
Por Bruna Neto
Em um período como 2015, em que as discussões sobre feminismo ficaram mais evidentes, a pauta deste artigo não poderia ser outra! Movimentos em defesa da mulher ganharam força do Facebook – com as hashtags #PrimeiroAssédio e #MeuAmigoSecreto – à prova do Enem – que trouxe à tona pensamentos de Simone de Beauvoir, escritora ícone do movimento feminista, e questões sobre violência e assédio. Logo no início do ano, a atriz Patricia Arquette – premiada por sua atuação no longa “Boyhood” – chamou a atenção de todo o mundo com seu discurso pela igualdade de gêneros durante a cerimônia do Oscar. Aqui no Brasil – quinto colocado no ranking dos 83 países com maiores índices de assassinatos de mulheres –, a “Lei do Feminicídio” foi sancionada em março, classificando crimes do tipo como hediondos. No fim do ano, lindo mesmo foi ver mulheres de diferentes lugares tomando as ruas em protesto contra o Projeto de Lei 5.069/2013 – que reduz os direitos de vítimas de violência sexual –, entre outros fatos que foram a gota d’água.
A intolerância cada vez mais forte à cultura do estupro e ao machismo, e a luta pelo empoderamento de todas as mulheres, sem distinção, se caracteriza por inúmeros coletivos, projetos, ações e acontecimentos que eu demoraria uma vida para citar do jeito que eu gostaria, mas entre os quais destaco o “Nós, Mulheres da Periferia”, o “Vamos juntas?”, e o protagonismo das meninas nas ocupações das escolas estaduais de São Paulo, contra a proposta de reorganização e fechamento das mesmas pelo governo do Estado.
NÃO, ISSO NÃO SE TRATA DE UMA GUERRA DOS SEXOS! O desenvolvimento dessa consciência é fundamental para combater qualquer tipo de agressão num país onde cerca de 13 mulheres são mortas por dia – geralmente vítimas de violência doméstica –, onde o transporte público é cenário de estupro, e o crime é envelhecer, engordar ou não andar conforme a cartilha da sociedade.

Inspirada por tudo isso, parei para pensar nas mulheres da minha vida. Minha avó materna, nascida no Paraná, ainda era menina quando questionou os costumes do colégio religioso em que era interna e fugiu da escola. Em São Paulo, construiu sua família e, mais do que no feijão ou na torta de banana, sua marca está nas histórias sobre o acordeon que tocava e sobre a brasília que dirigia na época em que era mais raro a mulher assumir o volante. Minha avó paterna, por sua vez, traz história nas veias. Ainda no ventre da mãe, cruzou com o bando de Lampião, cresceu no Norte e se tornou matriarca de uma família de nem sei quantos filhos e netos. Diferentes em bagagem, estilo de vida e personalidade, ambas são uma fortaleza e um tapa na cara do patriarcado.
Agora, falando em música, pensei na primeira roqueira que conheci. Cássia Rejane Eller ainda me faz chorar. “Malandragem” era um hino para mim entre as músicas dos Stones, do AC/DC, do Raul Seixas e dos Beatles lá em casa. Intérprete de Édith Piaf a Kurt Cobain, tudo nela desafiava rótulos. A voz, a atitude, as roupas, a sexualidade e até sua gravidez. Era tão grandiosa que deixou um legado que vai além da arte: após sua morte, sua mulher foi a primeira homossexual a conseguir a guarda do filho de uma companheira pela justiça brasileira.

Outras tantas mulheres inspiradoras vieram à minha mente, mas, desta vez, quero falar sobre as minas que movimentam a cena do ABC Paulista, meu lar. Do punk ao indie, entre outras vertentes, cabelos coloridos, acordes e batidas marcantes, timbres agressivos e suaves, me sinto privilegiada em apresentar as representantes às quais tive acesso em uma série de entrevistas, que começa na próxima semana.
Nem groupies, nem enfeites, nem objetos para delírio dos marmanjos, nem “tão boas musicistas quanto um cara”. Ao conversar com cada uma, observei o quanto são únicas e livres para tocarem o que quiserem. Num segmento dominado e configurado de acordo com a cabeça dos homens – concorde você, leitor(a), ou não – a presença delas representa resistência e um lembrete de que todas somos livres para sermos o que quisermos e de que não somos obrigadas a aceitar e conviver com abusos físicos, psicológicos ou mascarados. Não é à toa que o nome da série é um som das The Runaways, que segue com o verso “not just one of your toys”.
Para quem leu o textão até aqui, meu convite é o seguinte: esqueça tudo o que o senso comum diz sobre a mulher. Desconstrua conceitos que agridem, ridicularizam e segregam. Denuncie. Identifique atitudes machistas em seu meio e abandone-as. Problematize, leia, questione a si próprio(a). Aguarde os próximos episódios das histórias que tenho para contar e, por fim, #playlikeagirl!

2 respostas
Texto foda, parabéns, Bruna Neto!
Arrebentou, parabéns Bruna!! Agora, quanto ao play like a girl… Acho q não vai rolar… Já tentei tocar como aquela guitarrista do Michael Jackson e nada feito rsrs