Por Rafael Lopez Chioccarello (Hits Perdidos)
Tentar desvendar qual será o próximo Hit é uma missão um tanto quanto ousada e meio como uma brincadeira, lá para 2014, criei o Hits Perdidos. Ironia, sarcasmo e figuras de linguagem foram palavras que me vieram na cabeça na hora da escolha do nome.
O site foi se moldando e confesso que ainda dou risada ao ler posts antigos. Pois noto a evolução. A auto-crítica acredito que seja algo extremamente necessário. Ainda mais quando você acredita naquilo que faz, acho que isso vale para tudo na vida. Afinal de contas não nascemos sabendo: aprendemos um pouco a cada dia. Tanto que no começo se vocês pesquisarem irão ver posts “frankenstein” com dicas de 10/15 bandas numa tacada só.
Com o tempo notei que quem mais precisava de espaço eram nossas queridas bandas independentes – que acompanho desde meus 15 anos – e decidi focar nos textões analíticos. Mas aquela sede de conhecer algo novo meu amigo: nunca se esgotou. O Nada Pop gentilmente me convidou para fazer uma seleção de artistas que se você gosta de um… deveria conhecer o outro (e vice versa). Vamos lá!
Gosta de: Jeff Buckley
Talvez goste de: Julien Baker
O doce voz de Julien Baker encanta a distância, sua leveza e talento surpreendem se pensarmos que ela acaba de completar 21 anos. Após uma versão lindíssima de “Accident Prone” do lendário Jawbreaker fiquei atiçado a conhecer mais sobre a trajetória da jovem.
A cantora e instrumentista nasceu em Memphis e aos 14 anos fundou a banda The Star Killers (que ano passado mudou de nome para Forrister), só que como vocês devem saber nos Estados Unidos os jovens universitários vão estudar – normalmente – bem longe de casa. E nesse período Julien decidiu gravar. Em 2014 durante o inverno ela lançou o EP que mudaria sua vida. Este deu origem a Sprained Ankle primeiro disco da moça lançado em outubro do ano passado.
Desde então ela já foi chamada para uma série de shows ao redor do mundo, participou de uma session da A.V. Club com uma versão magnífica para “Photobooth” do Death Cab For Cutie e arranca sorrisos e suspiros por onde passa.
Seu estilo, jeito de tocar e guitarra lembram Jeff Buckley, um artista que teve uma morte trágica quando estava prestes a estourar. Tendo em seu currículo elogios de grandes nomes da música. Uma pena viver em um mundo sem Jeff.
Gosta de: King Crimson
Talvez goste de: Casillero
Um grupo que teve problemas desde seu início foi o King Crimson. Com uma série de mudanças em sua formação (21 para ser mais categórico) aos trancos e barrancos eles ainda se mantém na ativa – tendo se separado por diversas vezes.
Mas este fato não tira de nada a genialidade do grupo inglês que soube espertamente somar ao som do rock progressivo estilos como o jazz e o experimentalismo. Para iniciantes eu particularmente recomendaria o primeiro álbum, In The Court Of The Crimson King (1969).
Uma influência confessa e marcante no som da Casillero de Recife. Algo que o músico Thiago Gadelha – que também comanda o Estúdio Toca do Lobo – faz questão de frisar. O disco Dark Swing saiu no fim de agosto e vale a pena conferir o excelente trabalho de produção do álbum dos pernambucanos. Recomendo ouvir com um copo de uísque ao lado.
Gosta de: The Replacements
Talvez goste de: Beach Slang
Confesso que The Replacements é minha banda favorita e provavelmente por sua espontaneidade, deboche, descontrole e alma rock’n’roll. Segundo relatos dos sortudos que puderam ver o show da banda em seu auge: o show poderia ser maravilhoso em um dia e no seguinte não valer nem a passagem de ônibus. E mesmo assim voltavam não uma mas por mais de 20 vezes naquela entediante Mineapolis. A banda ainda rivalizava de maneira saudável com outro grande grupo da cidade, o Hüsker Dü.
Mas não vou me estender muito no assunto. Afinal de contas ter um disco produzido por Tommy Ramone (Tim – 1985), um clipe ANTI-MTV e um incrível documentário sobre a banda (Color Me Obsessed – 2011) já diz muito por si só.
Em 2013 – a não tanto tempo assim – na Filadélfia surgia o Beach Slang com influências de bandas indies dos anos 1980 esquecidas por muitos. Citarei algumas pérolas que eles tem como cartas na manga: The Replacements, Swervedriver, Jesus and Mary Chain, Jawbreaker e o começo da carreira do Goo Goo Dolls.
E de um jeito um tanto quanto despretensioso se jogaram na estrada fazendo shows em tudo quanto buraco possível. Tanto que só fomos ter conhecimento dos primeiros EP’s lá para 2014. O primeiro álbum de estúdio veio no ano seguinte. Então fique com o segundo álbum que saiu do forno agora no fim de setembro.
Gosta de: Hanoi Rocks
Talvez goste de: Dirty Fingernails
O Hanoi Rocks foi uma banda finlandesa que conseguiu mesclar a farofa hard rock dos anos 1980 com o Glam/Punk da geração anterior. Agradando a gregos e troianos com suas baladas açucaradas como “Don’t You Ever Love Me” – que solta purpurina para tudo que é lado. A banda até chegou a voltar – por um curto período – com dois membros originais em 2009, mas fez o suficiente para ser eternizada na história do rock.
Como tudo que é bom merece ser lembrado eis que em 2014 em Recife surgia o Dirty Fingernails para chacoalhar tudo. Com influências de Stooges, New York Dolls, Hanoi Rocks, The Exploding Hearts, The Damned, The Undertones e uma porção de outras pérolas esquecidas do rock – que a série Vinyl tratou de ressuscitar – nascia uma ótima banda. Vou deixar o EP de estreia dos caras e sair para dançar. PS: Ouça também o segundo aqui.
Gosta de: Bruce Springsteen
Talvez goste de: The Gaslight Anthem
Bruce Springsteen dispensa apresentações, o herói americano que fez uma canção totalmente ironica e protestando contra a hipocrisia americana (“Born In the U.S.A”) talvez seja um dos personagens mais carismáticos da história da música.
Mas vamos falar de um disco obrigatório para quem ama os trabalhos do tio Bruce. Estou falando de The ’59 Sound (2008) do The Gaslight Anthem. A similaridade além de gritante é confessa pelo vocalista Brian Fallon que já falou por diversas vezes que Bruce Springsteen era um dos seus heróis de infância.
Gosta de: The Muffs
Talvez goste de: Diablo Angel
A banda de Kim Shattuck está na ativa desde 1991 e com a simplicidade dos Ramones ainda faz todo mundo dançar. São 25 anos em serviço do Punk Rock e ainda lançam discos de qualidade. Muitos devem ter conhecido o trabalho do grupo através da versão que fizeram de “Kids In America” que entrou na trilha de As Patricinhas de Beverly Hills.
Correm boatos de um possível show no Brasil em breve então cruzem os dedos e torçam amigos. Particularmente realizarei um sonho se isso acontecer de fato.
Outra banda que faz um som de certa forma me lembra a sonoridade de alguns discos do The Muffs é a Diablo Angel. Por mais que as referências deles sejam mais calcadas no grunge/rock alternativo dos anos 90, o Muffs está ali no caminho com toda a certeza.
Gosta de: Gorillaz
Talvez goste de: Moblins
O projeto de Damon Albarn (Blur) que reúne diversos músicos como Mick Jones (The Clash) traz muitas memórias para quem cresceu nos anos 90. Principalmente pela criativa narrativa em quadrinhos e seus personagens um tanto quanto “perturbados”. Hits como “Feel Good Inc.”, “Clint Eastwood” e “19-2000” cansaram de tocar nas FM’s por anos e uma legião de fãs ainda se arrasta para ver os pouquíssimos shows que o grupo realiza.
O Gorillaz também é uma das influências confessas do duo Moblins de São Paulo. O grupo que recentemente participou do tributo aos Titãs (O Pulso Ainda Pulsa) causa estranheza por suas camadas sonoras e excentricidade. Para vocês terem uma ideia eles tiveram que criar um rótulo para tentar explicar a loucura que é a experiência de ouvi-los: o Dark Pop.
Gosta de: Alceu Valença
Talvez goste de: Coutto Orchestra
Alceu Valença com toda certeza é uma das vozes mais marcantes da música nordestina. O pernambucano é tão venerado que recentemente ganhou um tributo em sua homenagem organizado pelo site Scream & Yell: Ainda Há Coração (2016).
Uma banda que ficou de fora do tributo porém que bebe da fonte é a Coutto Orchestra de Aracaju (SE). O grupo inclusive acaba de lançar o seu segundo disco, Voga (2016), este que conta com uma versão incrível de “Senhora Dona”. No ritmo embriagado da sanfona a canção ganha em sua batida o recurso do dubstep e sons de uivos. Ouça o álbum lançado no começo do mês.
Para outros Hits Perdidos acesse: www.hitsperdidos.com
O programa Hits Perdidos vai ao ar toda terça-feira às 19h30 na Mutante Radio e de segunda a sexta (às 22h) o palco é das bandas no Dezgovernadoz (na Mutante Mecânica). Quer ter o som da sua banda na programação? Entre em contato com a página do Hits Perdidos no Facebook.