CHEGADA
Sábado à tarde, céu aberto e muito calor. Hora de passar na Matilha Cultural e verificar o que está rolando.
O evento Punk Donation tem como base ajudar crianças com doenças do sangue (HIV, Leucemia, etc…). O valor da entrada do show seria revertido em brinquedos para a brinquedoteca de hospitais com crianças nessas condições e como era véspera do Dia das Crianças era uma data ideal para conhecer novas bandas, trocar ideias e reforçar um pouco mais o nosso cenário tão judiado. Reunir bandas bem interessantes da cena underground em prol dessa conscientização, que já faz uma grande diferença.
Cheguei na Matilha bem fácil, o espaço está bem localizado no centro e, para quem não conhece, fica na Rua Rego Freitas, 542. O ambiente me pareceu muito bom, com diversos andares: no subsolo a exposição “Setembro Verde”, demonstrando alguns problemas relacionados a água e seu futuro não tão distante (que parece muito claro para nós nesta estiagem em SP), com a ideia de conscientização sustentável; banquinha do pessoal do “Garimpo Cultural-Corsário Discos” com seus CDs e camisetas; bar com cerveja em lata a R$ 3,00 e, para completar, uma discotecagem punk-rock. Já no andar de cima com o palco e uma área para descanso. Os outros andares estavam fechados para o pessoal das bandas (camarim).
Após tomar aquela gelada e trocar ideias com o pessoal da organização e com alguns integrantes das bandas que já estavam por lá vamos aos shows que esperamos.

SHOWS
Abertura ficou para o pessoal da Infeccion Necrozitante. Uma demora no começo por uns problemas técnicos na batera, mas depois de arrumados correu tudo “ok”. Somente com guitarrista e baterista no palco, mandaram uma sonzera foda. Vocais guturais e viradas muito roots na bateria. É muito louco de ver o que pode se fazer com apenas dois instrumentos e ainda ter uma força sonora devastadora.
Logo depois Rattu Mortu entra com seu som irreverente e experimental. Para que você tenha uma visão da coisa, tivemos músicas com uma furadeira no bloco no lugar do baixo e até um liquidificador (acho que era isso) no microfone. Da hora, o povo ficou com cara de “que porra é essa?”, mas pareciam estar curtindo. Legal essas bandas que ousam no palco.
Asteroides Trio mostra um seu som “punkabilly” fazendo todo mundo pogar na pista. Essa banda é única, quem tiver condições de ir a um show deles vá, pois ouvir punk rock com um contrabaixo acústico e guitarra acústica é uma experiência muito agradável. Destaque para o convidado especial “Barata”, do DZK, cantando a música “Somos todos inocentes”. Isso lembrou três décadas atrás, bons tempos… E a saideira foi um cover de Ramones.
Percebi um aumento de público com o pessoal, tinha uma galera do hardcore. A próxima banda O Inimigo mostra um som bem elaborado e cadenciado no hardcore moderno. Em relação a sonoridade a banda possui riffs bem definidos com sobreposições com os dois guitarras e vocais muito bem gritados. Gostei da apresentação, precisava mesmo de uma pista de skate lá, ia ficar o cenário ideal. Será que preciso dizer que a banda tem em sua formação o Juninho, do Ratos de Porão, e o Fernando Sanches, ex-CPM 22, nas guitarras? Acho que não, né?
Entra Sistema Sangria com uma porradaria nervosa. É crust, é grindcore, é crossover e punk 80. Dava para ver pela galera agitando e pirando na pista com os riffs pesados da guitarra junto com a batera insana. O som dos caras é muito bom mesmo, acho que foi o show que vi a galera agitar mais, incluindo o que vos escreve aqui. O saldo no final do show era muito suor com aquela sensação de ter exorcizado o capiroto.
Pausa para a cerva e conversando com o pessoal por ali as impressões foram bem positivas dos shows, com muitos elogios aos equipamentos e infraestrutura do local. Agora a espera das Mercenárias para fechar o dia.
As Mercenárias sobem ao palco com o apoio do “convidado/roadie/parceiro” Edgard Scandurra. Todo o público presente, mas mesmo assim não com a lotação que acreditava que iria ter, até ficou um show bem intimista. No começo com alguns probleminhas técnicos com retorno de voz e de vez em quando falha nos pedais/equipo da guitarra, mas tudo resolvido com ajuda do Scandurra, umas porradas nos pedais e uma bronca de leve no técnico. É banda grande também tem seus problemas (hehehe).
Repertório de clássicos como “Polícia”, “Inimigo” e “A Santa Igreja”. A galera toda curtindo como se entrassem no túnel do tempo e voltassem aos anos 80. Em “Me Perco Neste Tempo” o Scandurra assume a guitarra e percebe-se que a criança toca pouco né? Ninguém queria que terminasse, mas com o horário já estourado e a galera pedindo bis as meninas tocam a última e encerram o festival com aquele gostinho de quero mais.

CONCLUSÃO
O evento trouxe bandas boas, originais e interessantes, cada uma com o seu estilo dentro do underground. Mais todas demonstraram suas qualidades e, ainda mais, a vontade de mostrar a sua arte para muita gente por aí, a vontade de ajudar em muitas causas que possam beneficiar o próximo.
Em relação ao público, achei pequeno perto do que esperava. Mesmo com divulgação na rádio e na web não apareceram muitos para ajudar. Muita gente podia ter aproveitado, tirado o seu traseiro de casa, contribuído na causa e ter assistido a shows muito bons.
Mas a cena hoje em dia não é como a dos anos 80/90. Poucos ainda se prestam a fazer algo para melhorar isso. Enfim, é uma luta constante, mas ainda tem gente que faz e acredita.
Talvez você possa contribuir um pouco também, não é? Quem sabe no próximo evento nos encontramos…
Para ver mais fotos dos shows clique aqui.
Por Leo Moraes
Uma resposta
Disse tudo. De qualquer forma foi uma grande noite. Pobre de quem perdeu.