Esse texto foi criado com o intuito de bater de frente com as mentes atrasadas dentro dos meios musicais que baseado em seus gostos pessoais estéticos reforçam e incentivam ações de morte e a injustiça causadas pelos agentes de repressão do Estado. A ideia foi usar canções de resistência de diversos estilos musicais contra o pensamento retrógrado que ainda existe por aí.
No último final de semana, na madrugada de sábado para domingo, 9 jovens foram assassinados após ação da Polícia Militar em tradicional baile funk de Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo. É importante de início pontuar que o governo de São Paulo, em que João Dória está à frente, é o maior responsável pelo massacre.
“Os crimes mais bárbaros, não vem dos salves
Vem dos que ostentam placa de vigilância na propriedade
Pra proteger Alphatec, Philip, a ilha particular
Fundaram a época dos Gambés licenciados pra matar
O ciclo onde a barca enquadra, faz o levantamento
Pra milícia de gol, placa fria, gerar 10 sepultamentos”
A PM diz que entrou na comunidade porque perseguia homens armados, o que nos parece claramente uma distorção da realidade devido ao grande número de jovens mortos e das diversas imagens dos vídeos divulgados pelos moradores onde os PMs agiam com violência, truculência, fechando os acessos e impedindo a passagem dos jovens. Todo mundo sabe que são constantes os ataques e esculachos da polícia aos bailes funk pela cidade de São Paulo, para não dizer em toda a periferia da cidade.
“Que mundo é esse tão cruel
Que a gente vive
A covardia superando a pureza
O inimigo usa forças
Que oprimem, oprime”
Todas as vertentes da música têm o dever ético de repudiar esse acontecimento, divulgar e agir para que aberrações como essa não aconteçam na cidade. Muito além de gostos e escolhas estéticas, estamos falando do sistemático genocídio da população negra e periférica.
Dentro da nossa linguagem, tentamos usar algumas músicas que ilustram muito bem a barbárie que vivemos em nossos tempos, e também aponta e demonstra que contra tudo isso há resistência. É uma homenagem, um protesto, um grito e uma demonstração de luto.
Esse massacre não é exclusivo, ele acontece há séculos frequentemente, sem cessar. É a cara genocida do Estado Brasileiro que historicamente massacra o povo negro e periférico na cidade, sem terras e quilombolas no campo e indígenas nas florestas. É um projeto histórico, não um fruto do acaso ou um simples “despreparo”. Pelo contrário, estado é preparado para fazer isso.
“O navio negreiro, continua em jornada
Escondido sob as folhas do penal”
Essa política não acontece à toa ou sem se pensar. Contra a política extrativista quem são os maiores defensores dos recursos naturais (água, terras e minérios)? São os camponeses sem terra e os quilombolas no campo. Quem são os maiores defensores das florestas contra a irracionalidade do agronegócio? Os indígenas. E o grande potencial explosivo das cidades são os/as trabalhadores/as que em sua maioria negra ou são ultra explorados/as ou fazem parte do excedente de mão de obra que devido a seu tamanho não é absorvida e possui potencial explosivo. Não à toa, são esses setores da sociedade os mais atacados. À serviço das classes dominantes a solução encontrada para o avanço da exploração é a precarização, o desemprego, a repressão, o encarceramento em massa e a morte. A solução deles é essa, a política da morte. Contra isso a nossa deve ser é luta e resistência.
“Como pode, sem terra pra morar, sem rio para pescar
O Juruá [não indígena] desmata a mata e mata os M´bya [indígenas]
Mas Wera MC e Oz Guarani
Não cansa de lutar, e seguiremos assim até a morte”
Embora essa política nunca tenha parado no Brasil, vivemos tempos críticos em que o número de mortos pela polícia não para de crescer, sobretudo em grandes cidades como por exemplo nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, os quais estão sendo comandados por figuras grotescas e violentas, João Doria e Wilson Witzel. Isso sem contar do nosso maldito presidente Jair Bolsonaro, que não só aplaude como tem participação ativa.
Para conter essa sanha assassina e destruir essa política gerada pela desigualdade social, é necessário falarmos sobre isso em todos os lugares possíveis de todas as formas que estão ao nosso alcance. Agir para não ficarmos só no papel. Nos organizarmos e seguirmos exemplos de nossas referências históricas de luta.
“Revolta de grupos Malês
Lidando com quem já tem vez
Com gritos de revolução
Dizendo NÃO à escravidão”
Contra a mentira dos poderosos, a nossa verdade. Contra a política de exclusão, a solidariedade de classe e a igualdade. Autodefesa hoje para atacarmos amanhã construindo na prática o dia em que “o morro descer e não for carnaval”.