Punk, hardcore e alternativo

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Noise Free: All about the independent love

Introdução sem graça

Então tá, cadê o bilhete único? Será que perdi essa merda? Aliás, cadê a minha carteira? Saco! Onde deixei os documentos? Devem estar na mochila… Beleza, tudo aqui. O que falta pegar? A câmera e o gravador de voz, certo. Tudo guardado, bora sair de casa. Descer a rua, virar na esquina, entrar no metrô São Joaquim, fazer baldeação na estação Sé para depois descer na Marechal Deodoro, simples.

Qual o endereço mesmo? Rua Vitorino Carmilo… Pera aí, “Carmilo”? Não é Camilo? Não, não é, tá certo… É Carmilo. Tudo bem, hora de sair da estação Marechal, qual sentido? Acho que é virando à direita. Não, não era… Acho que perdi uns cinco minutos indo na direção errada. Maurício, seu burro! Vamos lá, qual o número? Bora pegar o celular de novo pra ver o número do Noise Free, 449, certo… Fácil, perto. Acho que cheguei, sim, cheguei.

Agora entra a resenha séria (?!?)

Mentira, não é resenha isso aqui. Talvez seja, enfim… Você decide. Só sei que não esperava um lugar tão grande como a Associação Cecília, sério. Que espaço! Ele fica ao lado de prédios residenciais e por conta disso entendi o motivo de só rolar shows acústicos no Projeto Noise Free. Qualquer barulho “fora do comum” no bairro deve chamar a atenção e, respectivamente, os vizinhos devem reclamar (ou chamar a polícia, vai saber). Apesar de que se eu fosse vizinho iria bater ponto na Associação. É uma casa, simples, mas uma casa grande. Difícil dizer quantos cômodos, mas é possível perceber que uma parte era destinada aos trabalhos do dia a dia da associação e a parte onde estava acontecendo o Noise Free, destinado aos eventos com palestras, workshops e, claro, shows.

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Floreosso – Noise Free

Logo de cara, antes de entrar na associação, encontrei o Rafael Pires, guitarra e vocal da banda Color for Shane, parado de pé na escada de acesso ao espaço. Não nos conhecíamos pessoalmente (só pelo Facebook) e o rapaz tinha vindo de São Bernardo do Campo para prestigiar os shows e também conhecer a associação. Trocamos um papo rápido ali na entrada e em seguida, já dentro da associação, foi a vez de encontrar o André Arvore e o Tales Lobo, da Sky Down. Porra, como falo bobagem, só sei que fiquei dando risada e contando e ouvindo “casos” do independente. Os caras me falaram da recente “viagem” que fizeram para tocar em São Carlos, no qual tinham curtido bastante. O registro desse show em São Carlos foi feito pela produtora Pé de Macaco e pode ser assistido AQUI.

Depois fui dar uma volta pelo espaço e conferir o que mais tinha por lá. Impressionante como um lugar desses pode abrigar tanta coisa legal, tinha exposição de arte, uma lanchonete, bar e até um espaço aberto para fumantes e não fumantes. Novamente encontrei o Rafael e ficamos trocando ideia sobre morar no ABC, música, shows… Durante o papo percebi que a banda Floreosso já tinha começado o seu show acústico e fomos assistir a banda.

Não era uma banda, mas um duo. Era o primeiro show da dupla e mesclaram músicas covers com próprias. Infelizmente só peguei mais a parte dos caras tocando covers, culpa minha. Até gravei um som deles tocando “Everlong”, do Foo Figthters, só conferir abaixo. Não posso definir o show como bom ou ruim, seria desonesto criticar e injusto elogiar, mas teve gente que aplaudiu bastante e até ouvi uns gritinhos (de mulheres). Ou seja, minha opinião que se foda. Quem quiser curtir a página do Floreosso (será junção de flor e osso, hummm) e ficar ligado nas novidades deles só CLICAR AQUI.

Como o Noise Free dessa última sexta-feira estava no clima de Halloween, algumas pessoas foram fantasiadas, como até o próprio evento tinha pedido. Eu fui fantasiado de mim mesmo, gordo e chato. Acabei encontrando o Caio Felipe, vocal e guitarra da Sky Down, fantasiado (ou melhor, maquiado) de Alice Cooper. Claro, vindo do Caio tinha que ter alguma relação com o rock, talvez ele tivesse vindo de Jerry Only se tivesse um pouco mais de cabelo para fazer um devilock. Não, não estou dizendo que o Caio é careca, só que sou mais o Jerry mesmo…

Mas seguindo com o relato, era hora de tacar bomba no palco do Noise Free (desculpem, não consigo evitar o trocadilho com Bombers, mesmo sendo infame). Quase não reconheci o Matheus Krempel, do The Bombers, fantasiado. Definitivamente, o clima Halloween estava no ar, não só nas fantasias, mas na forma como o palco também tinha sido decorado com abóbora e velas, além de até um diabinho de pelúcia no palco. Conto que esse diabinho quem trouxe fui eu? Não, ninguém precisa saber…

Pouco antes do show do Bombers o público começa a preencher espaço na Associação, os caras tinham terminado há pouco a passagem de som e estavam prontos para começar. Acho que vale dizer que estava ficando com fome e me falaram muito bem do hambúrguer oferecido na casa. “Como agora ou depois?”, pensei. Preferi aguardar o fim do show do Bombers para não perder um instante sequer da apresentação. E sim, valeu muito a pena essa opção.

O Bombers não é daquelas bandas antipáticas que só chegam, tocam e nem falam direito com o público. Era perceptível o prazer e a alegria do Matheus e de todos da banda em estar ali, tocando. O clima, que já era bom, ficou ainda melhor. São quase 20 anos de banda e, portanto os caras já devem ter passado por poucas e boas no underground, além da falta de estrutura e papagaiagem que existe no próprio cenário, as dificuldades comuns do dia a dia, em conciliar sua vida “normal” com a vida de músico e banda independente. E não pense você que o lançamento do álbum “All About Love” pela gravadora Hearts Bleed Blue (HBB) significa que os caras são agora do mainstream, longe disso. Os problemas continuam os mesmos, mas segundo o próprio Matheus, antes de tocar a música que dá título ao álbum, todo o amor a música e o prazer que ela proporciona são estímulos que ainda fazem continuar. Aliás, você pode conferir abaixo os caras mandando ao vivo a música “All About Love”, uma das minhas preferidas no novo álbum da banda.

Claro que a Associação Cecília é uma exceção e além de ser um lugar incrível, com uma organização muito bem feita pelo que se percebe, os shows do Noise Free trazem (ou pelo menos trouxeram pra mim) uma sensação muito diferente de qualquer outro lugar que eu tinha visitado antes. Acredito que a frase que melhor resume a sensação de estar no Noise Free e na Associação Cecília foi feita pela Gabriella Garcia (namorada do Tales Lobo). Ela simplesmente disse, e eu concordo com cada sílaba, que o “espaço parece te abraçar”. Não tenho definição melhor.

Quando o show do The Bombers terminou acredito que todo mundo deve ter pensado “poxa, toquem mais, vamos virar a noite aqui!”. Como é importante manter uma relação saudável com a vizinhança, melhor manter tudo no horário. Mas não pense você que todo mundo foi embora logo após o show, não. De lugares assim você não quer ir embora logo e fora que havia mais uma surpresa pra mim.

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The Bombers – Noise Free

Hambúrguer – um show à parte

Minha fome apertou e fui conferir o que a casa tinha de lanche, apesar de ter sido muito bem recomendado, tem certas coisas que só acredito vendo (ou comendo, especificamente falando). Era minha vez de experimentar o hambúrguer oferecido no cardápio, além de comprar uma água. Foram os R$ 18 mais bem gastos com alimentação que fiz (R$ 15, do hambúrguer, mas a água que comprei, R$ 3).

Para resumir, se você não se interessar pelos shows do Noise Free, vá pelo hambúrguer. O grande Enilson da Silva, responsável pelos lanches junto com a sua esposa Maria Ivonete, me explicou como fez o meu pedido. Ele deu uma torrada no pão e depois montou o lanche com rúcula e alface roxa, hambúrguer de fraldinha (120g) com bacon defumado, colocou duas fatias de queijo em cima do hambúrguer, uma cebola caramelizada, além de uma espetacular maionese caseira (feita com ovos, óleo, pitada de sal, pimenta do reino e mostarda Dijon). Uma delícia e que recomendo, além do papo com o Enilson, muito simpático. Vale citar que eles também servem hambúrguer vegetariano, caso alguém queira saber.

Fim!

Após comer e ainda conversar mais um pouco com o pessoal da Sky Down era hora de voltar pra casa, dei um tchau para a Mariângela Carvalho, organizadora do evento, um até logo para o Matheus Krempel e fui em direção ao metrô junto com o Rafael (Color for Shane). A sensação é que por mais que este texto busque traduzir um pouco o que foi o Noise Free, a verdade é que palavras não irão substituir jamais a sua própria percepção dos shows e do espaço em si. É importante citar, mesmo que pareça óbvio (talvez não seja) que a música independente é movida por pessoas, não só por bandas e muito menos só por organizadores e espaços, o cenário é um todo que só se movimenta com a participação e contribuição de pessoas para pessoas. Simples assim.

E é isso o que mais me agradou no Noise Free, foi perceber que ali existia algo de especial acontecendo, algo que nem sempre encontramos de forma fácil: o amor pelo que se faz, mesmo diante de dificuldades e obstáculos. Talvez isso signifique ser independente, pelo menos quem é o faz de verdade ser assim.

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