Entre o ano de 2018 e 2019, a banda Terror Revolucionário, de Brasília, se lançou na estrada e percorreu três países da América Latina. O grupo de hardcore/crust passou pelo Chile, Argentina e mais recentemente pelo México.
Em uma série dividida em três partes (atos), vamos publicar os diários de estrada da banda, na visão do guitarrista Barbosa, começando pela turnê no Chile em março de 2018. Posteriormente, será publicada a mini tour do grupo na Argentina em 2019, encerrando com o diário de estrada no México, em agosto de 2019.
Mais uma banda apresentando o seu diário de estrada aqui no Nada Pop, falando sobre as aventuras de bandas brasileiras em tours por terras estrangeiras. Bandas como Statues on Fire e Desacato Civil já contaram suas experiências no site.
TERROR REVOLUCIONÁRIO NO CHILE
Por Thiago Cardoso (Barbosa Osvaldo)
Data: 23/03/2018 (sexta-feira) – Santiago/ Chile
Exatamente 9 meses após a inesquecível viagem à Europa para nossa primeira tour fora do país (23/06/2017), partimos para o Chile para fazermos 3 shows num fim de semana. Essa mini tour já estava programada há alguns meses, logo quando chegamos da tour europeia levantamos essa possibilidade de ir ao Chile. A iniciativa partiu do Fellipe CDC, que em uma de suas viagens pelo Chile conheceu o pessoal da banda A Sad Bada e propôs um intercâmbio.
CDC tem três bandas, mas não sei porque cargas d’água Terror Revolucionário entrou na fita. Sorte nossa! Gostamos muito de tocar e tomamos o gosto por viajar com a banda. Na verdade, sempre gostamos de viajar, mas as oportunidades para realizar uma viagem desse tipo apareceram depois de 18 anos de banda.

Nos encontramos bem cedo no aeroporto, às 5h já estávamos despachando as bagagens. Nosso voo teve uma escala em Guarulhos/SP e depois de sobrevoar a Cordilheira dos Andes, chegamos em Santiago por volta de 15h. Esperamos por mais de uma hora na fila do controle migratório e para pegar as bagagens. Lá fora já nos esperava o Gastón, nosso anfitrião. Ele veio nos buscar no seu furgão preto que usa para carregar a banda dele e os equipamentos. Esse seria nosso carro para fazer as pequenas viagens pelo Chile. Mas logo após sair da área do aeroporto, o carro deu uma pane e ele encostou na primeira oficina que apareceu no caminho. Saía fumaça do motor pelo painel do carro. Uma merda isso. Ficamos parados por mais de três horas nessa oficina para ele tentar resolver o problema. Fui a pé junto com o CDC num shopping próximo para cambiar real por alguns pesos chilenos e comprar algo para comer. Quando retornamos o carro parecia já estar pronto e o pessoal (Gastón, Jeffer e Adriana) já nos esperava. Partimos, e o carro não andou 10 min e deu pau novamente. Fudeu! Teve que acionar o guincho da rodovia que nos levou, dentro do furgão guinchado, até um posto de combustível próximo para trocar pelo guincho que o Gastón teve que contratar e ali fomos dentro do furgão até chegar ao quartel general da banda A Sad Bada na capital chilena. Perdemos muito tempo com essa pane, e já chegamos lá de noite. Foi só conhecer o restante da galera, dar uma pequena pausa e ir para o local do show que por sorte era bem próximo do QG dos caras. Esse QG é uma casa grande e ali se reúnem com os amigos, tem uma sala de estúdio, guardam os equipamentos da banda e recebem seus convidados. Tivemos um quarto para ficar por esses dias e lá nos espalhamos.

Esse primeiro show aconteceu no Bar La Konsulta. Esse pico lembra demais um Squat europeu. Ficava ao lado de uma casa de show de striptease, e a entrada parecia de uma sobreloja da W3 Sul, e ficava um cara na entrada controlando a entrada, e a porta do local ficava fechada. Chegava alguém, falava com ele, se identificava e pagava, abria a porta e entrava. Sem nome do local, e sem identificação nenhuma que ali aconteceria um show. O espaço parecia uma casa, bem velha, o palco apertado ficava na sala, e tudo bem escuro, mas muito louco. Demorou demais pra começar, já era tipo meia noite quando começou a primeira banda. E estávamos cansados pra caralho. Aquela canseira de acordar cedo, viajar e não dormir nada. Conhecemos o Giovani da banda Teogonia, que foi o organizador do show em Valparaíso que rolou no domingo. Nessa noite tocaram Teogonia, A Sad Bada, Sobras Del Descontento. Público razoável. Tocamos muito cansados nessa noite, já eram quase 3h da madrugada. Mas foi legal demais conhecer os caras das bandas e o público. Voltamos pro QG A Sad Bada.
24/03/2018 (sábado) – Santiago/Chile
Ainda na sexta-feira à noite ficamos sabendo que o show que aconteceria sábado, 24/03, na cidade de Curicó teve que ser cancelado devida a pane do furgão que levaria nós do Terror Revolucionário e os equipamentos das bandas. Todos lamentaram esse ocorrido. Para compensar, conseguiram encaixar a gente num show metal que rolaria em Santiago nesse mesmo dia.
Achamos tranquilo e entendemos bem a situação. Aproveitamos o dia para passear por Santiago com a companhia do Gastón. Desde o primeiro momento pelas ruas, até mesmo com o carro quebrado na oficina logo após termos chegado de viagem, constatamos que o Chile tem muito rockeiro. Por todo tempo encontra-se gente vestida com camiseta de banda pelas ruas. Muito legal isso.

Fomos para o Centro Cultural Franklin, local onde tocaríamos o segundo show, novamente em Santiago. Mesmo esquema da noite passada: um cara na porta, a pessoa se identifica, entra e fecha a porta novamente. Tinha já umas 6 bandas no lineup + Terror Revolucionário e A Sad Bada, incluídos de última hora. Inclusive as duas bandas ficaram por último para encerrar o evento. Logo quando chegamos foi perceptível ver que o negócio estava meio bagunçado. Bandas tocando o tempo que quisessem e demorando uma eternidade para começar, público que acompanhava determinada banda e ao final do show dos amigos se retirava. Fui com o CDC fazer um lanche na rua e dar uma olhada na redondeza, que não tinha porra nenhuma de interessante. Voltamos e as bandas insistindo em shows longos e chatos pra caralho. Foi sofrido aguentar aquele tanto de bandas na noite. Tinha uma banda black metal bem performática e com o palco cheio de adereços, mas no todo, achei tudo ruim e chato pra porra. Deu meia noite, e enfim deu a hora de tocarmos pra quase ninguém. Quando vamos no palco, chega um cara falando que já estava tarde e o show estava encerrado, que nenhuma banda tocaria mais. Foi uma merda isso. Fiquei muito puto. Voltamos pro QG A Sad Bada.
25/03/2018 (domingo) – Valparaíso/Chile
Após a frustrante noite passada, esse dia tinha tudo para ser legal e assim foi mesmo. Gastón conseguiu um carro emprestado de parentes dele, e nos levou para Valparaíso que fica distante uns 100km da capital chilena. Saímos pela manhã, viagem bem tranquila. Os demais integrantes da banda dele iriam mais tarde em outro carro. Demos um rolê massa pelas ruas de Valparaíso, fomos no porto, subimos o morro com o bondinho, vimos vários cartazes de shows pelas ruas, inclusive o que iríamos tocar. Tiramos várias fotos, batemos um rango massa. No final da tarde fomos para o Sub Valpo, local do show. Um porão antigo, com cheiro de mofo, que um dia já funcionou uma casa de shows e festas. Giovani RH foi o organizador. Tocaram as bandas Karadima, Teogonia, A Sad Bada e a gente. Tinham uns punks que foram de carona de Curicó para Valparaíso para curtir o show. Essa galera vinha do sul do Chile para ver o show em Curicó, e por conta do cancelamento, deram um jeito de cair pra Valparaiso. Muito foda!

Esse show foi bem melhor que Santiago. Agora já não estávamos moídos, e o show foi legal pra caralho. Cervejas artesanais, local alternativo, público massa. Galera agitou legal. Nos despedimos do pessoal e demos uma esticada rápida até Vina del Mar pro Jeffer molhar os pés nas águas geladas do Pacífico. De volta a Santiago, voltamos pro QG e ficamos conversando com os novos amigos.
Foi um rolê curto, mas bem legal. Circuito pequeno e bem underground. Esperamos a visita da banda A Sad Bada logo em breve pelo DF e cidades próximas. Eles tocam um doom metal muito bem executado, com músicas bem longas e atmosféricas.
Voltamos na segunda-feira, 26/03. Deu tempo apenas de comprar uns vinhos no supermercado para trazer à Brasília. Pegamos um Uber para o aeroporto e fizemos o mesmo trajeto por Guarulhos/SP até Brasília. Escala apertada pode dar zebra e assim foi. Perdemos a conexão e nos colocaram num outro voo para Brasília. Sem grandes problemas… apenas um atraso na chegada. Valeu demais a experiência pelo Chile!