Depois de sete anos separada, a banda baiana Canto dos Malditos na Terra do Nunca está de volta. Em quase 10 anos sem lançar material inédito, um novo single chegou aos nossos ouvidos demonstrando certo amadurecimento do grupo formado por Andrea Martins (vocal), Helinho Sampaio (guitarra), Danilo Castor (guitarra) e David Castor (baixo).
Além disso, a banda também anuncia uma campanha de financiamento coletivo para gravação do seu segundo disco de estúdio, previsto para 2016. Com contribuições a partir de R$ 10, o crowdfunding será usado para custear todas as despesas com as gravações, prensagem dos CDs, além do próprio financiamento das recompensas. Clique AQUI para saber como contribuir com a gravação do novo disco do Canto.
O CMTN também divulgou o primeiro show de sua nova turnê: será em São Paulo, no dia 31/10, na casa de shows Estúdio. Os ingressos antecipados estão à venda na própria campanha do Kickante.
Para falar um pouco mais sobre a volta do CMTN e expectativa sobre o novo álbum, conversamos com a Andrea Martins. Confira o bate-papo abaixo.
NADA POP – Olá Andrea, tudo bem? Agradeço a conversa e gostaria de começar perguntando o que motivou a volta da CMTN. Como foi o retorno e quando aconteceu? Desde quando vocês estão fazendo shows e como o público foi responsável também por essa volta?
ANDREA MARTINS – Olá! Tudo massa, vamos lá! Num aniversário meu lá em 2011/2012 (não sei ao certo rs) eu me encontrei com os meninos e cerveja daqui cerveja de lá, já naquela animação a gente largou um: “e ai, vamos fazer um show?”. Meio naquele papo nostálgico, relembrando bons momentos. No outro dia, a gente questionou se todos estavam falando sério ou era só gastacão. E aí resolvemos fazer!
Fizemos o show e esse reencontro com os fãs foi maravilhoso. A gente sentiu de cara uma energia muito forte para um único show e, além disso, estávamos bem felizes em estar juntos no palco novamente. Depois resolvemos fazer mais um… E assim foi, rs. Fizemos uma tour aqui em algumas cidades da Bahia e o resultado era sempre muito interessante. Até nas cidadezinhas que a gente nem imaginava como ia ser, tinha gente cantando as músicas. O Canto é uma banda dos fãs. São eles que nos situam.

NADA POP – Antes de entrar na história e dos novos projetos da banda, gostaria de saber como foi a sua experiência vivendo em São Paulo, quais as dificuldades que você enfrentou com a sua carreira solo e se você ainda mantém ou irá manter esse trabalho paralelo em relação a banda. Você voltou a morar em Salvador, certo?
ANDREA MARTINS – Minha experiência em São Paulo foi muito bacana, foi inclusive mais uma experiência pessoal. Comecei a trabalhar com áudio e vídeo, trilha sonora, experimentar coisas musicalmente também.
Foi uma experiência mais interna do que externa. As dificuldades em fazer solo independente são, certamente, muito maiores do que com uma banda. Mas foi fundamental passar por isso pra hoje eu ter mais a mão as ferramentas e a segurança do “do it youself” e colocar a mão em tudo! Hoje eu componho, gravo, produzo, mixo e já solto na net, edito o clipe, penso na coisa toda. E isso é fundamental para a minha forma de ser artista. Não consigo mais fazer uma coisa só.
Hoje eu tenho vários projetos, inclusive o meu novo solo que se chama “Solaris” e vem desse retorno a salvador. Esse é o solo que eu finamente cheguei no conceito e na forma que queria. Então, naturalmente o percurso e o processo todo são importantes para se moldar algo mais sólido.
NADA POP – Em pouco tempo de existência o “Canto…” assinou com a Warner e acredito que com certeza isso trouxe coisas positivas e negativas. Com as experiências que vocês tiveram naquela época, hoje uma gravadora ainda pode ser considerada importante para uma banda?
ANDREA MARTINS – A gravadora é muito interessante em seu modo de ser. Você garante um disco, uma assessoria forte, você chega mais rápido em alguns lugares, o que não significa ser um caminho melhor nem pior.
Hoje, a cena independente tem ferramentas interessantes. E o financiamento coletivo é uma delas.
NADA POP – O financiamento coletivo que vocês lançaram e que pretende viabilizar um novo álbum de vocês já possui algum nome ou quantidade de músicas prevista? Há alguma surpresa que você poderia adiantar, como convidados especiais, por exemplo? É possível esperar letras que também tenham relação com o atual momento cultural e político do país nesse segundo álbum?
ANDREA MARTINS – Olha, não posso e nem sei se quero adiantar muita coisa, rs. Mas o motivo é plausível: esse é um momento da gente também entender o que é esse reencontro no estúdio. Ainda não sei responder ao certo até que a gente feche o disco, porque até na minha cabeça foi um pouco confuso entender o que seria o som do Canto atual e o que seriam essas composições. Mas digo que é algo que vai transitar entre lá e cá, entre composições que já seriam pra um segundo disco do Canto que eu já havia feito na época e o resultado nesse reencontro.
NADA POP – Em uma entrevista anterior você disse que não possui nenhuma bandeira feminista, mas que gostaria que outras meninas pudessem se espelhar em você e fazer o mesmo que você faz. O mundo da música, principalmente no rock, continua machista em sua opinião? Houve alguma situação que você vivenciou que poderia destacar esse machismo?
ANDREA MARTINS – Cara, às vezes eu tenho impressão de que hoje só parece que é menor porque está pegando mal, sabe? Hoje é feio ser machista, ser racista, ser xenofóbico. Até dá pra ser, mas vai ter que aturar uma vigilância maior, alguém pegando no teu pé.
Mas eu vejo muito machismo, só mudaram os métodos.
Por outro lado, é muito legal ver os movimentos feministas e as meninas se juntando pra acabar com isso de que mulher tem rixa com mulher (coisa mais imbecil). Isso foi o machismo que criou e as mulheres precisam parar de acreditar nisso também e cair nessa armadilha de reproduzir esse discurso machista.
Eu me considero feminista, eu só não sou militante. Porque aí são outros quinhentos. Eu acho que aí é uma dedicação específica à causa, é estudar, é estar à frente das questões todas, é uma prioridade.
Mas acima de tudo, o importante é a gente se perceber, é o bom senso, é o respeito ao outro independente do que separa você da outra pessoa.
Eu tenho um coletivo de mulheres chamado MINAVU e a ideia é justamente juntar as meninas e gerar essa empatia através da arte. Que é onde eu posso chegar nas pessoas, sem depender só da questão teórica da coisa toda. A gente promove eventos, debates, oficinas.
Já fizemos mostra coletiva, eventos de rap e não só o resultado é maravilhoso como o próprio processo é incrível. Como resultado, a ideia, além de promover os eventos, é gerar os conteúdos desses encontros artísticos e como processo a gente percebeu o quão é importante criar esses espaços de receptividade para as mulheres.
Criar um espaço onde ali ela pode ser ela, pode se despir, contar sua história e sair de lá mais forte e empoderada.
NADA POP – Quais bandas você tem escutado ultimamente e aproveitaria para recomendar ao público? Salvador tem muita banda para se descoberta ainda, quem você indica?
ANDREA MARTINS – Eu ouço de tudo, sempre fui assim e desde que comecei a trabalhar com trilha sonora, faço isso também como dever de casa. Ultimamente eu tenho escutado Tame Impala, Ibeyi, Stromae, Tony Allen, Kings of Leon, Gal Costa, Pena Branca e mais um mix de coisas.
Recomendaria a minha última descoberta que foi uma indicação de um amigo
que é uma mina libanesa chamada Yasmine Hamdan, muito foda!
Salvador tem sempre coisa boa. É o dendê! 🙂
Difícil recomendar porque são muitos, mas recomendaria meu colegas de projeto do Nossos Baianos. Cada um lá tem seu projeto autoral e recomendo Ronei Jorge, Livia Nery, Rebeca Matta, Ifá. Vou esquecer de gente mas da lembrança de agora é isso..

NADA POP – Os álbuns lançados em sua carreira solo demonstram um talento especial seu para produção. Em Art-Empenada você não produziu sozinha, certo? Mas o Soldier of Love tem sua assinatura em tudo (Closer to the sun até me fez lembrar de Love You To, dos Beatles – risos). Qual a importância dessa autonomia para um músico e como o lance de produção surgiu na sua carreira? Já rolou de produzir alguma outra banda?
ANDREA MARTINS – Isso! O Art- empenada é uma produção minha e de Julio Abbud. O Soldier of Love e o Solaris eu fiz só. Agora assino outra produção de um projeto novo que vem aí que chama Pluma, um projeto meu e de Natalia Arjones minha parceira também no MINAVU.
Eu sempre gostei de compor além do que me vinha à cabeça. Além do que eu tocava no violão, sempre pensava já num riff, numa levada de bateria, numa linha de baixo. A partir daí eu fui descobrindo a vontade de colocar essas ideias numa música para entender o que era essa produção, e aí comecei a me interessar por softwares de áudio, trabalhei também com isso, o que me deu hoje uma autonomia muito importante.
Até para os meus projetos, porque eu posso encurtar essa distância do pensamento até o resultado sem precisar de muita gente, ou ninguém no processo. Então nesse “do it yourself” eu resolvi essas vontades e necessidades e me descobri na produção musical que também me deu autonomia pra trabalhar com trilha sonora.
Eu estou começando a fazer produção para outros músicos, mas ainda é processo embrionário. Apesar disso tenho muito interesse e pretendo estudar áudio e trabalhar cada vez mais com isso.
NADA POP – Também em outra entrevista você diz que faz música para aliviar seu estômago. Essa definição ainda continua fazendo sentido pra você? A música tem assumido um papel, em minha opinião, muito mais comercial e recursos visuais, como shows pirotécnicos, sendo mais importante do que a própria música. Você concorda com essa observação ou poderia expressar uma opinião sobre isso?
ANDREA MARTINS – Rs. Isso é um tipo de brincadeira, mas que diz muito de mim e da minha forma de ser artista. A minha expressão é o resultado da minha necessidade. É assim que eu me comunico, é o meu grito pessoal.
Eu acho que existem shows e shows, artistas e artistas, sem desmerecer nada e nem ninguém. Acho que cada qual com a sua proposta, mas vejo que hoje é de fato mais raro esse público que vai pagar para assistir um show, que é só um show. Que é pela canção, pelas músicas. Que não é uma festa, que não tem esse algo mais aí de alguns shows.
Acho que se misturou muito a esse conceito de festa. E isso reflete no público hoje que ficou mal acostumado.
NADA POP – Andrea, poderíamos falar sobre ser novamente parte de uma banda independente, da importância da internet para divulgação de músicas e shows, da pirataria como também a compra de álbuns no formato digital que vem substituindo a compra de álbuns físicos, entre outras coisas. Mas acredito e espero que essa não seja a nossa única entrevista com você, por isso agradeço sua atenção e deixo esse espaço para uma última questão: qual a importância de se manter na estrada tocando e fazendo shows e como está a agenda de vocês, além disso quando vão pisar novamente em São Paulo?
ANDREA MARTINS – A independência de ser independente é artisticamente mais interessante. Isso talvez signifique que ao invés de se adequar, você possa se adaptar as condições. A cena independente tem algumas manobras e ferramentas mais a mão hoje em dia. A internet sendo a maior delas e aí suas ramificações de rede social a financiamento coletivo.
Eu sou super pró do álbum digital. É algo com o qual não podemos e nem devemos lutar contra. É a curso da tecnologia. A gente tem se adequar. Meu problema com isso é que essa “substituição” seja só para o público. Raramente eu vejo algum jornalista fazendo resenha de EP ou disco digital.
Então tem que ver isso aí não pode mudar de um lado só.
Agora, podendo ter o físico: massa! Porque você também chega nas pessoas que tem um carinho pela mídia impressa, encarte, letras, fotos. Que quer ter outra relação com a obra…
Bom, agora sobre os shows: o canto toca em SP no dia 31 de outubro no Estudio. E estamos com uma tour aí, estamos nos arrumando para cair na estrada. Inclusive, eu devo em algumas cidades aproveitar a carona pra levar também o meu show solo, Solaris.
É isso!
Obrigada 🙂
AGENDA DO CMTN
CMTN @ São Paulo (SP)
Data: 31 de outubro
Local: Estúdio – R. Pedroso de Moraes, 1036, Pinheiros, São Paulo-SP
Horário: 18h
Ingressos: pelo site Kickante
Classificação: 16 anos
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