Punk, hardcore e alternativo

Banda Aqueles - Foto por J Mag
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Entrevista com a banda AQUëLES

A cidade de Campinas tem sido um berço de ótimas bandas do cenário underground paulista. É dessa cidade, só para citar algumas, a lendária banda Muzzarelas e a ótima banda Thriven. E o que enriquece bastante essa cena é a união dessas bandas que estão na estrada há mais tempo com a nova geração. E no meio disso, contribuindo e ajudando nesse enriquecimento, aparece a banda AQUëLES.

Para ouvir o álbum clique aqui

O grupo, formado em 2010 por Eduardo (vocal e guitarra), Zazá (baixo) e José Felipe (bateria), faz um punk rock do naipe de bandas como Merda, Os Pedrero, Leptospirose e tem como uma das principais influências a banda Therapy?, da Irlanda. Os caras lançaram em 2010 os EPs “Mortos Cagados” e “Hits de Verão”. No ano seguinte foi a vez do álbum SEQUëLA, primeiro trabalho cheio da banda, e neste ano aparecem com o excelente “Um Dedinho de Prosa, Dois Dedinhos no Cú”. O álbum mostra, além da evolução musical da banda, um ótimo trabalho de produção do disco realizado pelo Luiz Felipe Moura, guitarrista do Thriven, e com a arte de capa assinada pelo Daniel Etê Giometti, baixista do Muzzarelas.

O “Dois Dedinhos…” conta com 19 sons, onde é possível perceber a banda um pouco mais amadurecida em relação aos trabalhos anteriores. As músicas variam entre o punk e o hardcore, mas flertam com o surf music, como na música “Sexo Oral na Lagoa do Taquaral” e com o rap, na versão de “SEQUëLA”, música que também pertence ao  primeiro CD dos caras – essa versão foi produzida e mixada por Pedro De Conti, vocal do Thriven.

Para nos contar mais sobre a origem da banda entre outras histórias, batemos um papo com Zazá (baixista). Ele nos contará um pouco sobre esse som que tem tudo para alcançar voos mais altos do que a cena campinense.

NADA POP – Qual foi a inspiração para o nome da banda?
Zazá – Na verdade não foi bem uma inspiração, talvez a falta dela. A ideia surgiu durante a gravação do nosso primeiro EP em 2010 e da nossa insuportável mania de falar a palavra “aqueles” no final de cada frase naquela época. Na real, a banda era pra ser chamada de “Crack Neto” ou alguma coisa “Cágado” (não lembro agora), mais nenhum dos dois nomes vingou.

NADA POP – Falem um pouco sobre a experiência de vocês com a música, se já tiveram outras bandas e quais as influências musicais.
Zazá – Cara, eu toquei em três outras bandas antes do AQUëLES! a primeira em 2000/2001 chamada Mute. Essa fez apenas um show e gravou uma demo em K7 no meu quarto. A segunda foi a banda America Latrina que durou até 2004 e a terceira foi o Trastrio, que ainda existe mas está estacionada. Rola até uma ideia de gravar coisa nova mas nada com prazos ou datas, quem sabe esse ano? Quem sabe ano que vem… Quem sabe? José, o baterista, tocou comigo em duas dessas três bandas. O Eduardo também teve seus projetos por ai, mas o AQUëLES! acho que foi sua primeira banda de verdade mesmo. Já as nossas influencias são varias… Rola de Therapy? a Queen de buenas. Pegada punk, Hardcore, surf e por ai vai. Sem essa de limites.

NADA POP – O último álbum de vocês foi produzido por Luiz Felipe Moura (Thriven) e teve a arte da capa feita pelo Daniel Etê (Muzzarelas), mas como foi o processo de gravação desse álbum? Como surgiram essas parcerias tanto na produção do disco, como na produção da capa?
Zazá – Essa foi a primeira vez que gravamos tudo separadinho, bonitinho, com alguém falando “faz assim, faz assado”, tudo como reza a boa cartilha. A bateria e as vozes gravamos no Estúdio NosOtros em Campinas/SP e os baixos e guitarras gravamos na casa do Luiz, tudo no maior clima de amor e carinho. A ideia de gravar com ele já havia rolado há um bom tempo e para nós fazia o maior sentido, pois o cara além de ser um dos nossos melhores amigos, viu a banda surgir, os primeiros shows e tal. O resultado foi total demais!
A ideia de o Daniel desenhar a capa rolou também no mesmo esquema da amizade. Pra nós é um privilégio ter uma capa assinada pelo cara, que é um puta artista. O álbum conta ainda com uma faixa bônus produzida por Pedro De Conti, outro amigo de longa data e musico foderoso!

Eduardo (vocal e guitarra) e ao fundo, Zazá (baixo)

NADA POP – Não é de hoje que a cidade de Campinas está muito bem representada no cenário, tanto com as bandas mais antigas (Muzzarelas, Drakula), quanto a nova e promissora geração (podemos citar Don Ramón e Dirijo, por exemplo) que estão surgindo. O que vocês acham que está rolando para que esse crescimento esteja acontecendo aí na cidade de vocês?
Zazá – Cara, a galera está na fissura de tocar, novos lugares estão abrindo suas portas e as bandas não estão acomodadas esperando as coisas acontecerem. Acho que é isso: é a vontade de ver a parada rolar! A fome com a vontade de comer, manja? Tá ficando quente o negócio por aqui!

NADA POP – As letras do AQUëLES possuem uma grande dose de irreverência, mas sem deixar de lado o senso crítico. Mas com relação a letra de “Sexo Oral na Lagoa do Taquaral”, é uma história fictícia criada por vocês ou essa lagoa tem muita história pra contar?
Zazá – A história dessa é boa! (risos) A música surgiu durante a tour dos nossos amigos da banda Machete de Belém/PA por Campinas e São Paulo, no show deles na Verdurada eu e Eduardo, que estávamos acompanhando os caras no role, decidimos sentar num boteco perto de onde estava rolando o evento pra tomar uma “brejinha” de leves. Aí, ali na mesa do bar surgiu a ideia da letra: uma viagem sobre pedalinhos em forma de ganso e sacanagem. Historicamente a Lagoa do Taquaral já foi um dos lugares preferidos da juventude local pra se divertir e fazer um carinho. (risos) Mas o som não é baseado em fatos reais (ou sim?).

NADA POP – Em 2013 foi lançado o Documentário “Punk in Roça: Música e Conflito no Interior”, que contou com uma participação sua cedendo algumas imagens e com as músicas “What Matters” e “SWCu” da banda fazendo parte da trilha sonora. Como foi fazer parte desse documentário? E como foi a repercussão desse documentário “além Campinas”?
Zazá – Pô o resultado desse documentário ficou demais. O vídeo foi produzido por alguns amigos e foi muito legal ter participado com os sons e com as imagens do meu arquivo. Pelo que fiquei sabendo o doc foi muito bem aceito em todos os lugares que foi exibido e teve uma puta repercussão bacana na internet. A cena de Campinas tem varias histórias, bandas e pessoas que marcaram uma época. Tem muita coisa pra rolar e contar ainda…

NADA POP – No dia 06/07 vocês tocaram no Quintal do Gordo ao lado das bandas Muzzarelas e Homeless, após um ano sem tocar na cidade. O que levou vocês a ficarem todo esse tempo sem tocar em “casa”?
Zazá – Esse show foi demais, bicho! Vários amigos e pessoas queridas no role. Ele marcou além da nossa volta, o lançamento do disco que lançamos no começo desse ano. Ficamos esse tempo sem tocar, pois cada um estava num canto dos pais, estudando e trabalhando. Agora estamos todos pertinho de novo e rock voltou com tudo.
Esse show foi legal também porque tivemos a oportunidade de tocar junto com nossos amigos do Homeless que não se apresentavam há mais de dez anos.

NADA POP – Aproveitando o embalo, quais bandas vocês poderiam indicar? O que vocês estão escutando atualmente?
Zazá – Cara, das bandas da região tenho escutado muito (e sempre) Muzzarelas, Thriven, Leptospirose, Lisabi. Tenho pirado nos shows do Slag de Paulínia e do Topsyturvy de Mogi das Cruzes. Tenho acompanhado também as gravações da banda Golfo de Vizcaya que vai realizar seu primeiro show ainda esse mês aqui em Campinas (essa super recomendo!)

Zazá (baixo) e José Felipe (bateria)

NADA POP – Qual é a opinião de vocês com relação a cena campinense e a cena underground em geral? Vocês conseguiriam fazer alguma comparação?
Zazá – Cara, acho Campinas um puta celeiro de bandas fodas, porém têm épocas e épocas, altos e baixos, mas sempre foi (e acredito que sempre será) uma cidade muito importante no cenário nacional. Ela está aos poucos voltando a rota das grandes tours de bandas nacionais e gringas. Ainda esta muito longe de se comparar a grandes capitas, mas não deixa nada a desejar dentro das devidas proporções. O publico aqui já foi um dos mais insanos do Brasil, sério. Não é a toa que o Junta Tribo marcou uma época na cena rock do país.
Não sei muito como comparar uma cena com a outra. Só sei que só quem já viu um show do Muzzarelas em Campinas sabe como é o rolê por aqui.

NADA POP – O que vocês acham dos “festivais de bandas independentes”, onde você cadastra a sua banda e fica no aguardo da avaliação dos “críticos” responsáveis?
Zazá – Acho zuadásso essa parada. Esse lance de “batalhas de bandas”, “vendas de ingressos”, pagar pra tocar. Enfim não participo dessas fitas, acho coisa de produtor sacana. É isso.

NADA POP – A cidade de Campinas já foi uma referência em festivais independentes, como o lendário festival Junta Tribo. Porém, ouvi de muitas pessoas envolvidas aí na cena que hoje em dia a cidade foi tomada de assalto por bandas e shows que se propõem a tocar apenas covers. Esse problema ainda persiste ou está rolando uma grande mudança para que aumente o espaço para bandas com sons autorais?
Zazá – Esse negócio de banda cover é uma coisa que existe e sempre vai continuar existindo, não tem jeito. Teve uma onda meio errada por aqui há um tempo, mas agora principalmente depois da abertura de espaços como o Quintal do Gordo, novos roles e bandas começaram a surgir. Tem rolado coisas bem legais por aqui, sem contar que todos os anos tem o Festival Autorock, festa boa que acontece em diversos picos da cidade durante dez dias! Alias, neste ano o AQUëLES! se apresenta no festival ao lado das bandas Slag, Lisabi, Dead Fish, Muzzarelas, Iodo, Don Ramón e Dona HxCélia lá na Concha Acústica do Taquaral.

NADA POP – Sabemos que viver do underground não é fácil. Já aconteceu de vocês entrarem em alguma grande roubada? E pelo lado positivo, qual show mais legal marcou a vida de vocês na banda?
Zazá – Cara, acho que com o AQUëLES! não teve nenhuma puta roubada, já com o Trastrio sim, (risos) de sair escoltado pela policia de uma cidade, de tocar em puteiro desativado, de se perder por ai… Tem história, hein.
O show mais legal é difícil falar, acho que os shows que fizemos em Sumaré, Porto Ferreira e Ibiúna foram os mais legais, vários amigos, bebedeiras e muita diversão! O último show em Campinas com o Thriven também está no topo da lista.

NADA POP – Você tem um blog chamado Café In Sônia, que fala muito sobre shows, festivais e sobre o cenário de Campinas. Nos diga pq surgiu esse interesse em montar o blog, qual era ideia inicial e se vc acredita que blogs como o seu e o nosso (Nada Pop) fazem algum diferença para as bandas. É só vc quem escreve no blog ou mais alguém. Outra coisa, você acredita que os sites “especializados em hardcore e punk” são especializados mesmo?
Zazá – Criei o Café in Sônia em 2009 com a ideia de escrever sobre as bandas que eu curtia, os shows que eu colava, enfim começou meio que tudo sem pretensão de nada e acabou virando uma para meio que “séria”. Continuo escrevendo sobre as coisas que gosto, mais com o tempo fui abrindo mais espaço para noticias mesmo, principalmente sobre a cena local. No Café já entrevistei cerca de 50 bandas e artistas independentes da cidade e de fora, comentei sobre lançamentos e festivais. O blog é sempre atualizado, pelo menos uma vez por semana. Só eu mesmo crio os conteúdos, vez ou outra conto com a colaboração de amigos que me enviam resenhas de shows e festivais.
Cara, super acredito nessa parada de blog de som tipo o Café, o Nada Pop, o Canibal Vegetariano, um lance meio fanzine online. Agora essa parada de “especializada” sei não, hein. (risos). Enfim.

NADA POP – Agradecemos o papo e deixamos o espaço aberto para você caso queira deixar alguma mensagem.
Zazá – Acho que a mensagem é essa: toquem o puteiro, tomem drinks, aproveitem! Valeu total pelo espaço e parabéns pelo trabalho de vocês com o Nada Pop! Nos vemos por ai! Nóis.

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Para curtir e acompanhar a banda, visite a página no facebook, clicando aqui, para ouvir os sons, acesse o soundcloud, clicando aqui. E para conhecer um pouco mais do blog Café In Sônia, clique aqui.

O AQUëLES está no line up da 8º edição do Festival Autorock, evento esse que acontece entre os dias 11 á 21/09 em diversos locais na cidade de Campinas – SP. A banda tocará no último dia do festival (21/09) junto com as bandas Slag, Lisabi, Dead Fish, Muzzarelas, Iodo, Don Ramón e Dona HxCélia na Concha Acústica do Taquaral. Para maiores informações sobre o evento, acesse a página no facebook, clicando aqui.

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