacional, e ao contrário de você, nenhuma delas está velha, mas sim com muito gás e com o rock correndo nas veias.
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