Punk, hardcore e alternativo

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Entrevista Agrotóxico: “Não temos intenção de parar”

Por Lary Durante

O Agrotóxico é uma banda que dispensa grandes apresentações, formada na Cidade Ademar, em São Paulo, no ano de 1993, possuem uma longa jornada no hardcore, sempre tratando de temas como anarquia, violência, autogestão, guerras e questões políticas no geral. Ao longo desses 22 anos de banda, passaram por diversas cidades, Estados e países, sempre mostrando um trabalho de qualidade a quem possa interessar. Em um breve bate-papo com os integrantes da banda, conversamos um pouco sobre seu último trabalho, a perspectiva da banda, a visão deles sobre o cenário que atuam e seus trabalhos futuros.

NADA POP ENTREVISTA AGROTÓXICO

Bom primeiramente gostaria de agradecer a disponibilidade de vocês em nos ceder esse bate papo. Vamos começar falando um pouco sobre o ultimo lançamento do Agrotóxico, o disco XX. Nota-se que esse foi um trabalho muito bem elaborado de excelente qualidade musical, como foi o processo de produção desse álbum? Falem um pouco a história desse disco.

AGROTÓXICO – O disco foi composto e gravado para comemorar os 20 anos de banda e às vésperas de nossa última turnê europeia. Pra esse disco resolvemos mudar um pouco a cara da gravação e optamos por escolher o Estúdio DaTribo para alcançar essa sonoridade analógica sem samplers ou edições. Nosso plano era masterizar o álbum com um produtor americano, mas devido à proximidade da turnê, não tivemos tempo hábil. O disco foi lançado no Brasil pela Red Star, além de receber uma versão europeia através de selos da Alemanha, Inglaterra e França. Atualmente está em produção a versão canadense através do selo Sudden Death, do Joey Shithead, vocalista e guitarrista do D.O.A..

O Agrotóxico é uma banda já consolidada no cenário musical, e conta com o reconhecimento nacional e internacional de seu público. Ainda falando do novo disco, como esse trabalho repercutiu na cena e qual foi o retorno disso? O saldo foi positivo?

AGROTÓXICO – Sim, apesar de não termos tocado tanto quanto queríamos na época em que o disco foi lançado aqui, a repercussão foi boa e pouco a pouco as pessoas começaram a conhecer os sons novos e cantá-los nos shows. Na Europa a repercussão também foi muito boa e conseguimos desde o início perceber quais eram as melhores músicas pra fazer parte do set-list dos shows.

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Capa do álbum XX, do Agrotóxico

Vocês lançaram esse novo trabalho tanto em CD no formato digipack, quanto em LP. Sobre o mercado do vinil que vem voltando a todo vapor, como vocês enxergam isso? Qual é a importância de um trabalho lançado em Vinil? E qual o diferencial e peso que isso traz a banda?

AGROTÓXICO – Pra nós não é exatamente uma grande novidade ter nossos discos lançados em vinil eis que, desde que tivemos nosso primeiro disco lançado na Europa, todos eles foram prensados também em vinil. Pra nós que crescemos ouvindo vinis é muito legal que esse formato não morra pois a arte das capas em vinil e o próprio saudosismo que temos ao comprar e ouvir um vinil tem um gosto especial. É claro que também gostamos de CD, mas sem dúvida é bom que o vinil continue vivo e seja acessível a todas as bandas.

Sobre as composições, a banda tem um diferencial em suas letras que são notáveis, além de relatar a realidade do cotidiano, visão política e afins. Vocês possuem uma visão macro da sociedade, relatam questões como guerras e problemas que vão alem das fronteiras, como adquiriram essa visão?

AGROTÓXICO – É notável a diferença entre nossas primeiras letras e as letras que compomos hoje. No começo éramos uma banda DIY da periferia e relatávamos uma cena bem local, a realidade violenta de um bairro de periferia. Na medida que a banda foi se integrando na cena Punk chegando a outras realidades inclusive fora do país, naturalmente as letras refletiram isso e passaram a falar de assuntos variados. Nunca fomos ou quisemos ser uma banda que falasse apenas o que as pessoas querem ouvir e nunca seguimos cartilha do politicamente correto. Cantamos sobre o que acreditamos e vivemos e tentamos transmitir alguma mensagem que faça sentido tanto pra um moleque da Cidade Ademar quanto pra um da periferia de Praga.

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Vamos falar um pouco sobre o cenário independente, é sabido que o Agrotóxico passou por alguns países, tendo a oportunidade de conviver com culturas totalmente diferentes da nossa. Como vocês veem isso, o que funciona lá fora que não funciona aqui no Brasil e por que não funciona? E como vocês acreditam (se acreditam) que mudaria essa questão?

AGROTÓXICO – As diferenças entre as cenas brasileira e a de outros tantos países é muito grande. Aqui as coisas são muito difíceis, falta estrutura, falta compromisso, mas basicamente o espírito, quando verdadeiro, é o mesmo. Algo que precisamos mudar no Brasil é a forma de encarar as coisas, tentar fazer tudo com mais qualidade e estrutura, mas sem perder o espírito independente. Ainda há quem ache que qualquer coisa com um pouco mais de qualidade perde a honestidade e a identidade com o “verdadeiro punk” e fica repetindo isso aos 4 cantos. Vivemos num País de poucas oportunidades, mas nem por isso devemos nos contentar com menos do que os outros se contentam.

Acreditamos na evolução e estruturação da cena punk sem perder nossa originalidade e nosso compromisso com os ideais DIY libertários e de autogestão. É importante integrar a cena brasileira com a de outros países recebendo e tratando as bandas com respeito e proporcionando uma experiência de qualidade a todos. Talvez tudo isso seja uma utopia, pois há quem trabalhe em sentido contrário, mas enquanto estivermos fazendo parte de tudo isso e nesse ideal em que nos apoiaremos.

agrotoxico_nadapopAinda falando sobre a experiência internacional de vocês, além do convívio com diversas culturas diferentes, o que essa experiência agregou a banda e a vocês, como pessoas e músicos?

AGROTÓXICO – Tivemos oportunidade de viver o verdadeiro underground punk europeu. Tocamos nos maiores Squats da Europa e em mais de 20 países desde 2002. Sem dúvida essa experiência agregou muito a todos, até mais como pessoas do que como músicos. Alguns valores já estão bem mais desenvolvidos em certos países e, cada um a sua maneira, tentamos inserir isso em nosso dia-a-dia.

Há muitas bandas de hardcore no Brasil, e muitas delas planejam um dia ir para fora do país levar suas músicas, mostrar seu trabalho, qual o conselho que vocês dão a esses músicos?

AGROTÓXICO – Não sei se rola essa coisa de dar conselhos. Cada um tem sua forma de fazer as coisas e nós temos a nossa, que de repente, nem é a melhor. Talvez o pouco que possamos dizer é que acreditem, pois é possível. Chegamos a uma era de uma extrema facilidade de comunicação online. É possível fazer contatos e criar laços com pessoas do mundo todo muito facilmente e, portanto, não é difícil conseguir um Tour Booker no exterior que possa ajudar na organização de shows, locação de equipamentos, van, motorista, etc. Na Europa isso é muito comum e assim, pras bandas brasileiras, basta conseguir guardar uma grana e unir força de vontade e organização que tudo acontece. Um grande exemplo atual é a banda Ódio Social que com muita disposição e empenho está lá fora mostrando seu trabalho e suas ideias. Fale menos, faça mais.

Além do Agrotóxico, vocês possuem suas carreiras profissionais, família, selo e outras bandas. De que forma vocês administram o tempo de vocês?

AGROTÓXICO – Sim, todos nós trabalhamos e temos atividades outras além da banda (inclusive outras bandas). Às vezes é difícil administrar isso tudo e até por essa razão muitas vezes não conseguimos conciliar nosso tempo livre e aceitar uma grande quantidade de convite que recebemos para tocar. Apesar das dificuldades seguimos tocando ininterruptamente há 22 anos e, para os que torcem contra e falam mal, uma péssima notícia: Não temos intenção de parar.

Com a longa trajetória da banda, vocês se tornaram muito influentes, além do público, muitos bandas se inspiram em vocês. O que vocês acham disso? Como vocês veem a importância do trabalho de vocês?

AGROTÓXICO – Não sei dizer dizer se somos influentes no público ou em outras bandas, mas se somos, é motivo de muito orgulho. Ficamos felizes se pudemos no decorrer dos anos trazer uma mensagem positiva ou de conscientização para as pessoas ou se musicalmente, inspiramos alguma banda.

E sobre os trabalhos e projetos futuros do Agrotóxico, o que vocês tem feito? Vocês podem comentar o que vem pela frente? O que podemos esperar do Agrotóxico para os próximos meses, anos etc.

AGROTÓXICO – Nosso plano atual é tocar bastante em 2015, fazer shows ao redor do Brasil e começar a preparar material pra um disco novo em 2016, dessa vez feito com mais tempo em termos de composição e produção.

Eu, Lary Durante, em nome do Nada Pop, gostaria de agradecer novamente esse bate papo e dizer que esse espaço estará sempre aberto a vocês e as bandas do nosso cenário musical independente. Para finalizar, façam suas considerações finais, comentários, passem a agenda de shows, contatos, enfim, esse espaço é de vocês!

AGROTÓXICO – O Agrotóxico agradece pelo espaço e pelo interesse. Esperamos que sigam em frente e continuem abrindo espaço àqueles esquecidos pela grande mídia. Muito obrigado também àqueles que correm com a gente, que nos ajudam, vão aos shows, compram discos, dividem uma cerveja conosco e que, de alguma forma, fazem parte da cena de uma maneira positiva pregando união ao invés de boicote e evolução ao invés de estagnação. Visitem e curtam nossa fanpage – Agrotóxico – Official.

O punk é nosso!

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