Punk, hardcore e alternativo

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Sheila Cretina – Menos vaidade e mais vontade

Garage Rock, punk e alternativo. Essa combinação é perfeita para definir o som da banda Sheila Cretina. Formada em 2009, conta com Gustavo McNair (voz e guitarra), Rodrigo Ramos (guitarra e voz), Jairo Fajersztajn (baixo e voz) e Caio Casemiro da Rocha (bateria) está a todo vapor, gravando álbuns, clipes e fazendo seu som sem aquele lance de tentar seguir um padrão estabelecido. Mas sim, quebrar as barreiras que a galera metida a crítica hoje em dia insiste em querer inserir no rock.

Com influências que vão do pré-punk ao alternativo. Mas o mais curioso de tudo, é que eles têm como principal inspiração a vida maluca da cidade de São Paulo.

O grupo lançou em 2011 o primeiro e energético EP intitulado “Vol I”, que conta com sete músicas. Sujo, barulhento, debochado e espontâneo. E mostra realmente que as influências são levadas ao pé da letra. É difícil destacar um som em específico, aconselho você a ouvir o disco inteiro. Mas músicas como “Haikai”, “Instrumental” e “Vol II” serve perfeitamente de trilha sonora para aquele rolê de carro ou andando pelas ruas de São Paulo, naquele clima de correria e boêmia que só a cidade pode nos oferecer.

Além do primeiro EP, em 2013 lançaram o clipe da música “Certo de que Tudo tem Defeito”. Clipe esse produzido pelo vocalista Gustavo McNair, junto com Stela Grossi e Rafael Câmara. Esse último também foi responsável pela direção do vídeo.

Para contar um pouco mais sobre a Sheila Cretina, batemos um papo rápido com a banda. Garanto que ao terminar de ler essa entrevista, provavelmente você já estará ouvindo esse som garageiro no talo.

SHEILA 2
Rodrigo Ramos (guitarra e voz), Caio Casemiro (bateria), Gustavo McNair (voz e guitarra) e Jairo Fajersztajn (baixo e voz)

NADA POP – Quais são as influências da banda? E o que significa o “Garage Frenzy” como definição do som de vocês?

SHEILA CRETINA – A principal influência da banda é a cidade de São Paulo, o caos, sufoco, desepero. É a nossa condição atual que faz a gente compor e tocar para a nossa geração, que é pra quem a gente quer e sabe falar. Acho que o Garage Frenzy vem dai, é uma brincadeira com a comparação desse som garageiro, com nossa performance frenética, quase epiléptica, barulhenta, caótica, enérgica… como a cidade. Temos influências musicais diversas na banda, gostamos muito de música e ouvimos de tudo. Claro que, diretamente com o som da Sheila, o que mais usamos de referência são as clássicas tipo Stooges, Dead Kennedys, Clash, MC5, Ramones, Sonic Youth… Mas os toques “pops” que são claros nos nossos sons vem dessa mistura de influências.

NADA POP – O primeiro EP de vocês foi gravado e mixado no Red Mob Studio, por Gianni Dias e Piettro Torchio, mas foi masterizado por Michael Fossenkemper, no Turtle Tone Studios, em Nova Iorque. Como rolou essa oportunidade de masterizar nesse estúdio nos States?

SHEILA CRETINA – Alguns estúdios bons de master oferecem um esquema After Hours, onde os produtores trabalham hora extra em produções pequenas a custos baixos. Mandamos nosso som pro Mike, um dos principais produtores da Turtle Tone (um dos fodões de NY), e ele curtiu muito o som e topou masterizar pra gente. Ficou incrível, ele sacou nossa proposta muito bem e deu um “up” fundamental.

NADA POP – Vocês fazem parte do Coletivo Tsunami, que é voltado para organização de shows independentes a auto-suficiente em espaços públicos, certo? Conte-nos mais sobre como foi formado esse coletivo.

SHEILA CRETINA – O TSUNAMI é formado por bandas que dividem alguns integrantes, e por isso desde o começo agitavam shows juntos (Sheila Cretina, Emicaeli, Câimbra, Badtrip Surfdeath e, mais tarde, o Leite Paterno). Com a atual saturação e pouca qualidade das casas de shows de São Paulo, que não valorizam as bandas autorais ao vivo, nem o público, junto com esse desejo presente em todos os paulistanos de participar e interagir mais com a cidade, começamos a organizar shows na rua, de graça. Fizemos uma vaquinha para comprar um gerador, nos organizamos dividindo tarefas, e produzimos shows de forma autosuficiente, de graça, em vários lugares da cidade (por enquanto só em São Paulo). Montamos todo o equipamento, pegamos as autorizações necessárias com a prefeitura, e levamos rock independente para quem quiser ouvir. E é sempre muito legal, muita gente para para assistir, e o retorno e a satisfação acabem sendo até maiores.

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“Vol I” da banda Sheila Cretina – Download AQUI

NADA POP – Falando sobre essa velha e triste realidade de boa parte das casas de shows de SP não valorizarem bandas autorais e independentes, nos falem o que vocês acreditam que deveria mudar no cenário para que o rock autoral seja definitivamente levado a sério e ter o tratamento merecido.

SHEILA CRETINA – Esta muito triste mesmo, e ao que parece é uma culpa conjunta das casas de shows e do público. As maioria das casas não valorizam a música ao vivo autoral, não fazem um trabalho de curadoria decente, para conhecer as bandas e manter um padrão, uma linda coerente, trazer coisa nova. Falta aquela casa que tem sempre banda boa, com som bom, que você pode fechar os olhos e ir até lá que é garantido que vai ouvir coisa boa e nova. E falta o público também valorizar mais as bandas independentes, ir ver shows (mesmo que na roubada), baixar, comprar, ajudar a divulgar. Mal quem tem banda vai ver as bandas dos colegas… O que forma uma cena é um público afim, que faz o boca a boca, incentiva, gosta e mostra que gosta, e um lugar que entenda isso e concentre essa galera, fazendo uma curadoria boa, com qualidade, ajudando a unir essa galera. Tem muita coisa pra ser falada, e muita gente querendo ouvir. Tem coisa boa rolando ai, mas ninguém sabe pq ninguém vai atras, quem quer ir atrás não sabe onde, não tem ninguém pra mostrar, a maioria só que ir ouvir DJ em balada, e quando tem banda ninguém vai ver porque tem preguiça, é tarde, é mal tratado… Estamos num buraco cada vez mais fundo.

NADA POP – A internet hoje é sem dúvida uma grande ferramenta para divulgar e proliferar o som de bandas independentes. Porém, ao mesmo tempo, parece que de certa forma está deixando a cena mais distante, não só com relação ao público como também em relação as bandas. Qual a opinião de vocês em relação a isso?

SHEILA CRETINA – A internet é um fenômeno que aproxima e ao mesmo tempo afasta as pessoas e as relações. Tem muito conteúdo acessível, mas sem muito critério. É tudo muito imediatista, efêmero, baseado no buzz, no viral, e são essas coisas que ganham força e espaço na pauta das pessoas. Isso gera preguiça e passividade. O que tá faltando pra música é uma cena, são bandas que “puxam” outras bandas, gente falando, um lugar físico pras pessoas se encontrarem e conversarem sobre música, discos, dividirem seus gostos, trocarem ansiedades, conhecerem, se interessarem, trocarem discos. A internet acaba baseando tudo a uma troca virtual, um link, uma música, e deixa tudo muito raso, e os lugares de música boa são ocupados por qualquer outra coisa superficial e rasa o suficiente para nos entreter rapidamente. A gente sabe, música é sobre paixão, imersão, relação com um momento da vida, o reflexo de um momento social, politico, econômico. E a gente ta precisando muito disso neste momento. Como cantamos na letra de Certo de que tudo tem defeito, “Tem tanta coisa pra falar, muita gente pra ouvir, o difícil é isso tudo coincidir”.

NADA POP – Vocês estão para lançar um segundo EP, ainda esse ano. Como foi o processo de produção desse disco? Será na mesma pegada do primeiro ou terá algo diferente?

SHEILA CRETINA – O segundo EP esta quase pronto, e a produção foi de novo totalmente independente. Nós mesmos que gravamos e produzimos. As oito músicas estão mais elaboradas em composição, instrumentais fortes, riffs de guitarra rápidos, mas o espírito caótico e urbano é o mesmo. Temos muitas referências diferentes entre os integrantes, e isso influencia cada vez mais nossas ideias e composições novas. Nossa expressão é honesta e atual, e as letras também refletem isso. Curtas e diretas, com um toque de poesia e muitas referências. Esse disco é um passo do primeiro sim, mas estamos na mesma estrada.

NADA POP – Gostaríamos de agradecer à vocês pela entrevista. Mandem uma mensagem pra galera que insiste em viver nessa caótica cidade de São Paulo.

SHEILA CRETINA – Nós que agradecemos, precisamos falar e ter o que falar. Precisamos nos alimentar. Matenham-se verdadeiros e profundos. Menos vaidade e mais vontade.

SHEILA CRETINA

Youtube: http://www.youtube.com/user/SheilaCretina
Bandcamp: http://sheilacretina.bandcamp.com/
Facebook: http://www.facebook.com/sheilacretina
Email: sheilacretina@gmail.com

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