Com quase 15 anos de estrada, a banda paulista La.Marca desde 2009 tem sido um dos grupos mais atuantes dentro do cenário underground. Essa atuação não envolve apenas o grupo como banda, mas em projetos diversos que passam por produção de shows de outros grupos, estúdio para ensaios e gravações e até canais de comunicação como podcasts.
Assim, com essa trajetória envolvendo uma série de conhecimentos na área, a banda também possui certa qualificação para falar sobre os bastidores do underground que traz muita coisa legal e coletiva, mas que por sua vez também revela diversos problemas e contradições. No entanto, apesar de tudo, o grupo mantém uma perspectiva positiva sobre o futuro, sobre a vida e sobre o significado do verdadeiro sucesso que para alguns envolve grana e fama, mas para o La.Marca possui uma relação mais próxima de ser e manter seu caráter intacto, assim como a lealdade de princípios e valores de dignidade.
Atualmente o grupo é formado por Danilo (vocal e fundador do grupo), Dudu (guitarra), Roni (guitarra), Dih (baixo) e Evandro Funga (bateria). A banda mistura influências de punk rock, metal e hardcore californiano com letras que abordam, sobretudo, temas do cotidiano urbano e saúde mental. Neste mês, a banda lança o single “Deixe o Sol Entrar” como forma de conscientizar seus ouvintes sobre a campanha “Setembro Amarelo” para a prevenção ao suicídio.
Confira o nosso papo com a banda e não deixe de ouvir o single e seguir o La.Marca em outras redes sociais. Mas principalmente, deixe que a mensagem do novo single chegue aos ouvidos de quem você acha que precisa neste momento de apoio e de uma demonstração de que outras pessoas se importam. Você pode nem imaginar, mas talvez esteja salvando uma vida.
NADA POP – O novo single da banda traz o tema saúde mental, mas algo me chamou atenção: o single foi escrito pelo “saudoso” irmão do guitarrista Dudu. Desculpe, mas o que houve com o irmão do Dudu?
DUDU – Obrigado pelo espaço Nada Pop, tamô junto! Eu e o meu irmão e Luisão tínhamos uma banda juntos (Fritopan). Então, além de irmãos, éramos parceiros em vários momentos da vida, fazendo música, rolês, skate etc.
Mas infelizmente o destino separou a gente quando o meu irmão foi assassinado em 2006. E eu tenho deixado ele eternizado com as letras e composições que foram colocadas em várias músicas do La.Marca. Então, de alguma forma, a parceria entre irmãos dura até hoje. Eu toco por mim e pelo meu irmão Luizão.
NADA POP – Falar sobre saúde mental, trazer referências sobre a luta contra o suicídio… Vocês possuem experiência com esse tema de forma direta? É possível contar alguma experiência e como lidaram com isso e enfrentaram essa situação?
DANILO – Sim. Acredito que todo mundo em algum momento da vida já passou por dificuldades e teve a saúde mental prejudicada. Eu posso relatar a minha experiência. Há cerca de dois anos venho me tratando da ansiedade, tentando ser menos esponja e mais filtro. Pra quem me conhece e acompanha, nos últimos anos eu fui bem ativo com relação à produção de conteúdo para a cena underground, por um tempo foi bem legal, principalmente quando produzia o Podcast o Dia Depois de Amanhã. Mas após topar apresentar um programa de rádio, onde tocava sons independentes, minha saúde mental foi pro ralo. Além das dificuldades de tocar um projeto deste durante a pandemia, eu acabei esbarrando em pessoas que não estavam tão a fim de colaborar. Isso pegou muito, até mesmo com a volta do programa no início do ano. Me fez mal, a ansiedade atacou, tive crises em cima do palco, fora o lance de absorver coisas desse rolê que me fizeram mal.
Hoje estou caminhando bem após muita terapia, mas ainda preciso me policiar. Nunca me passou pela cabeça fazer algo extremo, mas nos momentos de crise de pânico, eu recorri às pessoas que me acolhem e me amam. É um processo e tem sempre que se manter atento.
NADA POP – Vocês citam que a banda está em uma nova fase, com letras reflexivas. Isso é um impacto direto da pandemia? Como surgiu essa virada de chave?
DANILO – Na real, a gente sempre teve essa linha junto com tantas outras. O La.Marca nunca se limitou a fazer som pra uma vertente, desde musical até na mensagem. Falamos de tudo sempre. Mas no meio de 2017, quando a gente viu que o caos tomaria conta, a gente decidiu que a nossa mensagem seria de esperança e que iríamos remar contra a maré da bolha que estávamos inseridos. Acreditamos que toda banda de punk rock e hardcore tem que falar de política, mas não é só isso. Acreditamos que as atitudes valem muito, cantar, reclamar e protestar é necessário, mas tem o passo seguinte, tem a ação, tem o fazer. É nisso que acreditamos.
NADA POP – Qual foi a maior dificuldade durante o período da pandemia pra vocês? Muita gente teve o emprego afetado, outros a saúde e poucas pessoas de verdade passaram por isso de forma intacta. Aproveitando, quando a ficha caiu que estávamos em uma pandemia?
DANILO – Como banda, sem dúvida, foi não poder estarmos juntos. Eu tive um pouco de sorte, pois morava no mesmo condomínio que o Amarula, nosso ex-baixista, então a gente se via às vezes tomando todos os cuidados. Mas foi bem complicado pra todos. O Roni, nosso guitarrista, era taxista, aí você já deve imaginar a merda que foi. Dudu era gerente de recepção de hotel e o Funga metalúrgico. Só profissões que foram bem afetadas. Não tem como a cabeça ficar boa. Pra uns demorou a vir e ficar meio biruleibe, eu mesmo foi só no final da pandemia, como relatei acima. A ficha caiu quando cancelamos 5 shows marcados de uma só vez. Ali eu disse: ferrou, meu chapa. Vou ter que botar em prática tudo que aprendi vendo filmes apocalíticos.
NADA POP – 15 anos de banda em 2024. Podemos falar da existência de cenário ou é cada um por si? Abre o coração Danilo!
DANILO – Golpe tá aí, só cai quem quer. Kkkkk
Mas falando sério, a cena existe. O que não existe é um senso real de coletividade. Tem um clima de competição desnecessário, quem tem mais like, quem tem mais “engajamento”. Isso é só combustível para merda e pra produtor de megafestivais. Se fala muito em profissionalismo, em se ter o mínimo de condição para as bandas da cena. Eu acho super necessário, mas infelizmente as bandas cometem erros de amadores. Aqui vai minha crítica, o que mais se vê é bandas fazendo um monte de shows próximos na mesma cidade, com line-ups repetidos.
Eu gosto de tocar, por mim tocava direto, mas isso desgasta o público que já é pouco, e também traz insegurança para quem produz. O público quer novidade, shows precisam ser uma experiência legal e diferente para dar vontade de ir. As bandas precisam jogar no mesmo time. Sei que muito amigo meu vai ficar pistola com o que eu disse, mas podem vir falar comigo e não levem para o pessoal. Não sou o dono da verdade, mas acho que tenho um tiquinho de propriedade pra falar dessa caralha, né?
Ufa, tô leve! rs
NADA POP – O que faz uma banda ser daquelas parceiras, companheiras de trajetória e que você ajudaria sem pensar duas vezes, daquelas que não valem sequer ser citadas em entrevistas como essa?
DANILO – Respeito! Se a banda respeita a história da outra, já se começa a construir uma boa relação. Eu não tenho problema algum em citar as que estão comigo nessa. O Fistt, por exemplo, é uma banda que olhou o rolê da forma que ele tem que ser olhado. Por isso, eu hoje acabei tendo uma relação mais próxima com o Nick, só tá faltando um churras (mas já tô pensado em trazer os véio pra cá.), até porque está mais fácil, já que o Funga agora toca no Fistt também. Mas posso listar algumas bandas que sempre estão conosco ajudando nos lançamentos, divulgando e colando nos shows. Sentido Bairro (fica a dica, bata um papo com o Rodrigo, vocalista), tem os jovens da Lozanos, os novatos da Elo Perdido e Alquimistaz, e os nossos irmãos da Cannon Of Hate, isso pra falar de algumas. Mas já sinto que esse grupo tá pra aumentar com a galera que vamos conhecer ao longo desses shows.
NADA POP – Em relação aos shows, qual a previsão de datas e com quem vocês irão tocar?
DANILO – Vamos fazer uma mini tour pra divulgar o single. De setembro a dezembro vamos pegar estrada: shows na grande SP, litoral e interior. Armamos sozinhos tudo, já que fomos meio esquecidos. Tirando o último show em Itu, que recebemos o convite dos nosso maninhos da Holiday Nice, o resto foi eu e o Dih (nosso novo baixista) que armamos tudo.
NADA POP – Você tem diversos projetos, como andam todos eles (podcast, estúdio etc.)?
DANILO – Tinha muitos projetos, parei todos pra cuidar da minha saúde mental. As garfadas e dificuldades me fizeram muito mal, tenho minha parcela de culpa nisso. Porém, ainda tenho o sonho de poder voltar a sentar com uma galera e bater papo sobre as dificuldades de se ter uma banda underground (aquele que não tem grandes festivais e nem cachês). Ou até mesmo falar de uma outra paixão minha que é o futebol.
Já o estúdio está a todo gás aqui. O que tem de amigo sem vergonha que ainda não colou aqui, não tá escrito… rs

NADA POP – Escolha uma dessas alternativas e explique o motivo dessa escolha: Ter uma banda pra você significa exatamente o quê: A) Terapia; B) Diversão; C) Amizade; D) Liberdade; E) Arte; F) Todas as alternativas estão corretas, mas bem que poderia ser um pouco de dinheiro também.
DANILO – Alternativa F. O La.Marca é tudo isso pra mim. Dinheirinho seria legal, oportunidades pra tocar pra mais pessoas seria incrível, pois acredito que a nossa mensagem seja legal e útil pra muitas pessoas.
NADA POP – Se a história da La Marca virasse um filme, qual seria o estilo desse filme e além da banda, claro, quais outros personagens dessa história não poderiam faltar?
DANILO – Uma comedia dramática, cheia de reviravoltas. O personagem principal seria um público com boa vontade de ouvir outras bandas fora do “mainstream underground”. Tem muita gente afim de fazer e que já entendeu que as barreiras precisam ser quebradas.
NADA POP – Sério mesmo que você gosta do Neymar mais do que do Messi?
DANILO – Aí que você está enganado, o pai aqui é “CR7”.
O cara colocou na cabeça que seria um dos melhores, foi lá e se tornou bom. CR7 ouviu os sons do La.Marca, colocou tudo em prática e deu no que deu.
Messi é genial, mas enjoa né?
O Ney é um caso complicado, o brasileiro tem o costume de criticar quem dá certo e o cara ainda vive dando motivo. É bom de bola e se discordar disso é birra pura. Mas como pessoal não quero pra ser amigo, só pra fazer uns golzinhos na seleção rs.
NADA POP – Deixe uma mensagem final sobre o que significa vencer para vocês.
DANILO – Vencer é poder colocar a cabeça no travesseiro e dormir de boa, sem atrasar o lado de ninguém, sem ser ingrato e injusto. É difícil nos tempos de hoje. Mas quem disse que vencer é fácil? Tamô junto Nada Pop, a gente se sente em casa falando com vocês.
Ouçam Deixe o sol entrar neste Setembro Amarelo. A gente traz uma mensagem de esperança e paz para todos aqueles que precisam de ajuda. Se você é uma destas pessoas, procure ajuda de um especialista e converse com quem te ama, ou ligue para 188 para falar com o Centro de Valorização da Vida gratuitamente. Você não está só.
Bebam água e colem em algum show!
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