Há pouco mais de cinco meses que estou morando na região central de São Paulo. Como estou próximo de praticamente tudo, me sinto um pouco confortável. É aquela sensação de que tudo está perto, em poucos passos já estou no metrô ou cinema, o acesso a livrarias é mais fácil e os prédios ao meu redor parecem guardar pessoas satisfeitas com as suas próprias vidas. As condições que me levaram a morar na região do centro podem não interessar a todos, por isso guardo essa história para outro momento e lugar. O sentido dessa introdução virá logo mais.

Recentemente visitei meus pais na Zona Norte, num bairro chamado Lauzane Paulista. No caminho de ida fui ouvindo a banda Dirijo pelo celular. O álbum de estreia da banda é um EP que se chama “Crie este hábito”. Lançado em março deste ano e com cinco músicas, o EP mescla quase de tudo, partindo do rock roll, caminhando pelo instrumental, caindo no hardcore e mergulhando até no reggae. A banda nasceu na cidade de Campinas, seus integrantes são Alexandre Biagio (baixo e vocal), Arthur Tuco (guitarra e vocal), Felipe Cabs (guitarra e vocal) e Nê Mendes (bateria).
Cresci e vivi no Lauzane Paulista a minha vida inteira, um bairro pobre, de periferia. Na infância o nosso lazer era brincar na rua, empinar pipa e, na adolescência, cabulava aula para ficar jogando bola na quadra da escola, que obviamente era pública e muitas vezes ficava despercebido vagando pelos corredores, sem supervisão de ninguém.

A banda (Dirijo) não me trouxe a memória velhas lembranças da adolescência, mas o sentimento de urgência que existia naquele tempo. Queria ser adulto para fugir daquele lugar estranho, com pessoas que não me entendiam e conhecer o mundo. Por mais jovem que pudesse ser, sentia a necessidade de transcender aquela vida ordinária que parecia nos levar sempre ao mesmo caminho. A nossa escola não nos estimulava a pensar de maneira crítica, cabular uma aula, por exemplo, parecia uma forma de burlar o sistema que queria manter o status quo.
Coisa de velho pensar nisso? Acredito que não, revisitar um lugar onde cresci apenas me devolveu um sentimento de urgência, no qual a banda serviu como gatilho. O som visceral da Dirijo me devolveu a lembrança de algo que parecia abafado dentro de mim. Muitas vezes, o cotidiano e a rotina nos limitam a tal ponto que nos esquecemos de pensar em nos reinventar, de mudar quem somos para algo melhor, de criar novas percepções e de sentir que a vida necessita de mais para ser algo além da rotina e da obrigação.
Nascida em 2012, a banda possui influências de NOFX, Bad Religion, Led Zeppelin, Jimi Hendrix, Dead Fish, Bob Marley, Garage Fuzz, Sublime entre outras bandas e artistas que até parecem não possuir muita relação entre si, mas claro que não é necessário que haja qualquer relação. Acredito que é mais do que importante uma banda não ouvir apenas aquilo que está acostumada a tocar, mas também outros estilos e artistas, não só para ampliar o seu conhecimento musical, mas também a visão de sua própria arte.
Quando perguntei a origem do nome da banda para o Nê Mendes, ele apenas respondeu que todos os integrantes da Dirijo optaram por deixar essa questão em aberto. No entanto, acredito que é válido dizer (para quem não sabe), que “dirijo” é um nome indígena dado a planta cannabis, ou seja, maconha. Aposto que ficou difícil agora não ter pelo menos um pouco de curiosidade pelo som da banda, não é?
O belo EP da Dirijo, que traz uma capa muito interessante e criada pelo Felipe Cabs, guitarrista do grupo, é uma demonstração da força e qualidade da música independente. Realizado no estilo DIY, o álbum é uma obra-prima musical, com qualidade e produção excepcionais. Com o EP disponível para download no SoundCloud (basta clicar AQUI) a banda vem alçando voos para além de Campinas.
No próximo dia 23 de maio haverá uma apresentação do grupo no Projeto Reverbera, no evento chamado Sexta Rock & Cultura Pop, que acontecerá das 18h às 21h em frente à Casa de Cultura do Itaim Paulista, em São Paulo. O show será na área externa, de frente para a praça, e ainda contará com discotecagem e varal de poesias. A Casa de Cultura está localizada na Rua Barão de Alagoas, 340, paralela à Avenida Marechal Tito, no Itaim Paulista. Aproveite para confirmar sua presença neste evento clicando AQUI.
A banda foi capaz de me devolver um sentimento de urgência que acreditava ter ficado para traz, e isso é bom. Quando sai do Lauzane Paulista coloquei novamente o fone de ouvido e deixei que o EP da banda guiasse meus pés até a volta para casa. Dessa vez, não me sentindo mais confortável.
Confira todos os links da banda abaixo: