Jumentor, primeiro disco do Muzzarelas, foi lançado em 1995 pelo selo Devil Discos e com produção de João Gordo. A estreia marca o nascimento de um dos clássicos do punk nacional com canções que falam sobre cerveja, monstros e alienígenas, mais cerveja, hippies e até de um serial killer.
Depois de anos fora de catálogo, o álbum ganha sua reedição pelos selos Spidermerch e Chopsuey Discos. Em formato digipack, vem acompanhado de um encarte de 16 páginas entupido de fotos da época, cartazes e flyers.
O disco foi remasterizado por Maurício Cajueiro ganhando mais peso e trazendo à tona aquela estilo desgraceiro característica do Muzzarelas.
É possível adquirir o álbum aqui: www.spidermerch.com.br ou www.chopsueydiscos.com
Confira abaixo a nossa entrevista com o Daniel Ete, baixista do Muzzarelas, e curta a página da banda clicando AQUI.
NADA POP – Gostaria de começar perguntando o seguinte: Jumentor foi lançado em uma era pré-internet e agora é relançado pela Chop Suey e Spider Merch. Vocês tinham alguma noção que estavam criando um clássico do punk nacional?
MUZZARELAS – Acho que na época éramos uns desmiolados, a gente não tinha noção de absolutamente nada, mas fico feliz que as pessoas gostem das músicas até hoje. Ficamos bem satisfeitos com a forma que o disco atravessou o tempo e ainda é lembrado hoje em dia. Tem muito disco que saiu naquela época, vendeu bem mais que o nosso, que teve bem mais aceitação na mídia e que hoje em dia ninguém mais lembra que foi lançado. Nós assinamos com a Devil Discos para lançar o Jumentor, em 1993, quando a banda tinha uma boa projeção por causa do festival Juntatribo e de um súbito interesse da mídia e das gravadoras em bandas garagentas que cantavam em inglês (talvez buscando um novo Sepultura ou um novo Nirvana, sei lá). Mas o disco só foi lançado em setembro de 1995 quando o cenário era completamente diferente, já que nessa época o interesse era em bandas que misturavam música regional brasileira com rock e ninguém parecia se interessar por uns caipiras que ainda cantavam em inglês e o Jumentor acabou passando batido para um monte de gente, salvo o povo doido chafurdador de podreiras sonoras que caga e anda para o que a maioria das pessoas ouve.
NADA POP – Qual foi a importância do Jumentor para a carreira da banda e quais diferenças vocês julgam melhores e piores para a divulgação de um trabalho como esse hoje em dia?
MUZZARELAS – O Jumentor nos trouxe a famosa maldição do primeiro disco, você pode lançar discos durante a vida inteira, mas muita gente sempre acaba preferindo sempre o primeiro disco (hahahaha). Mas na verdade isso é uma coisa fabulosa, significa que pelo menos em algum momento acertamos. Mas na verdade apesar do disco não ter tido uma grande visibilidade quando saiu, a impressão que eu tenho é que ele chegou nas mãos e nos ouvidos das pessoas certas, daquelas que por algum motivo esperavam por um disco que falava de cerveja, monstros alienígenas ou não e a temática trashona do lado torto da vida. Divulgar o trampo de uma banda como a gente, que não tem como hábito surfar na onda do momento sempre é complicada. Mas a partir do momento em que você consegue descobrir por onde andam e o que fazem as pessoas que podem se interessar pelo som que você faz, a coisa fica mais fácil e direcionada, não adianta tentar atingir a todos, tentar abraçar o mundo com os dedos. Antes fazíamos isso através de cartas, hoje é através da internet, basicamente mudou o meio, mas os princípios continuam os mesmos.
NADA POP – Como foi trabalhar com o João Gordo na produção desse disco e se existe alguma história bacana (engraçada, sei lá) que vocês poderiam contar a respeito desse período trabalhando com ele?
MUZZARELAS – O Gordo nos deu muito apoio, acreditou na gente quando nem tínhamos saído de Campinas ainda, gostou do som e nos deu a oportunidade de gravar o Fun, Milk and Destroy, a parceria deu certo e depois ele nos convidou para gravar um álbum pela Devil. Tanto ele quanto o R.H Jackson são companhias perfeitas para ficar trancado dentro de um estúdio, a gente ficava matando a larica com sorvete de banana, trocando ideias sobre desenhos animados e sobre som o tempo inteiro enquanto o disco ia saindo naturalmente. Ensaiamos bastante antes de entrar no estúdio, as músicas já estavam bem definidas, foi tudo bem tranquilo, tipo parada de camarada mesmo, sem neuroses, foi uma parada bem agradável. Particularmente, eu só tenho boas recordações do verão de 94/95, quando o disco foi gravado. Recusamos propostas de algumas gravadoras grandes (isso quando elas existiam) para a gente assinar, mas todas elas queriam que mudássemos o nosso som, que cantássemos em português e tudo o que a polícia da música e do bom gosto ditavam na época. Mas a única coisa que a gente tinha de verdade era o nosso som, se mudássemos isso para tentar agradar a um mercado perderíamos tudo o que a gente tinha, então preferimos lançar o disco pela Devil, que além de nunca ter dado nenhum pitaco no nosso som, ainda colocavam o Gordo para produzir a gente, que era um cara que entendia perfeitamente o que a gente fazia, assim como o Jack. Fora que enquanto os outros contratantes interessados lançavam as bandas que a gente não gostava muito não (com raras exceções) a Devil lançava as bandas que a gente sempre pagou um pau, tipo Cólera, S.A.R, Anthares e Restos de Nada.

NADA POP – Eu vi que vocês há poucos anos não eram donos dos direitos do disco. É meio doido isso, não? Porque vocês são os autores, vocês que criaram o álbum e não eram donos desse trabalho. Como foi recuperar os direitos e como é essa história de fazer o álbum, mas não ser dono dele?
MUZZARELAS – Nós não tínhamos direitos sobre os fonogramas, isso era bem normal na época se algum selo bancasse toda a gravação do disco, que foi o que a Devil fez, pagou o Gordo, o Estúdio, a prensagem e tudo mais. Mas depois que a Devil fechou a loja na galeria o Jumentor acabou ficando parado, tentamos negociar os direitos sobre os fonogramas uns 15 ou 10 anos atrás, mas não rolou. Até que, uns 2 ou 3 anos atrás, eu acabei conhecendo a Angélica que é filha do Chicão (dono da Devil Discos) e retomamos as negociações, ele fez uma proposta bem generosa pra gente e topamos na hora, agora somos donos de todos os fonogramas dos discos gravados pela banda.
NADA POP – São 25 anos de existência e gostaria de saber se vocês possuem alguns conselhos para quem tem banda e espera conseguir durar tanto tempo quanto vocês. Julgam que é mais fácil ter banda hoje em comparação com a época que vocês surgiram?
MUZZARELAS – Meu conselho é o seguinte: se a música que você faz não é a música que você gostaria de ouvir, você está no ramo errado. Se a parada não for de coração, não vale a pena. É só um emprego como qualquer outro, só que paga bem menos (hahahahaha). Só conseguimos durar esses 25 anos (tudo bem que paramos por 3 anos, mas mesmo assim ainda é um tempo para uma banda que nunca ganhou muita grana tocando), porque nós gostamos muito do som que fazemos. No meu caso, acredito que se eu não tocasse na banda eu ia ser um fiel seguidor, fizemos o Muzzarelas para ser a banda que gostaríamos de ouvir, punk rock com solos farofa, vocal metalero, letras desmioladas e discos com estranhas criaturas na capa.
NADA POP – Acho que vocês são uma das bandas que a galera sempre lembra com carinho, sinônimo de diversão e tenho certeza que isso é pelo fato de vocês nunca terem perdido a essência de vocês. Acreditam que anda faltando “essência” hoje em dia na música?
MUZZARELAS – Nunca conseguimos ser outra banda que não fosse os Muzzarelas, e ficamos felizes que existam pessoas que reconheçam isso. Hoje vejo muitas bandas sem ter muito a oferecer que não seja um conceito ou uma estética, tudo muito milimetricamente calculado e executado, mas faltam boas canções, aquelas que basta ouvir uma vez para bater. Evidente que nem todas as bandas novas são assim, existem bandas ótimas, bandas de verdade, gente que faz o que faz porque gosta e foda-se o resto… Ainda bem. Como sempre são minoria, mas são os que contam, são os que valem a pena, os que serão lembrados por nunca ter dado um peido fora do penico.
NADA POP – Aproveitando, quais bandas vocês estão escutando e quem vocês recomendam. Costumam ouvir bandas novas com frequência?
MUZZARELAS – O Alexandre adora bandas novas de metal e diz que a gente ficou velho e só ouve bandas velhas, bom ele tem uma boa dose de razão (hahahaha). Escuto muita coisa antiga, algumas coisas que apesar de antigas ainda são novas para mim porque eu ainda não conhecia. Mas de um tempo pra cá comecei a ouvir bandas novas de novo, tipo Radkey, Red Dons, Sheer Mag, Motor City Madnesss, Bode Preto, Human Trash entre outras. O resto dos caras praticamente só ouve velharias.
NADA POP – O último disco de inéditas de vocês é de 2010, o “We Rock You Suck!”. Tão pensando em lançar um disco de inéditas? Se sim, pra quando?
MUZZARELAS – Recentemente gravamos três sons novos inéditos, mas ainda não decidimos o que fazer com esse material, tem mais um monte de coisa sendo composta também. Logo deve ter um monstrinho novo nas melhores casas do ramo, talvez em 2017. Ficamos esses 6 anos sem lançar nada porque assim que o We Rock You Suck! saiu resolvemos acabar com a banda, mas esse fim só durou uns dois ou 3 anos, precisávamos tirar ferias uns das caras dos outros se não ia sair morte (hahahahaha). Logo depois que voltamos trocamos de batera, o que deu uma quebrada no ritmo das coisas, até o Marcel Lobizomi que é o novo batera deixar tudo ajeitado, desde que começamos esse foi o maior período que passamos sem lançar coisas novas.
NADA POP – Sem dúvida é muito difícil viver de banda no Brasil, poucas realmente conseguem. Gostaria de saber com o que vocês trabalham e se em algum momento a banda foi a principal renda de vocês.
MUZZARELAS – Nunca vivemos da música dos Muzzarelas, sempre tivemos outras ocupações, o que acabou possibilitando que o som da banda pudesse atravessar esses 25 anos praticamente intacto. Na banda temos 2 professores, 1 diretor de arte, 1 cabra que cuida da contabilidade de uma oficina mecânica e eu que tenho uma loja de disco, produzo shows e sou ilustrador.
NADA POP – Pensando nesse lado, acreditam que é possível existir uma cena independente auto-sustável que possibilite bandas e casas de shows se manterem com mais facilidade? Dá para ver caminhos ou lugares onde isso já aconteça?
MUZZARELAS – Eu acredito que sim, hoje é bem viável que alguém invista uma grana em sua banda e essa grana volte, não é fácil, mas também não é impossível. Muita gente tem conseguido gerir isso de uma forma bem legal, fazendo e vendendo merch e tocando por aí. Hoje você consegue ver varias bandas viabilizando turnês pelo Brasil e pelo exterior, coisa que quando começamos era muito mais complicado.
NADA POP – Agradeço o papo, deixo esse espaço para vocês comentarem e acrescentarem o que quiserem. Grande abraço!
MUZZARELAS – Nós que agradecemos pelo espaço e pela oportunidade. Comprem o Jumentor, comprem dois e deem um para algum amigo, mas se não tiver grana podem baixar na net ou gravar um K7.
Uma resposta
Mestres da Cerveja e da Diversão!!!