
O álbum começa e é impossível não sentir a força dos acordes. Fica claro desde o primeiro minuto da faixa “Sempre em frente” que o Mollotov Attack não está para brincadeira, mostrando que o hardcore pode até brincar e se divertir, falar de coisas mais amenas e sentimentais, mas é aqui onde o jogo vira e homens se separam dos meninos. Cultura de rua, contestação e a raiva são os combustíveis do álbum O Homem é o Que o Homem Faz.
Nascida em 2005 no berço de uma das regiões mais industriais da grande São Paulo, frutos da história de suor de muitos homens e mulheres que lutam diariamente, tornando-se assim sem imaginar engrenagens de uma ferramenta social que move a economia do estado, mas que desfrutam muito pouco de qualquer lucro e lazer que a região pode proporcionar, surge a vontade de colocar em cheque essa estrutura e desigualdade, com mensagens de protesto e resistência.

Mollotov Attack não poderia ser uma banda qualquer, só mais uma no meio de tantas outras existentes no ABC. Eles se moldaram as dificuldades, como se uma solda invisível os fundisse aos seus instrumentos. Só assim para explicar a faixa “Cultura de Rua”, que conta com a participação de Mori, do Biting Socks, diretamente de Nuevo León, no México.
São 12 anos de estrada e apesar de toda essa trajetória o Mollotov conta em sua discografia com uma demo, chamada Consequências da violência (2008) e um EP, intitulado Resistência, lançado em 2012. Mas não se engane, as participações da banda em coletâneas ou tributos é de aproximadamente uma dezena, com alguns dos trabalhos considerados de grande relevância para o cenário independente. Entre eles o Many Minds, tributo ao Nitrominds, além dos álbuns tributo ao Cambio Negro HC e SUB, todos com grande repercussão nacional.
Voltando ao Homem é o Que o Homem Faz, a faixa “Perdedor” apresenta influências do metal nos riffs de Wagner Cyco, com uma pegada bem crossover marcadas pelo vocal do Bollaxa e uma bateria sem firulas do Didi, mandando ver na mensagem direto e reto. A música conta com a participação do Fabio Godoy, do Ódio Social.
Na faixa “Escolha”, que ganhou um clipe produzido pela Insanidade Films, você poderá saber mais detalhes no primeiro dia dessa semana especial voltada para o Mollotov Attack – basta clicar AQUI.
Seguindo com a porrada, a faixa que dá título ao álbum traz o Gepeto, do Ação Direta e Letall, para tornar ainda mais pesada a mensagem: não se culpe, não procure por culpados, não se esconda. É só você quem pode tomar as rédeas da sua vida, mas lembre-se, você é aquilo que diz e faz.
Em “Guerra Santa”, que não poderia ser mais atual, representa um pouco do fanatismo religioso e das discórdias existentes no mundo causado em nome da fé. Já “Soldier Boy”, única faixa do álbum em inglês, é um pouco mais do que vimos em Guerra Santa. A diferença é que aqui falam das crianças que são convocadas (sem querer) para lutar uma guerra de orgulho entre nações.
Em todos esses anos de estrada, o Mollotov já dividiu os palcos com alguns dos principais nomes do hardcore nacional, entre eles Agrotóxico, Cólera, DZK, Rotten Flies, Gritando HC, Lobotomia, Olho Seco, Ratos de Porão, Bandanos, Forka, Paura, Test, Fogo Cruzado, além de bandas internacionais, como Muerte Lenta (Argentina), Riistetyt, Lama e Terveet Kadet (Finlândia), Overloaded (República Tcheca), Social Crisis (Chile), Killbite (Alemanha) e Simbiose (Portugal).

Todas essas experiências com as bandas mencionadas acima contribuíram para dar um show ainda mais coeso ao Mollotov. Se você já assistiu a um show dos caras ao vivo, sabe do que estou falando. Uma metralhadora sonora sem qualquer pausa para o seu fôlego. Assim são as próximas faixas do álbum: “Incentivo”, “Aliados”, “No Caminho do Lixo”, “Força Total” e “Vida Dura”. A última encerra o álbum ainda mais no alto do que no começo e você fica pensando em tudo o que aconteceu nesses quase 40 minutos de som.
O Homem é o Que o Homem Faz é definitivamente o álbum que faltava na trajetória do Mollotov Attack. Provavelmente um divisor de águas na carreira da banda, que produziu o disco com as suas próprias mãos, todo gravado no estúdio Hardcaos, em São Paulo, com mixagem no DQG, em Cabo Frio.
Daqui para frente, que o som do Mollotov alcance ainda mais contestadores pelo mundo. Compre o álbum no site Microfonia.net.