Transitar confortavelmente entre as mais belas melodias em guitarras limpas e cristalinas e o mais insano blast beat sem descer do salto não parece ser um problema para a Sociopata. Pelo contrário. Apertem os cintos e coloquem suas vendas, pois haverão muitos solavancos nessa viagem e o guia parece gostar bastante de surpreender seus clientes.
‘Corrosão’ é o tipo de audição que pode mudar algo dentro de você. Provavelmente vai. E dificilmente você voltará a ser o mesmo. Ainda bem. Os questionamentos vão sendo feitos e a música crescendo ao redor, hipnótica, te colocando numa espera sádica por algo que você não faz ideia do que seja. A voz de Kleber, algumas vezes um tranquilo locutor, em outras explodindo em berros, e quase sempre funcionando como mais um instrumento nas complexas construções sonoras da banda, pode muito bem ser considerada um gentil convite à loucura da busca pela verdade, igualdade, respeito e autoconhecimento nessa sociedade adoecida pelo parasitismo do sistema.
Também não se espante quando logo após um som pesado e introspectivo, com uma letra declamada quase como um poema, vier um hardcore arrasa quarteirão com letra de protesto. E toda essa imprevisibilidade se converte numa curiosidade quase vício, que te coloca naquele estado de atenção que não te deixa perder uma nota, uma textura, uma palavra daquilo que sai dos falantes.
O gosto manifesto pelas dissonâncias e escalas exóticas torna a apreciação desse trabalho ainda mais saborosa, e a dança entre as duas guitarras algumas vezes remete aos bons momentos entre Dave Mustaine e Marty Friedman, nos anos dourados do Megadeth.
Pode-se notar outras dezenas de influências no som dos caras, porém elas surgem de forma homogênea, como algo que foi absorvido e convertido em coisa nova e não como ‘homenagens’ lá e cá. A excelente gravação e mixagem também trabalham a favor do grupo. O trabalho ficou a cargo de Reinaldo Moreira do RMS estúdio.
A banda vem à São Paulo para os shows de lançamento do EP no próximo mês de julho. Tome a pílula vermelha, tire o casaquinho do armário, se junte aos outros sociopatas e vá conferir com seus próprios olhos e ouvidos.
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