Por Diogo Dias
As redes sociais são mesmo uma beleza! Uma faísca acende um tópico que queima vivo e flamejante, alimentado pelas mais diversas opiniões materializadas em comentários que vão de puro humor inconsequente à reflexões um tanto quanto profundas. A última fogueira avistada no campo da música independente nacional foi o texto Xingue as bandas da sua cidade, escrito por Luis Calil.
Sinto decepcionar os incendiários, mas não pretendo botar mais lenha nessa fogueira. Se lhes serve de consolo, vou tentar acender uma nova, mas talvez não ganhe tanta força quanto essa polêmica e se perca nas cinzas do esquecimento. É a vida! Ou melhor, é a internet.
O que me chamou a atenção – mais que o texto do Luis – foram as reações. Em conversas com amigos, nos comentários e posts repercutindo uma discussão que não é exatamente nova, também não identifiquei nada de novo nas réplicas. Enquanto uns defendem uma profissionalização dos artistas independentes baseada nas práticas do que já feito no mercado fonográfico, outros argumentam que a profissionalização leva à padronização e acaba excluindo aqueles que não possuem recursos para alcançar tais padrões. Esse embate, acaba sempre caindo na questão: Se a banda não for boa ela não merece existir? Mas o que é, afinal, uma banda boa?
Resolvi perguntar isso lá na minha timeline. Vejamos algumas das respostas:
Rodrigo Montorso disse “[Banda boa é] Qualquer banda que faça bem o que se propõe a fazer”.
“Eu particularmente levo em consideração a originalidade, mesmo que a banda carregue uma influência” comentou o Wendell Souza.
A Raíssa Sobral contribuiu dizendo “Eu gosto do que me faz sentir próximo a minha essência ou cultura. Mas também gosto muito de sons diferentes do comum que provocam minha intuição. Melodia não repetitiva é o ideal pra mim.”
Já a Thais Amador foi incisiva, porém simpática no final deixando um emoticon “Uma banda boa é aquela que vc gosta e foda-se! ;)”
Enquanto Rodrigo e Wendell invocaram critérios que puxam mais para o objetivo (fazer bem e originalidade), Raíssa e Thaís responderam baseadas totalmente em suas subjetividades. E todos eles me parecem muito razoáveis. O que me fez pensar sobre a utilidade de discutirmos se xingamos, criticamos, passamos a mão na cabeça, apoiamos, compramos merch de banda começando ou vamos em mega festival. No fim das contas fazemos tudo isso em diferentes momentos. Ir a um festival mainstream não faz você perder a carterinha do underground, e mentir pro amigo dizendo que gosta da banda dele mesmo odiando, também não faz de você exatamente um apoiador da cena (uhh essa palavra é perigosa).
O que fica cada vez mais evidente para mim é que dicotomias, dualismos, polarizações, enfim, como queiram chamar, são maneiras de simplificar discussões extremamente ricas. A música é subjetiva em sua criação e recepção, mas também possui padrões formais objetivos que influenciam nossos gostos pessoais. Repetem-se ritmos, timbres, convenções. Tudo para se chegar em algo “agradável”. Mas agradável para quem? E aí, voltamos ao início. A discussão é inesgotável e se feita de maneira honesta pode gerar muita coisa boa.
Para além da questão de apoiar ou não as bandas locais, está colocada a pergunta fundamental: o que você espera da música? Entretenimento, expressão artística, posicionamento político, manifestação cultural? Respondê-la é o primeiro passo para saber se o que você deve fazer é xingar ou apoiar as bandas da sua cidade. Aqui por SP as bandas não estão me dando oportunidade de xingar, as desgraçadas tão tocando bem pra caralho, vai se fuder!