Carlos Eduardo Freitas é um músico experiente que, além de guitarrista do Combover e do Orange Disaster, também é sócio do Estúdio Aurora, em São Paulo. Ele é o nosso 42º convidado para esse especial que volta a partir de 2019, aqui no Nada Pop, para apresentar um pouco das experiências musicais que ajudaram a moldar o gosto e a percepção sobre a música de alguns artistas e produtores, mesmo que esse seja um processo contínuo para todo fã de música.
“Difícil escolher dez discos, só dez, seja lá qual for o critério. Os dez listados abaixo não são exatamente os melhores que já ouvi, nem meus favoritos de todos os tempos. São discos importantes para minha formação musical e que, de alguma maneira, me abriram universos e horizontes antes inexplorados para mim”, explica Carlos no começo dessa conversa.
Como a maioria dos entrevistados, Carlos explica que muitos outros discos poderiam ter entrado nessa lista. “Ficaram de fora bandas essenciais para mim, como Black Sabbath, AC/DC, MC5, Pixies, Black Flag, Devo, Smashing Pumpkins e Sex Pistols, por exemplo”, diz.
Mas são as conexões que fazemos ao longo da nossa existência, com cada álbum e artista nos apresentado, que nos leva para outros álbuns e artistas que se somam ao nosso gosto particular. Sócio de um dos estúdios cada vez mais em ascensão na cidade, conhecido por muitos músicos apenas como o Aurora, palco inclusive para shows – alguns memoráveis, Carlos resume muito bem o significado dessa lista. “Não fossem esses dez discos que listei abaixo, provavelmente não conheceria nenhuma dessas bandas que ‘esqueci’ e algumas que são listadas”.
042 – Os 10 álbuns de Carlos Freitas, do Combover, Orange Disaster e Estúdio Aurora
01 – Nirvana – In Utero (1993)
Não sei descrever a sensação de ouvir “Rape Me” pela primeira vez, nem a estranheza de escutar aqueles riffs esquisitos, a bateria poderosa e aquele vocal rasgado no carro dos pais de dois amigos, o disco naquele dezembro de 1993. Eu nunca mais fui o mesmo depois daquele momento. E provavelmente jamais teria encostado as mãos numa guitarra se não fosse por esse disco.

02 – Ramones – Brain Drain (1989)
Não é meu favorito deles, nem de longe. Clichê, eu sei, mas os quatro primeiros são os que mais gosto. Não fosse pelo disco de “Pet Sematary”, eu talvez teria demorado para chegar ao essencial. Mesmo assim, “I Believe in Miracles”, “Zero Zero UFO”, “Ignorance Is Bliss” e “Learn to Listen” tocam com frequência nos meus fones.

03 – Iggy & the Stooges – Raw Power (1973)
Costumo saber de cara se gosto de uma música se tenho vontade de tocar guitarra quando a ouço. No caso de Raw Power, a vontade é de tocar o disco todo o dia inteiro. Adoro ainda mais a polêmica de que as mixes do Bowie são ruins e o papo de que são uma “aula do que não se fazer”. Azar de quem não consegue apreciar.

04 – Queens of the Stone Age – Rated R (2000)
Foi o disco que me apresentou ao mundo do Josh Homme, hoje um dos meus guitarristas e produtores favoritos. Lamento não ter conhecido antes e ter ouvido o primeiro na época de seu lançamento. Ou por não saber da existência do Kyuss. Antes tarde do que nunca. Mesmo tendo perdido o show deles no Rock in Rio 2001 (só ouvi “Lost Art of Keeping a Secret” na semana seguinte), agradeço por viver na mesma época em que esses caras.

05 – Motörhead – Ace of Spades (1980)
Quando resolvi aprender a tocar um instrumento, aos 13 anos, escolhi o baixo, Queria tocar Nirvana e Ramones. Hoje, adulto, quero que meu baixo soe como o Rickenbacker do Lemmy nesse disco. Não só o timbre, mas o jeito de tocar. Parece um guitarrista tocando baixo. E o disco? “Ace of Spades”, “Love Me Like a Reptile”, “(We Are) The Road Crew” e “The Chase Is Better Than the Catch”, a mais sincera música de amor já escrita. Obra-prima do começo ao fim.

06 – Metallica – Kill’Em All (1983)
Não é o melhor disco deles, mas é o meu favorito. Thrash Metal rápido, beirando o punk, pé no Motörhead, timbres toscos, vocal mal cantado. James Hetfield nunca mais foi o mesmo depois que aprendeu a cantar.

07 – R.E.M. – Monster (1994)
Depois da overdose de pop dos hits Losing My Religion e Shiny Happy People, um disco completamente diferente de tudo o que eles já tinham feito. Timbres de guitarra lindíssimos, riffs simples e diretos, e belíssimas canções. Não canso de ouvir e de aprender com o Peter Buck, sobretudo ouvindo esse disco.

08 – Bad Religion – Stranger than Fiction (1994)
Entre 1995 e 2001, viúva de Nirvana que era, ouvi muito Bad Religion. Tudo por causa do clipe de “Infected”, que me viciou na música, no disco e na banda. Passo muito tempo sem ouvir a banda hoje em dia, mas é impressionante como, quando resolvo escutar esse disco de novo, sei todas as letras de cor. E o quão bem me faz ouvir todas as músicas, inclusive as mais obscuras.

09 – The Orange Disaster – We Will Conform! (2011)
Por muito tempo, totalmente por falta de informação ou por não ter quem me mostrasse o caminho, fiquei sem saber o que rolava na “cena” brasileira e paulistana. Minha amiga Gao Nagao me arrastou uma vez para um show deles na Casa Mafalda e fiquei bobo com o que vi. Som cru, timbres podres, riffs simples e diretos ao ponto, além de um vocal arrasador do Júlio. E sem baixo. Foi paixão à primeira vista. Algumas semanas depois o Davi me deu a cópia do disco, que não saiu mais do meu mp3 player. Qual não foi minha surpresa quando, meses depois, o Vini me convidou para substituí-lo na banda enquanto ele fazia faculdade. Só tenho a agradecer à Gao por ter me apresentado ao Orange e à banda por tudo de bom que tem me proporcionado.

10 – Hot Snakes – Suicide Invoice (2002)
Provavelmente o disco que mais ouvi nos últimos três anos. Rock enérgico, guitarras dissonantes, linhas diferentes e complementares, melodias estranhas, além do vocal desesperado do Rick Froberg. Não conheço uma banda similar que me agrade. Daria um rim para vê-los ao vivo.
