Diablo Angel é uma banda com origem em Pernambuco, estado de sigla PE (não confundir com PB), que recentemente lançou seu terceiro álbum de estúdio intitulado “O Que Te Dá Prazer”. Falamos desse trabalho há poucos dias em uma resenha que pode ser lida clicando AQUI. Formada atualmente por Kira Aderne (vocal e guitarra), Nívea Maria (vocal e teclados), Tárcio Luna (guitarra) e Vitor Lima (bateria) – se quiser, siga o perfil de todos eles clicando em seus nomes – eles estão na estrada há bons anos e figuram entre as bandas alternativas mais interessantes do nordeste do país.
E quando dizemos “alternativo” entenda como rock, indie, post punk e eletrônico. Ou seja, tudo o que eles quiserem, mas sem perder suas raízes e muito menos suas identidades. Cabe aqui um reconhecimento de que nós, sulistas, falhamos muito em reconhecer bandas de outras regiões do país. Principalmente da região norte e nordeste. E não adianta culpar as distâncias, não em um mundo pós-moderno e cheio de possibilidades de informação e comunicação. Mas vamos deixar esse papo um pouco para depois.
“Ter uma banda para os meninos é uma espécie de clube fechado”
O objetivo dessa vez é revelar um pouco das influências musicais da vocalista e guitarrista Kira Aderne. Em um bate-papo rápido, ela nos contou que desde a adolescência se dedica a duas atividades principais: música e o estudo da língua Inglesa. Tanto que essas duas frequentemente se encontram, tanto com a Diablo Angel quanto em sala de aula.
Entretanto, antes de pegar na guitarra por volta dos 14/15 anos, já era aquela menina que cantava em festinhas de criança sempre a capela. Em seu repertório não faltavam artistas como Marisa Monte e Guilherme Arantes. Parece estranho para quem hoje se envolve com guitarras e rock, certo? Mas não, pois desde a adolescência queria tocar em bandas. Infelizmente os convites eram praticamente nulos pelo fato de ser uma “mina”. Como ela mesma diz: “Ter uma banda para os meninos é uma espécie de clube fechado”.
Os acordes iniciais em Caruaru
No entanto, tudo isso mudou quando um amigo, Gustavo Almeida, se tornou seu primeiro parceiro musical. Um detalhe: Gustavo é neto de Onildo Almeida, compositor de músicas que ficaram famosas na voz de Luiz Gonzaga, como “A Feira de Caruaru”. Kira e Gustavo tocaram juntos por muitos anos, marcando definitivamente sua entrada na música e a sua exposição como cantora e compositora, realizando shows pelo interior de Pernambuco. Kira nos conta que nessa época ainda morava em Caruaru. Hoje, ou atualmente, ela está em Recife.
Pernambuco e o Manguebeat
Um detalhe curioso é que neste ano é celebrado os 30 anos do movimento Manguebeat ou, como também é conhecido, do Manifesto Mangue. Esse movimento foi um verdadeiro divisor de águas no cenário musical do país. Foi criado em Recife, na década de 90, sendo liderado pelo cantor e compositor Chico Science. Além de reunir elementos da música nordestina, também traz o rock, o hip-hop e até música eletrônica em sua sonoridade. Foi algo totalmente inovador para a época e que marca gerações até hoje.
Kira, junto com a Diablo Angel, estão participando dessa celebração aos 30 anos do movimento que, como ela mesma explica, tem profunda influência em todas as bandas de Pernambuco que vieram depois. “Dengue, baixista da Nação Zumbi, curtiu muito o novo disco e vem indicando a banda para produtores e pessoas do meio. Cannibal, da Devotos, sempre apoiou o trabalho que a gente faz. Eu, pessoalmente, me identifico muito com o a ideia do mangue, de valorizar esse bioma que faz parte da nossa identidade local. Mas gostaria de exaltar o movimento além da música, trazendo também a necessidade de proteção ambiental desse bioma tão castigado”, comenta a vocalista.
Ela explica que a faixa “Quero Que o Mundo Se Importe”, desse último álbum da banda, possui uma relação direta com esse sentido de cuidado com nosso ambiente. “Se importe também em proteger o meio ambiente, o mangue, para a proteção da humidade, de todos os seres vivos e de todo o planeta. Não consigo pensar em nada mais importante que isso”, finaliza.
Os 10 Álbuns de Kira Aderne (Diablo Angel)
1 – CHICO SCIENCE & NAÇÃO ZUMBI – AFROCIBERDELIA (1996)
Um verdadeiro clássico da música pernambucana. Um disco cheio de elementos, cheio de misturas. Os elementos eletrônicos combinados com as guitarras de Lúcio Maia são o grande fator de influência pra gente.
2 – DEVOTOS – PUNK REGGAE (2022)
Outra banda pernambucana e esse lançamento de 2022. Um disco interessantíssimo também com produção de Pedro Diniz, nosso produtor em “O Que Te Dá Prazer”. Além das programações desse disco, a temática social das letras de Cannibal é um grande fator de influência. Vide a nossa canção, o single “Quero Que o Mundo Se Importe”.
3 – JOY DIVISION – UNKNOWN PLEASURES (1979)
Disco clássico do rock inglês e grande influência em especial no uso de sintetizadores.
4 – MUNDO LIVRE S/A – WALKING DEAD FOLIA (2022)
Lançamento de 2022. Um disco que tem a temática da pandemia, mas a influência vai além do tema. Também produzido por Pedro Diniz, que é baixista da banda, o disco traz sintetizadores, programações e com certeza referência pra gente.
5 – DANI CARMESIM – RESUMO DA ÓPERA (2021)
Disco da minha contemporânea, a artista pernambucana Dani Carmesim traz rock pernambucano feito por mulheres. Um disco que traz rock, pop, sintetizadores e que tive o prazer de participar na faixa “Over and Over”. Definitivamente, um disco referência pra gente de 2021.
6 – RADIOHEAD – IN RAINBOWS (2007)
O disco que mais me identifico do Radiohead. Mistura de eletrônicos e guitarras em perfeição. Um disco que fala de amor e de um amor impossível.
7 – LOS HERMANOS – VENTURA (2003)
Um disco que escutei muito no passado. A meu ver, o melhor álbum da banda. Quando compus a canção “Dois” lembrei imediatamente desse disco.
8 – DEVOTOS DO ÓDIO – AGORA TÁ VALENDO (1997)
O primeiro disco da banda que hoje se chama só Devotos. É grande referência em guitarras, em sonoridades e também em letras. A canção “C.O.S.” desse disco que discorre sobre proteção do meio ambiente é referência fundamental.
9 – HOLE – CELEBRITY SKIN (1998)
Lembrei muito desse disco quando fiz “The Sun is Shining On Me”. Acho que remete a essa sonoridade solar que esse disco também traz.
10 – PORTISHEAD – DUMMY (1994)
A canção “Glory Box” desse disco foi uma das que escutamos na pré-produção de “O Que Te Dá Prazer”. Uma canção protagonizada por uma mulher e muito potente.
Uma resposta
Viva o Nada Pop!!