Por Diana Ragnole
A bastante conhecida Bidê ou Balde, banda gaúcha da virada do século que, junto com nomes como Cachorro Grande, Pato Fu, Graforréia Xilarmônica e Ultramen, deu uma nova cara para o rock pop nacional, com composições divertidas, leves e extremamente radiofônicas, lançou ano passado o quinto disco de estúdio, o Gilgongo!. Aliás, “radiofônico” é a palavra-chave dessa resenha em questão, pois o disco Gilgongo! recebe o subtítulo de “A Última Transmissão da Rádio Ducher”, e é justamente o que ouvimos na obra.
No melhor estilo da famosa transmissão de Guerra dos Mundos em 1938, pelo cineasta Orson Welles, o disco reproduz o último programa ao vivo da fictícia Rádio Ducher, que é interrompida por uma interferência alienígena. São uma hora de músicas pontuada por vinhetas e breves comerciais protagonizados pela própria banda. Um ouvinte incauto poderia facilmente acreditar que se trata de um programa ao vivo, pois o trabalho tem toques extremamente realistas.
Os “duchers” (diminutivo para douchebags) são liderados por ninguém mais ninguém menos que Katia Suman, figura importante nas rádios porto-alegrenses, radialista cuja voz marcou o cenário do rock gaúcho. Gilgongo! conta com outras participações bastante especiais, entre elas Plato Divorak, reconhecida lenda do rock da região que, desde os anos 80, é presença recorrente em diversas bandas e projetos. Além disso, marcam presença também os músicos Pedro Dom, Renato Borghetti, Edu K e o uruguaio Gonzalo Deniz, além do grupo de rap Rafuagi. Quase todos da cena musical de Porto Alegre, o disco é recheado de referências às bandas e figuras da música da cidade, de forma que o apelo ao público da região e aos fãs do cenário musical gaúcho é bastante forte.
Conceitualmente, esse disco é bastante ousado, se comparado com os outros da Bidê ou Balde. Pelo menos, dos doze anos anteriores de lançamentos, nenhum deles tem um conceito tão bem definido e tão bem executado. Gilgongo! é uma obra com camadas e referências que só uma ouvida não é capaz de captar, mesmo que musicalmente a banda se mantenha bastante fiel aos moldes pop rockeiros que a fizeram famosa, pois o estilo casa perfeitamente com o que ouviríamos em uma rádio caso a Ducher fosse real.
Eu já trabalhei em rádio e só consigo imaginar como deve ter sido divertido conceber e gravar esse disco, principalmente todo o trabalho com as vinhetas e publicidade fake. Não deixo de pensar também que trata-se de uma homenagem ao próprio rádio, uma mídia revolucionária que hoje em dia luta para manter sua relevância num espaço dominado principalmente pela imagem. Uma mídia que foi importante para a geração dos integrantes da Bidê ou Balde, seja pela sua relação direta com a indústria musical ou até pelas rádios piratas dos movimentos estudantis e de aspirantes a DJs. Posso confirmar que ela é bastante especial, e a homenagem é muito bem vinda.
Facebook da Bidê ou Balde: www.facebook.com/bideoubalde
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