Punk, hardcore e alternativo

David Bowie em Berlim, na Alemanha, em 1987. Foto por Denis O’Regan
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Músicos relatam suas primeiras experiências com David Bowie

O falecimento de David Bowie no dia 10 de janeiro, aos 69 anos, pegou um monte de gente de surpresa. Difícil imaginar que o camaleão do pop/rock tenha partido, ainda mais com o lançamento de um novo álbum dois dias antes de sua morte.

O álbum “Blackstar” ganhou contorno de despedida do artista, ao mesmo tempo que demonstra mais uma vez a sua criatividade e talento, não só pela música, mas por toda uma vida dedicada a arte até o último instante. Apesar das especulações sobre a sua saúde nos últimos anos, pouco ou quase nada se sabia sobre o câncer que o levou no início deste ano, tanto que muitas pessoas alimentaram a esperança de um possível retorno do Bowie aos shows, algo que deixou de acontecer em 2006.

Bowie pode ter partido em sua nave espacial e voltado para a sua terra natal, mas sua obra permanecerá influenciando outros artistas e sendo descoberta. Assim, trazemos depoimentos de alguns músicos sobre as suas primeiras experiências com o camaleão do rock, numa tentativa simples de demonstrar que nunca é tarde para conhecer quem fez diferença na música e na contracultura. Confira os depoimentos abaixo e aproveite para ler ouvindo essa playlist especial com 10 músicas do Bowie no Spotify – clique AQUI.

Minha mãe gostava de Bowie desde sua adolescência, ela tinha 15 anos quando o “Rise and Fall of Ziggy Stardust” saiu e conheceu ele nessa época. Eu já tinha seu nome como uma lembrança da infância. Lembro de assistir “Christiane F.” na escola, fazia parte daqueles filmes educativos que algum professor inventava de passar. Mas o primeiro contato mesmo foi com “Rebel Rebel” e principalmente “Be My Wife” do disco Low. Vendo os clipes na TV, foi um choque. Eu não sabia se era homem ou mulher e de qual país ou planeta tinha saído, estranho e chocante quase 30 anos depois. Na manhã de segunda-feira me contaram que o David Bowie faleceu. Fiquei em choque, não esperava. Ele foi um artista até o fim. Uma das coisas mais legais dele é que ele fez outros alienígenas não se sentirem tão sozinhos – Caio Felipe, guitarra e vocal da banda Sky Down.

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Caio Felipe, da banda Sky Down – Foto por Fernanda Gamarano

Minha história com David Bowie é curiosa. Ele sempre esteve lá, querendo que eu o descobrisse, mas eu teimava em não notá-lo. O primeiro contato foi no filme Labirinto, que vi no cinema quando era criança. Ali, ele, pra mim, era só um personagem num conto de fadas. Mais tarde, lembro-me de, quase adolescente, saber a letra de Astronauta de Mármore, do Nenhum de Nós e de gostar do violãozinho que abre a música, sem saber que aquilo era uma versão de Bowie. Já adolescente, minha banda favorita, o Nirvana, esfregou The Man Who Sold the World na minha cara. Quando ouvi a original, decretei que a versão cantada por Kurt Cobain era melhor e que Bowie era muito “frufru” pra alguém que, do alto dos 13 anos, era dono da razão e só queria saber de ouvir Ramones e Sex Pistols. Tanto que nem cogitei vê-lo no festival Close Up Planet em 1997. Por sorte, anos depois, minha ex-mulher, então namorada, a Cíntia, me abriu a cabeça para bandas hoje essenciais para mim, como New Order, Depeche Mode e Duran Duran, o que me fez abrir os olhos e ouvidos para a música do Bowie. Depois de ver Velvet Goldmine com ela, pirei na fase Ziggy Stardust e na história dele com o Iggy Pop. Suffragette City é minha música favorita, entre tantas obras primas. Lamento ter demorado tanto tempo para descobri-lo, lamento ainda mais não tê-lo visto ao vivo, mas agradeço ao Bowie por ter insistido tanto em entrar na minha vida para sempre – Carlos Eduardo Freitas, integrante das bandas Orange Disaster, Combover e Bloodbuzz.

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Carlos Eduardo, com a Combover. Foto de Juliana Chiappa

A primeira vez que o Camaleão entrou na minha vida foi em uma festinha em Brasília, na época em que você pagava apenas R$5, levava algumas cervejas quentes e bebia mesmo assim. De repente começou a tocar “Changes”. Uma amiga me puxou para dançar dizendo que a música era foda. Aquele “ch ch changes” foi certeiro! Pedi para o DJ, que era meu amigo, para tocar mais músicas desse “cara”. Ele tocou algumas na sequência. Acho que nunca fiquei tanto tempo dançando de olhos fechados algo que eu não conhecia – Deb Babilônia, vocalista da Deb and the Mentals.

Deb Babilônia, vocalista da banda Deb and the Mentals - Foto por Fabio Jr.
Deb Babilônia, vocalista da banda Deb and the Mentals – Foto por Fabio Jr.

Não sei precisar o primeiro contato com Bowie, mas deve ter sido quando eu tinha 14 anos e comecei a me interessar mais por rock. Era comum ouvi-lo em programas de classic rock no rádio. Depois do cover que o Nirvana fez, me interessei mais por ele. Fui impactado pelo art rock de Alladin Sane, o soul de Young Americans, o experimentalismo de Low, o pop irresistível de Let’s Dance, a esquizofrenia digital de Earthling e por aí vai. Ainda que inserido dentro da tal indústria do entretenimento, ele nunca deixou de produzir arte e o seu legado se perpetuará no tempo. Para mim, ele ainda vive – Dija Dijones, das bandas Loyal Gun, Chabad e Penhasco.

Dija Dijones - Foto arquivo pessoal
Dija Dijones, das bandas Loyal Gun, Chabad e Penhasco. Foto arquivo pessoal

Conheci Bowie através da música Ziggy Stardust, primeiro pelo cover de Bauhaus, depois gravei em fita K7 o álbum The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, e este se tornou um dos discos que mais escutei. Seu envolvimento com a peça teatral de Warhol; e também apresentações teatrais durante seus shows; atuações em alguns filmes em especial Basquiat; produtor de diversos trabalhos de grandes músicos em especial Iggy Pop e Lou Reed, o credenciam como o artista mais completo que flertou com o Punk Rock. Tenho que citar também sua declaração de bissexualidade ao jornal Melody, isso num momento de grande visibilidade na mídia, uma atitude transgressora, revolucionária que serviu de inspiração para muitos. Amarei para sempre nosso querido camaleão do rock – Fábio Rodarte, integrante das bandas Sarjeta, Kaos 64 e Hino Mortal.

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Fábio Rodarte (ao fundo Ariel Invasor), integrante das bandas Sarjeta, Kaos 64 e Hino Mortal. Foto por José Celestino

Meu primeiro contato com David Bowie, na verdade quando criança já ouvia as músicas, mas não sabia que pertenciam a ele… Afinal, eu era muito criança e não sabia muito ainda sobre o mundo do rock…. Vou falar que meu contato mais profundo foi agora depois dos 20 anos… Starman é que me marcou mais devida aquela versão do Nenhum de Nós em português… E depois fui vendo e conhecendo as músicas que eu já ouvia como Modern Love e Lets Dance, e que elas eram do Bowie… A sua androgenia, suas roupas e estilo de viver me fascinam até hoje, pois ele sim soube viver e usar seu talento para fazer sucesso sem se importar com regras de como se vestir ou se portar, ele era ele mesmo, mesmo sendo um personagem ou não. Não existe alguém como o Bowie, mas existem muitos que se inspiram e tentam ser David Bowie, eu sou uma delas…. Ele me inspira até hoje em questão artísticas e conceito. Espero chegar perto (mesmo sendo difícil) do que ele foi com minha musica. Mas marcas boas ele me deixou – Fernanda Gamarano, guitarrista da Der Baum.

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Fernanda Gamarano, guitarrista da Der Baum.

Acho que a primeira vez que eu ouvi David Bowie não foi exatamente David Bowie, mas sim as versões do Nirvana, para The Man Who Sold The World, e do Nenhum de Nós, para Starman. Depois que descobri que eram dele eu não cheguei a dar muita atenção, eu era aquela adolescente que dizia que gostava de nada que não fosse punk rock. Esse preconceito acabou caindo quando eu fui me aprofundando no Stooges, descobri a carreira solo do Iggy Pop e acabei esbarrando no Bowie pela relação dos dois músicos (se o Iggy fecha com ele, então deve ser bom mesmo!). Então eu comecei ouvindo os clássicos, depois os principais discos e fui entendo a dimensão do trabalho dele e o impacto que teve na sonoridade e na estética da música ocidental contemporânea. É como o Ramones, a influência do Bowie permeia o pop e o rock quer você enxergue, quer não – Filipe Oliveira, vocalista e guitarrista da The Gap Year.

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Filipe Oliveira (com a camisa do Social Distortion), guitarrista e vocalista da The Gap Year.

Em 1987, lá em Santos, na rádio Tribuna FM, tocava “Modern Love” direto. Era um ótimo hit com uma pegada bem dançante e obviamente, eu tinha ela em uma das coletâneas que eu gravava em fita K7. O tempo foi passando e eu fui me distanciando do cara, mas sempre de olho, na esperança de ouvir algo que me tocasse. Em 1992, assistindo ao Tributo a Freddie Mercury, que passou ao vivo na Bandeirantes, o dueto dele com a Annie Lennox (em “Under Pressure”) me deixou de queixo caído. Além disso, nesse mesmo show, ele se reuniu com o seu parceiro de Ziggy Stardust, Mick Ronson, e com o Mott the Hoople, e mandou “All the Young Dudes” e “Heroes”. Ali começou a minha busca pela obra dele. Aliás… que obra!!!!! – Matheus Krempel, vocalista e guitarrista do The Bombers.

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Matheus Krempel, vocalista e guitarrista do The Bombers. Foto por Roberto Gasparro.

E pra você? Conte como foi a sua experiência com o David Bowie nos comentários.

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