Lançado em parceria pelo selos franceses Rusty Knife e Clockwork Records, esse split reúne os indonésios do The Boldness e os brasileiros da Última Classe. São ao todo 17 canções, 9 delas pela rapaziada da Indonésia, que abrem o disco, e 8 pelos brasileiros. O bonito digipack enche os olhos e dá aquele gás na vontade de colocar a bolachinha pra girar.
O Boldness é uma banda praticante do Street punk/Oi clássico, de grupos como Cockney Rejects e Sham 69, e aborda em suas letras a temática habitual do estilo. Torcedores confessos do West Ham United (um dos mais tradicionais times ingleses e sediado na região leste de Londres), falam sobre futebol, o estilo de vida hooligan, união skinhead e deixam evidente sua postura anti-fascista. A gravação é impecável, mas deixa uma impressão de certo cuidado excessivo na mixagem, que deixou as frequências bastantes distantes, resultando num som às vezes limpo demais para o estilo, mas que não compromete em nada o resultado do trabalho.

À partir da faixa 10, chamada “É melhor se calar”, a Última Classe assume a frente da sala e dá início à aula. A banda da baixada santista, formada em 2008 e que se firma agora numa nova formação em trio com Alcides (guitarra e voz), Angelo (baixo e voz) e Bruno (bateria e voz), tem uma proposta muito clara e não abre mão de seu discurso em momento algum.
A batalha é contra a ignorância, contra a falta de cultura, contra a exploração, contra o capitalismo estúpido, contra a farsa religiosa e toda e qualquer forma de preconceito e fascismo.
“Pensamentos conservadores em letras de músicas de contestação
Até parece o que se lê na Veja, na Folha, no Globo ou no Estadão
Frases de efeito, palavrões, gritos fortes no ouvido
Defendendo o opressor, criticando o oprimido
Sua verdade é absoluta e é imposta pela violência
Sua noção de hardcore é carregada de incoerênciaNão precisamos de ‘hardcores’ pra defender a reação
Truculência, ignorância, violência, ostentação
Não precisamos de hemogenin pra assumir uma postura
Hardcore sem Punk deturpando nossa culturaMetralhadora giratória, todo mundo é bicha e vacilão
Expõe suas “ideias fortes” formadas em frente à televisão
Chama todos de ignorantes, mas não se olha no espelho
Não percebe que personifica o ignorante verdadeiro
Seu achismo burro é somado à sua prepotência
Sua noção de hardcore é carregada de incoerência”*Letra de ‘Hardcore sem punk’, décima sexta faixa do álbum

Além das letras, claro, outro grande destaque são as guitarras, que trazem um frescor ao estilo, com um timbre mais pesado que o habitual, praticamente flertando com o thrash metal em alguns momentos.
Ótimas canções, cheias de refrões pra cantar junto, backing vocals irresistíveis, ideia forte, discurso afiado e posicionamento declarado, da primeira à última faixa. Some a todas essas qualidades uma ótima gravação e está garantido um trabalho indispensável.
Coturnos, suspensórios, costeletas, moicanos, rebites e jaquetas, sejam todos bem vindos. A aula da última classe já vai começar.
Para ouvir: http://migre.me/uATcz
Confira as páginas das bandas: The Boldness e Última Classe.