Punk, hardcore e alternativo

Contrabaixo SX Vintage, do Élio Burantini, da Caffeine Blues. O instrumento foi roubado no início do ano.
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Precisamos falar sobre isso: roubo de instrumentos musicais

Contrabaixo SX Vintage, do Élio Burantini, da Caffeine Blues. O instrumento foi roubado no início do ano.

Reportagem por Maurício Martins e revisão do texto por Lupa Charleaux

Quando o pesadelo vira realidade…

Pesadelo de qualquer músico, ter seu instrumento roubado envolve mais do que apenas prejuízos financeiros. Há ainda o transtorno pessoal, pois além de responsável por traduzir ideias e pensamentos em forma de música, existe o laço afetivo envolvido com o instrumento que se mistura com a própria história individual.

“Ela virou minha parceira da vida inteira, fez um monte de turnê, gravou um monte de disco, já fui casado e me separei duas vezes e ela tá aqui do meu lado”, explica Jão, do Ratos de Porão, em entrevista para o Nada Pop. Ele ganhou sua guitarra Les Paul de Herbert Vianna (Os Paralamas do Sucesso); até pensa em aposentar ela e deixá-la em casa. Mas ela é “guerreira”, como ele mesmo diz. Esse é apenas um exemplo da relação de proximidade que um instrumento pode ter.

Mesmo chateado por relembrar o furto do seu contrabaixo, Jairo Fajer, da banda paulista Sheila Cretina, conta detalhes do que aconteceu. “O roubo rolou na virada do dia 1 para o dia 2 de maio de 2015, no centro do Rio de Janeiro. Fomos tocar em uma casa frequentada e querida por muitos amigos, que nos recebeu bem, uma casa underground na Rua da Constituição. Ao terminar o rolê, nos foi aconselhado não sair com equipamento nas mãos pelas ruas do centro às quatro da manhã. Deixamos os instrumentos dentro da casa fechada. No dia seguinte, quando voltamos para buscar, meu baixo havia sido subtraído dos nossos equipamentos”, lembra.

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Contrabaixo Fender Precision, do Jairo Fajer, da banda Sheila Cretina. O instrumento foi furtado dentro do Escritório, espaço para shows e gravações no Rio de Janeiro, em, maio de 2015. Até o momento o baixo não voltou para o Jairo.

O espaço citado pelo Jairo se chama Escritório, que além de shows também realiza gravações de bandas. Entramos em contato com a casa para saber quais foram as medidas tomadas após o furto, se foi feito o Boletim de Ocorrência por parte dos representantes do espaço e se sentiam responsáveis de alguma forma pelo prejuízo causado ao Jairo. A casa se limitou a dizer que não fizeram B.O. e que depois desse episódio investiram na segurança do local. A casa não respondeu, até o momento, a respeito do motivo de não terem avisado a polícia sobre o furto do baixo.

O preço de um resgate

O caso apresentado pelo Jairo ainda envolve a dificuldade em adquirir um bom instrumento e o tempo que muitos músicos levam para comprar seu equipamento. “Esse baixo roubado era meu sonho realizado. Um Fender Precision Bass Americano branco, com escudo preto, aquele clássico eternizado entre outros por Sid Vicious. Trabalhei dobrado (dois períodos) de garçom por meses para conseguir comprar esse baixo no carnaval de 2012”, conta.

Infelizmente, mesmo com a realização de um Boletim de Ocorrência, Jairo não obteve nenhuma informação do paradeiro do baixo. Tentou ajuda nas redes sociais, compartilhando a foto do instrumento e sua história, mas até o momento sem sucesso.

No caso do Lalo Tonus, da Statues on Fire, sua história obteve um final feliz. Mas custou um determinado preço. “Bati o carro e enquanto aguardava meu pai, pois o carro ficou impossibilitado de andar. Um assaltante me abordou e levou minha carteira e celular. Fiquei bem desesperado. Quando meu pai chegou fui logo embora… Só esqueci que o baixo estava no banco de trás, aí alguém passou e roubou”, diz decepcionado.

O que poderia ser um azar em dobro (ou triplo nesse caso) foi solucionado com a ajuda de alguém próximo de sua família que conseguiu obter contato com outras pessoas ligadas aos assaltantes. Para recuperar seu Fender Precision vermelho foi necessário desembolsar R$ 400 como preço pelo resgate. No dia seguinte ao pagamento, o instrumento foi devolvido.

Há mais de 15 anos Lalo coleciona histórias e álbuns com o seu instrumento. Apenas no Nitrominds, banda que teve quase 20 anos de existência, gravou com o seu baixo os álbuns: “Fire and Gasoline” (2001), “Something to Believe” (2002), “Ao Vivo” (2003), “Start Your Own Revolution” (2004), “Verge of Collapse” (2007), “Kill Emo All” (2010) e “Looking for a Hero” (2011). Além das gravações com a banda Cruel Face e os dois trabalhos da Statues on Fire até o momento. Tudo isso sem contar shows e turnês, o que não foram poucos.

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Contrabaixo do Lalo Tonus, da Statues on Fire. O instrumento foi “resgatado” posteriormente ao furto.

Art. 180 do Código Penal

Mesmo com a recuperação do baixo é muito importante saber que o Lalo correu um risco ao negociar a recuperação do instrumento com os assaltantes. Algo que não é indicado pela polícia e que o próprio Lalo reconhece. “Tudo que eu fiz serve pra ninguém seguir o meu exemplo, mas enfim, foi o que aconteceu”, diz.

A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo recomenda que ao perceber o furto deve-se registrar a ocorrência em uma Delegacia de Polícia. Em caso de roubo, ligue para a polícia assim que possível para transmitir a descrição exata dos criminosos e o possível trajeto seguido com todos os detalhes.

Em 2015, apenas no Estado de São Paulo, foram registrados mais de 800 mil casos de furto e roubo. Mas segundo a assessoria de imprensa do órgão de segurança, não há como calcular o quanto dessas ocorrências envolveram instrumentos musicais, pois não há uma classificação exclusiva para esse tipo de caso. Porém, o órgão ressalta que a receptação de objetos roubados é crime, conforme o artigo 180 do Código Penal, com pena que pode variar entre um a quatro anos de reclusão, e multa.

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Guitarra Gibson SG do Leonardo Alves, da Caffeine Blues, que foi roubada no início do ano. A banda fez B.O., mas até o momento não recuperou o instrumento.

No meio do caminho tinha uma pedra (ou melhor, várias)

No início do ano, a banda Caffeine Blues, de Santo André no ABC Paulista, sofreu um prejuízo estimado em R$ 8 mil no roubo de equipamentos e objetos pessoais. O grupo voltava de uma sequência de shows no Rio de Janeiro pela rodovia Carvalho Pinto quando na altura do Km 79. Por volta das 3h da manhã, perceberam pedras deixadas na pista. Como ficou impossível de continuar o percurso, ainda mais com um dos pneus furado, pararam o carro no acostamento. A banda só teve tempo de chamar pelo guincho quando logo em seguida foram abordados por cinco homens armados.

“Tocamos no domingo e todo mundo tinha que trabalhar na segunda, por isso tivemos que voltar tarde. Chegamos nessa parte de São Paulo já de madrugada. Meu baixo era um SX Vintage Series, estava com ele desde 2008”, diz um dos integrantes da Caffeine Blues, Élio Burantini. O grupo fez o Boletim de Ocorrência e prestou depoimento, agora espera algum resultado por parte da polícia. Eles ainda visitaram posteriormente algumas lojas de instrumentos na cidade de Jacareí, região próxima de onde foram assaltados com o intuito de obter alguma informação, mas sem resultado.

Os assaltantes ainda levaram uma guitarra Gibson SG, um pedal duplo da marca Janus, set de pedal, equalizador e um Boosted, além de todos os celulares dos integrantes. Com o furto dos equipamentos, a banda se viu obrigada a paralisar as atividades e cancelar shows já agendados. “Estamos parados por enquanto, eu estou sem equipamento nenhum, tudo que tinha foi levado, mais vamos seguir em frente, só vamos levantar a casa primeiro”, afirma Élio.

É possível se proteger? Dicas podem ajudar

Ninguém compra instrumento pensando em ser roubado depois, mas algumas dicas podem contribuir para evitar ou dificultar a ação de assaltantes, bem como precaver o músico no caso de furto/roubo do instrumento. A própria polícia possui um manual que traz 50 ações contendo diferentes situações para cada uma delas – acesse AQUI. Muitas das situações apresentadas podem diminuir as chances de perder o equipamento.

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Número de série do baixo Fender, do Jairo Fajer. Não deixe de denunciar se houver informações sobre o paradeiro do instrumento.

Listamos abaixo 15 dicas que podem ajudar:

01 – Se for comprar o instrumento na loja, só adquira o produto com nota fiscal. Além de confirmar a procedência, serve ainda como garantia do produto. A nota fiscal também é importante até para uma posterior revenda;

02 – Cuidado na hora de comprar instrumentos usados e de terceiros. Desconfie de preços muito abaixo do mercado. Mesmo que o produto não seja fruto de um roubo/furto, pode esconder defeitos e trazer dores de cabeça depois;

03 – Tire fotos do seu instrumento e de vários ângulos possíveis. Não se trata de vaidade, mas de garantia de manter um bom arquivo visual do produto em caso de roubo e precise mostrar como o mesmo era e se possui características únicas (adesivos ou marcas de uso, por exemplo);

04 – Guarde o número de série do instrumento, assim como a marca e o modelo e tire fotos também. Faça uma lista de toda e qualquer característica que o instrumento tiver. Isso vale para qualquer equipamento. Acredite, pode ajudar e muito;

05 – Mantenha sempre o instrumento com você ou perto de você. Evite, por exemplo, deixar a guitarra ou baixo no carro, principalmente se o veículo estiver estacionado na rua. Mas se não tiver jeito, prefira deixa-los no porta-malas ou o menos visível no carro.

06 – Nos shows, tente guardar seu equipamento de forma segura e não se afaste dele por muito tempo. Mantenha a atenção e até o cuidado de não confundir equipamentos de outros músicos com o seu, como cabos, pratos, microfones, entre outros;

07 – Nos shows procure levar apenas o necessário. Não queira levar 10 pedais, por exemplo, se você só utiliza uns dois ou três (parece bobagem dizer isso, mas nós sabemos que isso acontece e até sem querer);

08 – Estude o trajeto para chegar até o show. Evite lugares escuros e mantenha a atenção em sinais fechados e cruzamentos. Evite paradas e desvios de rota sem necessidade;

09 – Beber nos shows é comum, mas evite ficar embriagado a ponto de facilitar a vida do assaltante;

10 – Se for roubado, comunique imediatamente a polícia. Lembra daquelas fotos que você tirou do instrumento? Podem ajudar na recuperação, compartilhe as imagens e pelo menos alguma forma de contato para qualquer informação a respeito;

11 – Ao saber de qualquer informação sobre o paradeiro do seu instrumento, avise a polícia. Não tente resolver sozinho, pois haverá chances de um novo prejuízo, sem contar o risco.

12 – Se você tem informações sobre algum instrumento roubado, denuncie. Isso pode ajudar alguém a recuperar algo obtido com muito suor. Você provavelmente iria gostar que alguém fizesse isso por você, certo?

13 – Você tem condições de colocar um rastreador no instrumento ou até mesmo fazer um seguro? Considera necessário e até uma precaução melhor para o seu caso? Então, não pense duas vezes;

14 – Lembre-se, receptação de objetos roubados é crime, com pena que pode variar entre um a quatro anos de reclusão, e multa.

15 – Se puder (e quiser), compartilhe essa publicação em suas redes sociais. Nós agradecemos e esperamos que isso ajude outras pessoas.

Se você tiver outras dicas que julgue importante, faça um comentário a respeito.

Outros links

Estatísticas – Ocorrências Policiais do Estado de São Paulo
http://www.ssp.sp.gov.br/novaestatistica/Pesquisa.aspx

SerialBlocker
http://serialblocker.com

Instrumentos Roubados
http://www.instrumentoroubado.com.br/

Musiteca
http://musiteca.com.br/aguarde/instrumento-musical-roubado/

Green Notes
http://www.greennotes.mus.br/message.asp?messageID=155690&listaFor=

Roubados Br
http://www.roubadosbr.com.br/index.php

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