Punk, hardcore e alternativo

Trabalhadores Pirelli, em 1920 - Foto: Arquivos da Revista MORTAL
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Festival relembra 100 anos da morte de jovem anarquista no ABC Paulista

Trabalhadores Pirelli, em 1920 – Foto: Arquivos da Revista Mortal

Constantino Castellani, jovem criador da Liga Operária e assassinado há um século no ABC paulista, ganha série de homenagens com jornal, documentário, festival de música, filme e HQ

No dia 05 de maio, a partir das 11h da manhã, no calçadão da rua Coronel Oliveira Lima, no centro de Santo André (SP), mais de 10 bandas se apresentarão no festival musical Constantino Castellani. O evento marca os exatos 100 anos da morte de Constantino, jovem assassinado enquanto liderava passeata de trabalhadores.

Um dos shows confirmados é o da banda Krias de Kafka.

Organizado pela Revista MORTAL e pelo Coletivo Estranhos Atratores, a atividade reunirá as bandas Alcoóliques, Krias de Kafka, Take 9001, Sentimento Carpete, Giallos, Avante, Special Cigarretes, Copo largo, Giant Jellyfish, Punk Canibal, Projeto Nave, Gisele Maria e Cláudia Lima, entre outras atrações que serão confirmadas nos próximos dias.

ANO CASTELLANI

Rauda Glaco, editor da Revista MORTAL.

O festival é mais uma das atividades que serão desenvolvidas durante o ano de 2019 pela Editora Estranhos Atratores e Revista MORTAL. Durante o “ano Castellani”, serão realizadas uma série de ações culturais que lembrarão os 100 anos de assassinato do jovem anarquista.

Constante Castellani, chamado de Constantino pelos seus colegas, tinha 18 anos quando, com outros companheiros, fundou a Liga Operária – uma espécie de central anarcosindical que congregava várias profissões como canteiros, sapateiros, tecelãs, marceneiros, chapeleiros etc. – e rebelou-se contra a exploração dos patrões, liderando uma manifestação de trabalhadores da tecelagem Ypiranguinha, exigindo redução da jornada, melhores salários e condições de trabalho. O episódio culminou com sua morte.

Crianças de 7 anos trabalhando em cantaria – Foto: Arquivo Revista Mortal

O pesquisador Jairo Costa, Editor da Revista MORTAL e idealizador do projeto, conta que descobriu a história de Constantino enquanto realizava investigação sobre movimentos políticos no ABC no início do século XX.
Costa relata que na fábrica Ypiranguinha os operários, em alguns casos, eram obrigados a cumprir até 16 horas de trabalho, submetidos a constantes espancamentos e impedidos até de utilizar os banheiros da fábrica. Outra situação clássica de exploração era a das famosas dívidas contraídas nos armazéns e quitandas da fábrica. Os trabalhadores consumiam nestes estabelecimentos, suas dívidas ficavam enormes e o patrão transformava aquilo numa forma de segurar, sequestrar, escravizar o operário, exigindo que trabalhasse mais e não permitindo desligamento da fábrica até que a dívida estratosférica fosse quitada.

Fábrica Ypiranguinha nos anos 1950 – Foto: Arquivo Revista Mortal

Contra todas essas injustiças, Constantino Castellani e seus companheiros da Liga Operária organizaram ato para o dia 5 de maios de 1919, que começou às 5 da manhã, e aglutinou mais de 500 operários entre mulheres, crianças e idosos, saindo em passeata pelas ruas de Santo André até chegar ao centro da cidade, na rua Oliveira Lima. Lá, em frente à fábrica de cadeiras Streiff, enquanto Castellani discursava pedindo a adesão de mais trabalhadores à manifestação, um tiro de fuzil disparado por membro da força pública cruzou a multidão, atingindo em cheio o coração do anarquista, que morreu instantaneamente.

Fabrica Streiff no início do seculo XX. Castellani foi assassinado em frente a essa fábrica no dia 05 de maio de 1919 – Foto: Arquivo Revista Mortal

A morte de Constantino Castellani causou comoção geral e a região viveu três dias de caos. Os operários tiraram o corpo de Constante das mãos da polícia e o levaram para o barracão da Liga Operária, atraindo milhares de pessoas para seu velório e sepultamento, sendo o maior séquito daquela época. O delegado Henrique Villaboim, que mandou prender o atirador logo após o incidente, foi misteriosamente demitido do cargo. O prefeito da cidade na época, Sr. Saladino Cardoso Franco, desapareceu dos eventos públicos com medo da população. Após o enterro do anarquista, dezenas de prisões foram realizadas por todo o ABC, o barracão da Liga foi novamente destruído e aquela organização foi proibida de atuar por cerca de dez anos.

Alcoóliques também é uma das bandas confirmadas para o festival.

Legítima defesa: o julgamento do soldado José Bernardino de Araújo, assassino de Constantino, ocorreu tempos depois e o militar acabou sendo absolvido por unanimidade. Em sua defesa surgiu uma versão dos fatos sucedidos na passeata do dia 5 de maio de 1919 em que Castellani é acusados de supostamente arremessar um tijolo contra a força pública, motivando assim a reação (desproporcional) de Araújo. No entanto, o tesoureiro da Liga Operária, Natalino Vertematti, que estava ao lado de Castellani na hora do tiro, negou qualquer ação agressiva do líder da Liga contra a força pública. A maioria dos “cabeças” da organização anarquista foi presa e torturada após o assassinato de Constantino. Muitos operários estrangeiros que militavam na organização sindical e trabalhavam na tecelagem Ypiranguinha foram presos e mandados para a Ilha Grande (RJ); outros com menos sorte, como foi o caso de Alexandre Português, foram deportados, banidos do país por sua ideologia.

Sentimento Carpete também participa do festival.

CASTELLANI VIVE

Passados 100 anos desses fatos, Costa diz que a história de Constantino merece ser apresentada para as novas gerações, principalmente agora que o país precarizou de forma completa as leis trabalhistas, a organização sindical está mais uma vez ameaçada e a aurora autoritária renasce no país.

O editor da Revista MORTAL afirma que Castellani ressurge um século depois como novo ícone de luta: “Constantino Castellani volta para inspirar uma nova geração de inconformados com o sistema! Ele foi um verdadeiro protopunk lutando contra os coronéis e o capital”.


Revista A Plebe

Para marcar o centenário de morte do primeiro rebelde do ABC, uma série de ações estão sendo desenvolvidas, com destaque para o lançamento do jornal pirata “A Plebe” sobre a história de Castellani e do Anarquismo na região.

O novo “A Plebe” é uma publicação inspirada no periódico de mesmo nome que circulou no país no início do século passado e uma homenagem da Editora Estranhos Atratores aos primeiros jornalistas de mídia independente do Brasil, Fábio Lopes e Edgard Leuenroth.

Imagem da camiseta Castellani, além de um lambe, criado pelo artista Flávio Grão.

A primeira obra em homenagem a Castellani já está em circulação: um cartaz e camiseta feitos pelo artista plástico Flávio Grão, que apresenta Constantino diante da fábrica onde foi assassinado em 1919.

Além do festival, estão em fase de desenvolvimento uma história em Quadrinhos, o debate “Anarcosindicalismo nas fábricas do ABC no princípio do século XX”, fixação de placa-homenagem alusiva ao centenário de morte de Constantino, criação do prêmio Constantino Castellani, produção de um vídeo ficcional e um documentário sobre Constantino, uma ação de dança de rua, produção de pôsteres, site e livro.

SERVIÇO

Festival Constantino Castellani
Quando: 05 de maio de 2019 – 11h.
Local: Rua Coronel Oliveira Lima S/N.
Contato: revistamortal@gmail.com ou estranhosatratores@gmail.com

Para mais informações, também é possível acessar a página do evento no Facebook clicando AQUI.

Artistas e ativistas envolvidos no Ano Castellani: Izabel Bueno, Daniel Tossato, Ana Mesquita, Flavio Grão, Larissa Paz, Soraia Oc, Daneil Melim, Luiza Maninha Teles Veras, Marcos Imbrizi Rodrigo Tamassia, Bandas: Krias de Kafka, Sentimento Carpete, Giallos, Take 9001, Bar Red Light Duplex, Rodrigo Pinto.

Por Rauda Graco

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