Por Bruna Neto
Se você encontrar uma mina de cabelo colorido e visual peculiar no rolê independente, é a Fernanda Gamarano, responsável por uma das guitarras, composições e por uma das várias vozes marcantes da Der Baum. Com uma pegada difícil de rotular, que traz influências de movimentos como new wave, pós-punk e dance, a banda formada no meio underground do ABC Paulista agrada a quem procura ouvir uns riffs pesados, letras chiclete e até a quem prefere dançar durante todo o show – o que tem garantido que o grupo beire o mainstream.

Voltando a falar da Fernanda, a tinta que ela passa no cabelo ou a roupa da vez são apenas a casca da personalidade da pessoa que está à frente de todos os assuntos da banda, incluindo a divulgação. Ela é a energia que liga todos os galhos dessa árvore – que é o significado do nome de origem alemã do grupo – e, muito mais que musicista, é a mulher que vive se reinventando e se apegando aos seus talentos para ganhar o seu. Essa parte da história ficará mais clara para quem acompanhar as novidades lá no perfil e nas páginas dos empreendimentos da Fe no Facebook. Aqui, ela fala sobre suas experiências com a música e sobre alguns episódios de preconceito que ela vivenciou. É só rolar a página!
NADA POP – Como é a sua história com a música? E com o rock?
FERNANDA GAMARANO – Minha história com a música começou quando eu era criança. Meus pais costumavam ouvir Beatles, Bee Gees, Michael Jackson, Kiss… E também um pouco de sertanejo, como Tunico e Tinoco ou Sérgio Reis, mas aquele de raiz, que é muito bom… Não esse universitário que temos hoje! Já minha história com o rock começou perto dos meus onze anos. Meu pai tinha uma guitarra que antes dessa idade eu já pegava e ficava brincando, mas foi aos onze que falei para o meu pai “Quero aprender a tocar guitarra!” de verdade. As primeiras bandas de rock que ouvi foram Metallica, Iron Maiden, Green Day, Offspring e Red Hot Chili Peppers. Com o tempo, meu gosto musical foi se modificando.
NADA POP – Me conta sobre as suas bandas. Você tem algum projeto paralelo, mesmo que não seja referente à música, que gostaria de destacar?
FERNANDA GAMARANO – Eu tenho duas bandas. A Intrinseco, que foi a minha primeira banda de rock autoral. O som é bem diferente da Der Baum. Na verdade, o Ian (tecladista da Der Baum) e o Lucas (baixista da Der Baum), fazem parte também da Intrinseco. Tenho outro projeto paralelo à música, que é a fotografia. Eu gosto muito de fotografar, principalmente bandas, então se minha banda toca em algum pico, eu aproveito e tiro fotos das outras bandas… É uma paixão, adoro fazer fotos por aí!
NADA POP – Como você enxerga o cenário underground de forma geral?
FERNANDA GAMARANO – Se formos ver pelo lado da quantidade de bandas que temos na cena e da qualidade do som, digamos que estamos bem! Tem muita banda boa por aí e vejo que hoje a cena melhorou bastante. Há alguns anos estava muito decadente! Ainda não digo que está perfeito, mas que está caminhando para um lado positivo!
NADA POP – Como você enxerga o cenário underground como mulher? É diferente para a mulher tocar/cantar/se expressar? Você já sentiu alguma resistência? Já vivenciou ou já viu algum caso de abuso, preconceito, discriminação?
FERNANDA GAMARANO – Ser mulher já muda muitas questões e quando entramos pro rock também mudamos muitas coisas! Posso dizer que hoje vejo muitas mulheres com bandas, tocando por aí, coisa que anos atrás era bem mais raro de ver. E, sim, há preconceitos, porque sempre vai ter aquela comparação “Nossa! Você toca guitarra/baixo/bateria que nem um homem!”. Às vezes, não é por mal, mas esse tipo de “elogio” vem de uma sociedade machista que vivemos, porque é difícil um homem dar o braço a torcer quando vê uma mulher que toca melhor que ele.
Tem também aquele caso que você nem pode tocar de saia, que tem medo de algum cara estar na ponta do palco só pra tentar ver sua calcinha e foda-se o que você está tocando. Isso acontece e muito com as meninas que tocam! E se for uma banda só de mulher, aí que o respeito muda. Parece que olham pra você como um pedaço de carne e não como um artista… Sim, há exceções, mas mesmo assim tem esse desrespeito! Comigo, graças a Deus, nunca houve muito desrespeito tocando e, sim, aquele comportamento de que sou uma artista como qualquer outro do meio. Quer um exemplo histórico do rock? Quando Joan Jett começou a querer tocar guitarra, ela ouviu de seu professor que esse instrumento era pra homens, que mulheres deveriam tocar violão. E o que ela fez? Montou a The Runaways, uma das primeiras bandas de rock só de mulheres! Eu mesma já sofri um preconceito de um ex-namorado, que não me deixava ter banda porque falava que achava feio mulher tocando guitarra… Pois é! Graças a Deus, ele é EX!
NADA POP – Quem são as mulheres que te inspiram?
FERNANDA GAMARANO – Joan Jett, sem dúvida. Ela me inspira, porque ela enfrentou o velho preconceito de que rock não é para mulheres e mudou a cabeça de todos mostrando que, sim, mulher pode tocar guitarra, cantar, pular, tocar bateria, baixo, ter uma banda de punk e etc… Ela é a que mais me inspira!
NADA POP – Você pretende viver de música? Pelo que sei, a Der Baum vai muito bem. Mas queria ouvir de você o que você pensa desse caminho para o mainstream.
FERNANDA GAMARANO – Eu pretendo viver da arte em geral, onde coloco minhas fotos junto com a música também! Minha prioridade sempre foi a banda acima de tudo! Faço de tudo para que ela alcance o reconhecimento merecido. Sim, há muito trabalho em cima, não é apenas ir lá e tocar. Tudo está envolvido, desde o processo de composição das músicas, ensaios, gravações, produção, fotos até divulgação e mais divulgação… O caminho é longo, mas se você corre atrás, ele se torna curto e possível. É nisso que eu acredito! Pode falar que sou uma sonhadora, mas é isso que eu quero. E eu tenho certeza do que quero!

Quanto ao mainstream, muitas pessoas têm o preconceito de achar que se você entra nesse patamar, você se vendeu ou você faz algo que não gosta. Acho bobagem! Você pode entrar nessa com algo que goste, como acontece na Der Baum. Fazemos o som que nos agrada e não o que achamos viável para o comércio musical. Lógico que fazemos um estudo, porém nossas músicas são feitas sem pressão e facilmente. É um sinal que fazemos aquilo que realmente sentimos. Para mim, tanto faz estar no underground ou no mainstream. Se eu estiver tocando com minha banda, e fazendo o que eu gosto, é o que importa!
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Confira outras entrevistas da coluna Queens of Noise, entre no link: nadapop.com.br/queensofnoise