Punk, hardcore e alternativo

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Wladimyr Cruz: “Não cague regras”

Há 15 anos o Zona Punk está no ar e há mais tempo do que isso o Wladimyr Cruz está envolvido com o cenário underground. Um dos principais, se não o principal, site sobre punk/hardcore do país está em um momento de mudança. “Um fim de um ciclo”, como o próprio Wlad diz.

Paulistano e residente em Santos, litoral de São Paulo, teve envolvimento com o rock desde criança, bem como o jornalismo. Já o punk surgiu em um vídeo do Sex Pistols num desses programas pré-MTV (Som Pop ou Realce). A partir de então, o consumo em relação a cultura punk e adjacentes cresceu mais e mais. No entanto, Wladimyr Cruz deixa claro que “nunca foi do movimento punk ou coisa parecida”, seu envolvimento era como fã – nível nerd mesmo – da musica punk, assim como de todo o rock.

Seu contato com o independente veio primeiro com o Ratos de Porão, Não Religião, 365, bandas punks paulistanas, num segundo momento com o Garage Fuzz, que o fez abrir os olhos para toda uma cena alternativa, onde foi inserido por acompanhar os shows e querer produzir coisas – fanzines, bandas etc.

Para essa entrevista convidamos algumas pessoas para sugerirem perguntas, entre elas estão o Caio Felipe (Sky Down), Tércio Testa (Lomba Raivosa!) e o Felipe Sunaitis (Desacato Civil). Todos apresentaram questões sobre a origem e o trabalho do Zona Punk. O nosso obrigado pela participação.

Além disso, o nosso agradecimento especial ao Matheus Krempel, do The Bombers, por ter intermediado o papo com o Wlad e por toda a encheção de saco da nossa parte. Matheus, você é o cara!

Recomendamos a leitura da entrevista ao som de Descendents.

Wlad e Keith Morris
Wladimyr e Keith Morris

ENTREVISTA WLADIMYR CRUZ – ZONA PUNK

NADA POP – Wlad, você poderia falar sobre o fanzine Rebel Magazine? Ele seria o primórdio do Zona Punk? Além disso, como surgiu a ideia de criar um site sobre a cena punk/hardcore? Da mesma forma que as bandas possuem influências musicais, você teve alguma influência de outros sites para criação do Zona Punk?

WLADIMYR CRUZ – O Rebel Magazine foi um fanzine que editei de 1995 a 2000, e apesar do preceito punk de fanzine, era um veículo sobre rock, bem como o ZonaPunk é hoje. Misturávamos desde aquela época bandas independentes com hardcore, punk, metal, indie rock e tudo o que eu achava legal e/ou relevante.

O fanzine foi feito em Santos/SP nesse período e também fizemos algumas ações interessantes pra época, como a organização de shows, intercambio de bandas, cobertura de shows e entrevistas com bandas gringas – o que pra época era algo bem difícil – e coletâneas em K7, inclusive de bandas autorais da cidade, isso em 1996, 1997.

Não havia nenhum tipo de influência direta, mas na época eu gostava muito de um fanzine chamado Academiadepunkrockzine, que era feito pelo Atibaia do White Frogs, e também, obviamente, a Flipside e a Maximum Rock N’ Roll, a bíblia maior dessas coisas todas. O ZonaPunk não foi um projeto meu, nasceu na mão de outras três pessoas: Saulo Loureiro, Pedro Cupertino e Leandro Cupertino. Eu entrei no site mais ou menos com um mês de vida, justamente por ter enviado o meu fanzine pros caras e eles terem curtido. Por um tempo mantive os dois – fanzine e site – e depois escolhi ficar só com o site; bem como os outros caras escolheram outros caminhos e deixaram o ZP pra mim desde então.

A influência do ZP online era basicamente o punknews.org, não existiam outros sites do mesmo estilo na época. Tinha o punkbands.com também, mas num outro formato, enfim.

NADA POP – Hoje existem vários sites/blogs que falam sobre o cenário independente, mas quando o Zona Punk estreou, como era a divulgação desse cenário? Só existia o Zona Punk ou você poderia citar outros sites/blogs que também existiam nessa época, mesmo que alguns deles não estejam mais no ar?

WLADIMYR CRUZ – No Brasil existia um sim, underbrasil acho que era o nome, não me recordo bem. Eram contemporâneos nossos. Logo depois pintou também o Scream & Yell – que veio também do fanzine de papel. Um tempo depois o Davi Ferreira fez a Punknet, 2001 acho, por ai. Não tinham muitas opções online, o ZP foi realmente pioneiro nesse formato de “fanzine online” no Brasil. Já quanto a divulgação, ela era feita de forma offline principalmente, com flyers, cartas, o mesmo esquema do fanzine de papel, mas indicando o endereço online.

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NADA POP – O Zona Punk é a sua principal renda? Desde quando? Sabemos que você ataca de DJ, organiza shows, tinha um selo, entre outras atividades. Você acredita que o sucesso do Zona Punk e o reconhecimento que ele possui é muito por causa do seu trabalho “hard work” com o site, enquanto alguns sites e blogs parecem levar esse trabalho de divulgar a cena independente apenas como um hobbie/lazer? O quanto esse trabalho de “hard work” se torna um diferencial em relação a outros sites?

WLADIMYR CRUZ – Sim, para a maioria o site é um hobbie, por mais de 10 anos foi minha principal fonte de renda e trabalho. Isso diferencia pois o comprometimento é maior. Eu não poderia desistir, pois tinha contas a pagar. Hoje já desenvolvo outros trabalhos em outros setores – todos eles puxados através do site – e não dependo mais dele exclusivamente; e até por isso ando mais relaxado e displicente.

NADA POP – Quantas pessoas trabalham no site além de você, desde redatores, fotógrafos e até cinegrafistas? São colaboradores ou contratados que recebem remuneração? Há quanto tempo que o Zona Punk está nessa estrutura?

WLADIMYR CRUZ – Já tivemos diversas estruturas diferentes, com gente remunerada, com estudantes, com amigos, enfim, já fizemos todos os formatos possíveis, do mais profissional ao mais solitário. Hoje quem faz o ZonaPunk sou eu e meus amigos que tem tempo sobrando – e todos nós fazemos por gosto, sem o peso profissional de outrora. Em resumo seria isso.

NADA POP – Qual a comparação positiva e negativa que você faz do cenário independente de hoje com o cenário de 1999, ano de surgimento do site? Em sua opinião, diminuiu o número de espaços para as bandas independentes?

WLADIMYR CRUZ – Desde 1999 a gente viu tanta coisa, tantas ondas irem e virem. Gente ganhar dinheiro, perder dinheiro, levante e queda de muita gente, bandas, estilos. No final das contas, a matemática de hoje é igual a de 1999, a seleção natural das espécies. Quem é de verdade fica, quem não é, roda.

NADA POP – O Zona Punk, pelo que lembramos, lançava todo ano uma coletânea. Esse lançamento parou? Caso sim, qual o motivo?

WLADIMYR CRUZ – Não vejo mais motivo de compilar bandas para download em uma época de streaming. As coletâneas eram interessantes numa época em que por seu mp3 para baixar – e atingir o publico alvo – era algo bem mais difícil do que hoje. A primeira coletânea que lançamos foi a “Sound Of Light”, em 2001, com sons dos discos que a Highlight Sounds estava lançando na época. Alem desta fizemos dezenas com bandas independentes, e me recordo com alegria também de uma coletânea virtual oficial que fizemos da Alternative Tentacles, para promover as bandas deste selo aqui no Brasil, em 2003 acho.

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Wladimyr e KISS – Ano de 2012

NADA POP – Recentemente você dirigiu o documentário “Woodstock – Mais Que Uma Loja”. Conte um pouco sobre essa experiência como diretor, a produção dele e os eventos de lançamento.

WLADIMYR CRUZ – “Woodtock – Mais Que Uma Loja…” é um documentário sobre a loja Woodstock, reduto e marco zero do heavy metal em São Paulo, loja inclusive que freqüentei quando moleque. É meu primeiro trabalho como diretor e é uma área que estou começando, aprendendo ainda. O filme está com algumas exibições marcadas nos cinemas e terá uma versão em DVD lançada agora no começo de dezembro. Acredito que este é o primeiro de uma série de projetos autorais que estou desenvolvendo nesta área.

NADA POP – Com essas e outras atividades, qual a prioridade ou espaço que o Zona Punk ocupa na sua vida hoje?

WLADIMYR CRUZ – “Será uma benção ou eterna maldição”, cantaram os amigos Blind Pigs outrora. Hoje o ZonaPunk não é a prioridade, mas continua sendo feito com atenção e dedicação.

NADA POP – Existem rumores que o Zona Punk vai acabar ou terá um novo formato? Isso é verdade? Pode falar a respeito?

Sim, ele vai acabar no formato que é hoje. O hard news não faz mais sentido, notinhas tele-sena de hora em hora não adiantam mais. O mundo muda, os costumes, a tecnologia e tudo o mais, e ficar preso nesse formato é burrice. Vamos seguir em frente. Vai mudar pouca coisa, mas o modus operandi vai ser outro, bem como o conteúdo. É o fim de um ciclo diria, nada demais.

NADA POP – Wlad, há pouco tempo existia um pacote de divulgação de bandas no site, envolvendo divulgação paga na qual a banda teria entrevista, resenha, entre outras formas de divulgação dependendo do valor e do pacote. Na sua leitura, esse modelo de anúncio não corre o risco de beneficiar bandas com maiores recursos financeiros em detrimento de questões culturais e musicais e dessa maneira acabar deixando de lado diversas manifestações da cultura “punk”? Em um breve balanço, quais foram os benefícios e os problemas com esse modelo (seja na questão cultural, musical, financeira, críticas externas)? Ele ainda existe no site?

WLADIMYR CRUZ – Nenhum problema, nunca. A cobrança por posts pagos é praxe em qualquer site, é default, mas isso não quer dizer que é um pagamento ‘para falar bem’, até porque não são vendidos reviews opinativos ou resenhas de discos/shows, mas sim espaço publicitário – nota e/ou entrevista – que sempre são feitos com o cuidado de não ter nenhum tipo de adjetivo. É apenas uma forma de anuncio, e sempre ele é acompanhado do símbolo #ad para ficar claro que é conteúdo publicitário – mesmo sendo algo sem nenhum tipo de opinião e representando menos de 1% do material postado. É quase como um release na verdade. Polêmica non sense.

ZP2_NPNADA POP – Qual história, ou pelo menos uma das histórias que você poderia citar, que mais marcou na sua vida com o Zona Punk? Além disso, qual a maior dificuldade em manter um site como o Zona Punk firme até hoje?

WLADIMYR CRUZ – A única história que importa é essa ai que vocês conhecem, a de um site estar no ar por esse tempo todo, sem depender de ninguém, sem nenhum grande investidor ou corporação por trás. No big deal afinal, mas é história e tem seu valor. E sem dúvida a maior dificuldade é a quase total ausência de apoio. Tapinha nas costas e sorriso não pagam contas de ninguém. Isso vale para site, banda, selo… se as pessoas não ajudarem de forma real, tudo isso vai morrer – como vem morrendo ano a ano.

NADA POP – Como um dos maiores representantes do cenário independente, quais são os principais erros que as bandas cometem, na sua avaliação, seja na divulgação da banda, interesses ou até de proposta?

WLADIMYR CRUZ – Fazem bandas para os outros, não para si mesmas.

NADA POP – E no caso dos sites, quais dicas e as principais orientações que você poderia dizer para quem deseja ou tem interesse de fazer um site sobre punk/hardcore?

WLADIMYR CRUZ – Fazer por gosto, pra somar, pra gerar conteúdo bom, bem feito. Qualquer outro motivo é irrelevante e vai ter prazo de validade curto.

NADA POP – Wlad, muito obrigado pelo papo. Gostaria que você deixasse uma mensagem falando o que significa para você o cenário independente e qual a importância do punk/hardcore na sua vida, claro, além de ser o seu trabalho.

WLADIMYR CRUZ – O punk me ensinou que eu posso fazer. Eu fiz, um site, um filme, um monte de livros, um programa de TV, um monte de festas, um selo, um monte de coisas, até uma banda eu tive. And i did it my way. Faça o seu e não cague regra.

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