Um ótimo EP, mas antes um pouco sobre o Spotify
Nesta sexta-feira, 5/2, foi divulgada a primeira edição da série de EPs que a banda santista The Bombers pretende lançar ao longo de 2021. O intuito do grupo é que o lançamento seja feito na primeira sexta-feira de cada mês, com exclusividade no Bandcamp.
A estratégia da banda se assemelha com a de outros artistas que buscam alternativas ao Spotify, com o intuito de comercializar seu trabalho de forma direta com o público, já que os royalties da plataforma acabam deixando a desejar aos músicos, que veem seu trabalho sendo consumido pela sua base de fãs, mas ganhando apenas centavos – além desses centavos serem compartilhados com as distribuidoras.
No caso do Spotify, o serviço de streaming exige que haja uma intermediadora entre o artista e a plataforma, incorrendo em taxas e percentual de todos os ganhos.
Mas, e o Bandcamp?
O Bandcamp nasceu em 2007 e aposta em um modelo muito interessante de remuneração direta, venda de produtos e aproximação entre bandas e fãs. O crescimento da plataforma durante a pandemia chegou a ser motivo de destaque em alguns veículos pelo mundo. No Brasil, matéria do Estado de S.Paulo destaca o refúgio que se tornou o Bandcamp para muitos artistas.
“O serviço americano Bandcamp pode parecer antiquado: vende discos digitais e físicos, não tem playlists e aposta na curadoria humana e na relação direta entre público e artista. Visto como um “anti-Spotify”, o serviço ganhou força durante a pandemia e viu seus negócios crescerem cerca de 70% nos últimos meses”, diz Bruno Romani, em especial ao Estadão.
A paralização dos shows devido a pandemia da Covid-19 afetou diretamente o mundo da música, principalmente os artistas independentes, como é o caso do The Bombers. A banda, mesmo com 25 anos de estrada e uma discografia elogiada e reconhecida até por prêmios e documentários, se mantém no cenário independente e continua sendo descoberta por novos públicos de forma contínua.
O Bandcamp, desde o ano passado, tem se tornado uma alternativa importante aos músicos, pois a plataforma criou uma política na qual deixa de cobrar sua comissão para ampliar os ganhos dos artistas. De acordo com o serviço, os fãs já pagaram aos artistas mais de $ 670 milhões de dólares por meio da plataforma. No primeiro mês de 2021, o Bandcamp já repassou aos músicos $ 20,8 milhões.
Ethan Diamond, fundador e presidente do Bandcamp, comenta que “o objetivo sempre foi oferecer um mecanismo no qual os fãs podem apoiar diretamente os artistas”, explica em entrevista ao jornal Estado de S.Paulo. Mas essa “fórmula” não tem sido considerada atrativa apenas aos músicos independentes. Bandas como Radiohead já hospedaram seus trabalhos na plataforma, buscando experimentações não só artísticas, como comerciais.
O último relatório do Bandcamp sobre essa nova política de dispensa da participação dos lucros pode ser consultada AQUI.
“A Morte”, novo EP do Bombers
Observando o mercado musical – tanto o estrangeiro quanto o nacional – nasceu a ideia do The Bombers em lançar seus trabalhos exclusivamente pelo Bandcamp. A ideia do grupo é casar os lançamentos em todas as primeiras sextas-feiras de cada mês, junto com o dia da dispensa na arrecadação dos lucros pela plataforma. Por isso, todas as compras de produtos da banda e realizadas no Bandcamp terá o dinheiro em sua totalidade repassado ao grupo.
Matheus Krempel, guitarrista e vocalista do The Bombers, explica que essa estratégia faz parte da liberdade da banda. “Nós sempre fomos uma banda independente, gravamos nossos próprios discos e tomamos nossas próprias decisões. De uns tempos para cá, começamos a notar uma dependência muito grande em ter de servir exclusivamente ao esquema de streaming do Spotify. Artistas grandes, com números astronômicos e artistas independentes do mundo todo, andam se queixando do repasse dos royalties. Por outro lado, a pressão por ter um número de ouvintes mensais satisfatório, começou a ficar grande e de certa forma isso estimula uma competição tóxica”, explica.
Para o vocalista, tem se criado uma cultura onde – de repente – não importa a qualidade do seu trabalho, porque o que realmente vai dizer se o seu trabalho é bom ou não são os seu números. “Isso gera uma angústia quando você não atinge os tais números esperados. Se alguém tem dúvida disso, tenta imaginar porque o Instagram deixou de exibir as contagens de ‘likes’ nas postagens. Diante desse cenário, nós do Bombers nos questionamos, vale mais a pena servir cegamente a essa máquina ou tomar uma atitude?”, diz Matheus.
O músico, que também possui um estúdio de ensaio e gravação, localizado em Pinheiros (SP), e que também foi afetado pela pandemia, destaca o que já tinha sido mencionada anteriormente pela Letty, em matéria do ano passado no Nada Pop (clique aqui para ler). “Vale mais a pena conseguir $ 3,18 por 1.000 execuções nessas plataformas de streaming ou vender um EP com três faixas por $ 3,00 no Bandcamp Friday? É simples!”.
Porém, essa é uma forma de tentar “fidelizar” o público, além de tornar os fãs parte desse processo de lançamento. “Buscamos com isso também ‘mimar’ os nossos ouvintes, dando acesso a material exclusivo e podendo participar da seleção de músicas que irão formar nosso próximo álbum cheio. A ideia é lançarmos um EP, toda primeira sexta-feira do mês, para nos beneficiarmos da Bandcamp Friday. Ao final da publicação dessa série de músicas, realizaremos uma enquete com nossos ouvintes, para decidirmos em conjunto, quais músicas formarão o disco com 12 faixas que iremos lançar em formato físico ainda esse ano”, explica Matheus.
Por que ouvir o EP “A Morte”?
A faixa que dá título ao EP começa com a seguinte frase: “Em paz não necessariamente bem. Assimilo o golpe e busco outro caminho”. Referência bastante clara ao atual momento que o Brasil e o mundo vivem com a pandemia. A reviravolta na história do The Bombers, que vem se dedicando as composições em português, surpreendem pela autobiografia e pelo interessante recorte que estão conseguindo fazer do lado humano e social de nossa realidade.
Poderíamos destacar as guitarras e linhas de baixo, a competente bateria, a sobreposição de guitarras e do vocal emocionado, além da bela versão acústica de “Ardendo em Chamas”. Mas esse trabalho vai além, não só como símbolo da liberdade artística mencionada, mas dá originalidade sem perda de raízes que a banda está conseguindo conquistar cada vez mais em seus trabalhos.
Desde o lançamento de “All About Love”, em 2014, após um hiato de mais de dez anos, o grupo tem seguido com lançamentos anuais e uma discografia que a torna distinta de outras trabalhos no cenário independente. No EP “Bumerangue”, penúltimo lançamento, o grupo encarou a língua portuguesa e colocou para fora algumas das coisas que – de certo modo – todos irão entender e até se identificar em algum momento da vida.
Esperamos que os próximos lançamentos da banda sejam ainda mais intensos e interessantes quanto esse primeiro EP de 2021. A arte de capa do trabalho “A Morte” é assinada por Nicole de La Taille. A faixa que batiza o EP foi produzida, mixada e masterizada por Estefan Ferreira. Já “Smiling (21st century)” foi produzida por Estefan Ferreira e mixada e masterizada por Gustavo Trivela; “Ardendo em Chamas (Acústico)” foi produzida, mixada e masterizada por Gustavo Trivela.
EP conta com as participações de Amauri Meireles (guitarra na faixa 2), Wagner Tick (guitarra na faixa 2), Daniel Vicari (vocais de apoio na faixa 2). O The Bombers é formado por Matheus Krempel (voz e guitarra), Gustavo Trivela (guitarra), Raul Signorini (baixo e voz de apoio) e Estefan Ferreira (bateria e voz de apoio).

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