
Nessa segunda parte da entrevista com a Blastfemme, conversamos com a banda sobre a turnê realizada na China, entre outros assuntos envolvendo o cenário independente. A banda, formada por Jhou Rocha, Dani Vallejo, Vladya Mendes e Igor de Assis, lançou seu primeiro álbum homônimo depois de três anos. Para ler a primeira parte dessa entrevista basta clicar AQUI.
Nesta quinta-feira (10/10), a Blastfemme irá se apresentar no Ganjah Lapa, no Rio de Janeiro, junto com a banda Missa. Para mais informações clique AQUI ou confira logo abaixo no fim dessa primeira parte da entrevista.
Voltando a falar sobre as apresentações ao vivo, como foi a turnê na China? Como foi a recepção do público e o que vocês acharam do país, como surgiu essa oportunidade, se foi o lugar mais diferente que tocaram etc.
JHOU: Receptividade incrível, não imaginava… foi surreal. Casas com ótimos equipamentos e boa estrutura.
DANI: Com certeza foi o lugar mais diferente que tocamos até hoje. O país é lindo, absurdamente muito mais desenvolvido do que estamos acostumados aqui no Brasil. A oportunidade surgiu, de certa forma, também por culpa do Reverbera. Vladya conheceu o Alê Amazônia em um show aqui no Rio, e o Alê mora e produz bandas lá na China, fazendo esse intercâmbio entre os países. Eles viraram amigos e ela, um certo dia, mandou para ele o vídeo da música “Obrigada Pela Parte Que Me Tocas”, que gravamos no programa Reverbera. Ele gostou muito da gente e quando viu que poderia rolar uma oportunidade de levar uma banda do Brasil para a China, convidou a gente.
O público chinês é algo a parte. Foi incrível a receptividade que tivemos, cantando em português em um país que tem uma língua extremamente diferente da nossa. Se a gente tinha dúvidas de que nosso som era foda, lá na China qualquer dúvida caiu por terra, pois era uma loucura a cada show, com o público ensandecido junto da gente. Quando me sinto à vontade com a plateia, eu dou uma saída do palco e vou lá curtir com eles, posso dizer que na China fiz isso em praticamente todos os shows. O punk rock falou mais alto que qualquer distância cultural.
IGOR: A China é um país incrível, de uma imensidão vasta e sem dúvidas foi o lugar mais diferente que nós tocamos. Passamos por várias cidades e em todas elas encontramos excelentes casas de shows; eles disponibilizam os melhores equipamentos e são muito profissionais, independentemente do tamanho da casa. A tour foi como um sonho sendo realizado: encontramos um público quente e que nos amou de cara a partir do primeiro acorde. O Alê Amazônia, responsável por fazer essa tour acontecer, é baterista da Dirty Fingers, uma banda punk chinesa de peso que tem uma legião de fãs que os seguem fielmente. No início, tivemos que encarar o jet lag, uma sensação bem esquisita, mas depois de uns dias estávamos prontos para encarar o frio e botar o pé na estrada.
VLADYA: A China é um lugar fantástico! Conhecemos uma outra realidade, uma outra cultura e pessoas incríveis.
Já planejam uma nova turnê na China ou em algum outro país? Se sim, qual?
DANI: Queremos muito voltar pra China sim e tocar em outras cidades que não tocamos lá ainda, Macau é uma que sempre falamos, pois tem um festival maneiro lá. Mas, a princípio, a real vontade é de fazer uma tour nacional. É incrível como no Brasil é complicado trabalhar com arte. Já fomos para o outro lado do mundo, mas aqui mesmo marcamos um dobrado para conseguir viajar sem se endividar demais. Depois da tour nacional, o sonho é a Europa também.
IGOR: Saímos da China já planejando voltar um dia. Às vezes conversamos sobre ir para eu Europa, mas no atual momento estamos planejando uma tour que vai ao sul do Brasil, Uruguai e Argentina.
VLADYA: Ouvimos falar de um festival maneiro que rola em Macau e queríamos muito voltar e tocar lá. Uma turnê na Europa acho que seria um sonho para a toda a banda também.
Hoje muito se fala sobre representatividade e é mais do que necessário falar. A banda é formada majoritariamente por mulheres e tem letras bem diretas sobre liberdade sexual. O que vocês esperam representar para o público, especialmente o feminino, da Blastfemme?
JHOU: Exatamente isso: a liberdade de ser e fazer o que você quiser.
DANI: Só de sermos uma banda com mulheres à frente já acredito que rola aquele sentimento de “poxa, se elas estão lá fazendo, eu também posso!” e eu já ouvi muito isso após nossos shows, garotas vindo me abordar com essa frase: “vocês me mostraram que eu também posso!”. Quando isso acontece, a sensação de dever cumprido é enorme. Outro ponto é sobre agregação: somos feministas sim, lutamos pelas mulheres sim e não estamos aqui para diminuir ninguém. Eu sempre digo que o lance nunca foi subtrair e sim somar, sem deixar de tomar o que é nosso. Acho pontual termos o Igor na formação e abre muita discussão com relação a não sermos uma banda só de mulheres. Já perdemos shows por não sermos só mulheres em espaços que queriam banda formada única e exclusivamente pelo gênero feminino. Acho que temos que ser vistas sim e concordo com esse ponto, de que os machos já têm o seu espaço muito menos limitado, no rock principalmente, do que nós mulheres. Mas é sobre isso: agregar mulheres, homens, trans, héteros, gays, lésbicas, quem quer que seja, sobre não fechar o nicho, mas abri-lo e trazer todo mundo para o mesmo caldeirão. Todo mundo deve poder igual!
IGOR: Sempre esperamos que todos se divirtam, que as mulheres se sintam representadas e inspiradas a fazer o que elas têm vontade, que a igualdade entre gêneros seja disseminada e que a arte seja uma ferramenta para conscientizar e unir as pessoas.
VLADYA: As composições do primeiro álbum falam mais sobre isso mesmo: liberdade sexual e relacionamentos. Já as composições do segundo (já estamos trabalhando nele) estão mais sérias e abordamos temas mais delicados como feminicídio. A intenção é que as mulheres que nos veem no palco saibam que não estão sozinhas e que as vidas de todas se entrelaçam. Essa é a nossa missão ali.

Como vocês veem hoje a cena underground, tanto de uma forma geral quanto a respeito da participação feminina e LGBT, no Brasil e mais especificamente no Rio de Janeiro?
JHOU: Temos feito boas conexões no eixo Rio-SP, por isso acredito que ela vem crescendo e se profissionalizando. Queremos expandir para o nordeste-sul!
DANI: Tá tendo, mas ainda falta. Sem sombra de dúvidas tem muita gente fazendo, mais do que antes, e imagino que só tem a crescer esse movimento. Por mais que ainda exista o preconceito, temos mesmo é que ocupar esses espaços, sermos vistos e desmistificar essa coisa antiga de que “não é lugar para isso ou para aquilo”, é lugar sim!
IGOR: Tem várias joias na cena nacional e aqui no Rio também. Ótimas bandas, grandes artistas e pessoas incríveis. Parece que estamos progredindo, a participação feminina e LGBT ainda é pouca, mas vem crescendo de uns tempos para cá. A coisa no cenário independente funciona como uma rede, um apoiando o outro e assim as pontes vão sendo construídas, os artistas se admiram e se unem e prol de um bem maior.
VLADYA: Tem muita gente boa na cena, mas precisamos ocupar mais os espaços principalmente aqui no Rio.
Quais bandas da atualidade, companheiras de cena, vocês indicam para o público ouvir?
JHOU: Oruã, The Mönic, Molho Negro, Lâmmia, Katina Surf, Do Amor, Laura Lavieri, Kosmo Coletivo Urbano, Astro Venga e Jason.
DANI: The Mönic, Verónica Decide Morrer, Beach Combers, Cheyenne Love, Oruã, Molho Negro, Autoramas, Fuck Youth, Lâmmia, Línguachula, Metabrisa, Os Alquimistas e Cocho Elétrico.
IGOR: Laura Lavieri, Lâmmia, Jonnata doll & Os Garotos Solventes, Verónica Decide Morrer, Molho Negro, Cheyenne Love e The Mönic.
VLADYA: Jonnata doll & Os Garotos Solventes, Verónica Decide Morrer, The Mönic, Mulamba, Molho Negro e Cheyenne Love.

Por fim, depois do lançamento do primeiro álbum, quais são os planos para o futuro da Blastfemme?
JHOU: Participar efetivamente de festivais que acontecem pelo País.
DANI: Começar a gravar o segundo álbum, planejar uma tour mais longa dentro do País, continuar tocando nosso barco… Dia 10 de outubro tem show no Ganjah da Lapa com a Missa. As parcerias só aumentam e isso é uma das maiores recompensas desse rolê.
IGOR: Continuar trabalhando, rodando o Brasil, fazendo tour para divulgar o disco e logo dar início aos trabalhos para a gravação do nosso segundo álbum.
VLADYA: A gente pretende rodar um pouco mais como primeiro álbum. Quem sabe uma tour pelo Nordeste… e já estamos com as composições do segundo álbum encaminhadas, tem muita coisa boa vindo aí.
Santa Ceia convida: Missa & Blastfemme
Quando: 10 de outubro
Onde: Ganjah Lapa – Rua do Rezende, 82 – Rio de Janeiro
Horário: abertura dos portões às 18h. Início dos shows às 21h
Entrada: R$ 15-R$ 20 (pague no evento)
Abertura: Augras
Para mais informações acesse: http://bit.ly/358uRBc