Daniela Napomucena, da Denis Grillo e Os Gafanhotos: “As pessoas sabem que não estou no palco para falar do meu corpo ou exaltar o que elas veem por fora”
Por Bruna Neto
A primeira banda independente do ABC sobre a qual ouvi falar não é punk nem hardcore. Mas, se considerarmos que a característica que melhor define o rock é seu papel como ferramenta de contestação, então Denis Grillo e Os Gafanhotos tem atitude roqueira de sobra. Peço licença aos leitores do Nada Pop para trazer à tona ritmos como baião, soul, maracatu e samba-rock que, misturados com letras carregadas de críticas sociais, instrumentos que excedem à roupagem mais crua que estamos acostumados a mostrar aqui, e uma pitada da história de cada integrante, resultam no som alternativo e ecleticamente brasileiro do grupo formado em 2007, em Santo André.
Entre canções permeadas por sax, flauta, trompete e rimas sobre política, sustentabilidade, amizade e mídia, surge o timbre suave de Daniela Napomucena, que garante o toque final. Mais do que a cereja do bolo, a presença de Dani é o que modifica a cara do conjunto e o direcionamento das melodias e músicas, das quais ela participa no processo criativo. Além de ser uma escolha artística, a participação de Dani se trata, também, de uma posição política assumida por toda a banda e, por parte dela, uma maneira de resistir e contribuir para as mudanças que deseja ver por meio de sua arte em constante evolução. Mas, isso vocês entenderão melhor ao ouvir as faixas do novo CD – intitulado “Sonho Verde e Amarelo” – no Soundcload e ao acompanhar a entrevista abaixo.
NADA POP – Dani, como é sua história como musicista? Quais são seus projetos musicais?
DANIELA NAPOMUCENA – Minha história começou com, mais ou menos, 14 anos, quando eu descobri que poderia cantar “legal” (risos). Mas, antes disso, eu havia aprendido muita coisa na infância, sem perceber. Meu pai sempre gostou de música. Ele tocava violão e escrevia muito bem, e eu me lembro que as letras já tinham uma crítica social porque ele tinha uma visão de mundo diferente das pessoas daquela época. Então, por influência dele eu cresci ouvindo MPB e ganhei muito repertório com isso, conheci muitas coisas (e artistas) que as crianças da minha idade com certeza não tiveram contato. Voltando à parte prática, um tempo depois de que descobri que poderia cantar, o Denis também descobriu isso e me chamou para participar da banda dele. Na época, minha irmã e ele eram os vocalistas e eu seria um complemento, fazendo back vocal. Como já tinha muita vontade de ter uma banda, mesmo com insegurança eu aceitei e ficamos com essa formação, até que ela decidiu sair para se dedicar a outros projetos e eu assumi o vocal.
Sobre outros projetos musicais, em 2013, eu comecei uma parceria com o Eduardo, vocalista da banda The Vallens. A proposta era um som diferente do que fazemos nas nossas bandas, algo mais suave, daí demos o nome de Projeto Leve. O projeto já tinha duas músicas (uma dele e outra minha), mas acabou sendo interrompido pois, por falta de tempo, não conseguia me dedicar de verdade a isso.

NADA POP – Você já vivenciou algum caso de preconceito por ser mulher no meio da música independente?
DANIELA – Graças a Deus, não! Não me lembro de ser discriminada por isso. Pelo contrário, acho que por ser incomum, por ter mais homens do que mulheres fazendo música, sinto que as pessoas têm um respeito pelo que eu faço quando me veem no palco, porque sabem que eu não estou ali para mostrar ou falar do meu corpo, ou exaltar o que elas veem por fora. A ideia é outra, vai além disso, é passar uma mensagem, conscientizar, ou propor um pensamento diferente através da música.
NADA POP – Como você enxerga o cenário da música independente?
DANIELA – Eu vejo que fazer música independente é ter muita paciência, porque as coisas não acontecem rápido. O processo é muito lento, principalmente no Brasil, um país com MUITA gente talentosa e criativa, mas que muitas vezes acaba desistindo do que sabe fazer bem para fazer o que dá dinheiro (afinal, precisamos de dinheiro), porque disseram que “música não é trabalho”. Então, pra mim é como nadar contra a corrente, não tendo apoio financeiro para investir e muitas vezes sem uma boa estrutura para tocar. Tem que ser muito persistente para conquistar alguma coisa!
NADA POP – Quem é a “Denis Grillo e Os Gafanhotos”?
DANIELA – A banda Denis Grillo e Os Gafanhotos foi formada pela necessidade do Denis de dar voz, através da música, às tantas críticas sociais vistas por ele. Mas, não é só isso, não é a “banda do Denis”. Denis Grillo e Os Gafanhotos é apenas um nome e representa todos nós. É o conjunto da arte de cada um. E, hoje, a nossa música não traz só criticas, mas também procura levar uma mensagem positiva e a reflexão sobre os valores, as escolhas, a amizade, a coragem que precisamos pra agir, etc.

NADA POP – Ouvindo as canções de vocês, dá para perceber que as letras são bem politizadas. No atual momento do país, qual é a posição da banda? Algum som de vocês trata sobre a questão?
DANIELA – Sim, nós vemos que há um golpe e lutamos contra ele. Vemos que grande parte da população está sendo manipulada pela mídia que muitas vezes (quase sempre) distorce informações para moldar o pensamento do povo, e assim fortalecer os próprios interesses. Coincidentemente, a música Cegos fala exatamente sobre isso, e nesse momento faz mais sentido ainda!
NADA POP – Para finalizar, depois de nove anos, vocês lançam o álbum “Sonho Verde e Amarelo”. Por que escolheram esse momento e o que o álbum traz de especial?
DANIELA – Por ser um trabalho maior, tivemos nesse processo mais gastos e algumas mudanças na formação, como a minha entrada. Somando a dificuldade de bancar tudo (por sermos independentes), nós não escolhemos, mas só conseguimos deixar tudo pronto e ao nosso gosto nesse momento da banda. O álbum traz toda essa história, e também a crítica nas letras, que caracterizam o grupo. Além da diversidade de estilos influentes, ritmos e melodias – que é para mim o que torna o som mais agradável e original.
NADA POP – Sempre peço para as meninas entrevistadas deixarem um vídeo de uma mina que as inspire. Qual será o seu?
DANIELA – Marina Peralta é uma das cantoras que me inspiram. Acho que ela representa bem a resistência, tanto por escrever letras conscientes quanto por ser a mulher à frente do palco para cantá-las.
Uma resposta
Show Dani, Parabéns..Linda entrevista.