Michelle Abu é uma multi-instrumentista que transita facilmente por diferentes estilos musicais, indo da música popular ao rock nacional, bem como ritmos regionais e conseguindo imprimir sua personalidade. Nos seus 20 anos de carreira, já atuou com grandes artistas, entre eles Ira!, Elza Soares, Riachão, Baby do Brasil, Lobão, destacando-se no trabalho com Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra e Toumani Diabaté, em turnê internacional com o A Curva da Cintura (dê uma busca no Google para saber mais sobre o projeto).
Percussionista e baterista de mão cheia, formou em 1997 na Bahia, sua terra natal, a banda DendêCumJah, bastante presente no circuito teen de Salvador, tocando ritmos como rock e reggae. Nos anos seguintes, entrou na banda de percussão feminina Didá como baterista (percorrendo todo o Brasil) e passou a tocar também com diversos artistas baianos, como Margareth Menezes, Roberto Mendes, Silvia Patrícia, Alex Mesquita, além de viajar em turnê com o Circo Picolino por dois meses pela França, como baterista, em 2001.
Isso tudo é só para ter uma ideia do que a Michelle já fez, pois depois disso ela ainda gravou o acústico MTV do Ira! e dividiu o palco com outras artistas, entre eles Cássia Eller, Sandra de Sá e Daúde, Zeca Baleiro e Caetano Veloso.
É integrante da Palavra Cantada, grupo musical infantil, e faz parte da nova formação da banda punk Mercenárias. Neste ano recebeu o ‘Menção Honrosa’ no Prêmio da Música Brasileira 2015.
Michelle sem dúvida é uma força feminina na música e seu álbum solo, #1, dá uma verdade aula de ritmos e apresenta seu lado band-leader, saindo da bateria para assumir a guitarra e vocal. Reconhecemos que o álbum não é para qualquer ouvido, pois será necessário se despir de rótulos e sentir toda a verve e psicodelia, indo do rock ao MPB, mas com a mesma beleza em todas as canções.
Como ela mesma canta em uma das faixas, podemos dizer que esse é um álbum para levar seu cão para pensar. Ouça e faça o download gratuito do disco clicando AQUI. Leia abaixo nossa entrevista com a Michelle, mas antes um aviso:

No dia 10 de dezembro, próxima quinta, a Michelle realizará show no Jongo Reverendo, localizado na Rua Inácio Pereira da Rocha, 170 – Vila Madalena, em São Paulo. Participam do show o Edgard Scandurra, Silvia Tape, Sandra Coutinho e Taciana Barros. Uma ótima oportunidade para conhecer pessoalmente o trabalho da Michelle. Para mais informações sobre o show basta clicar AQUI.
NADA POP ENTREVISTA MICHELLE ABU

NADA POP – Gostaria de começar essa conversa perguntando como foi o seu primeiro contato com a música – puxando lá pela memória – e qual foi o seu primeiro instrumento e com qual idade.
MICHELLE ABU – Sempre gostei de “batucar” em tudo desde pequena. Lembro que meu pai me deu um tambor quando eu tinha 3, 4 anos. Aos 7 anos ganhei um cavaquinho. Mas foi um violão aos 14 que me despertou pra vida musical.
NADA POP – Aproveitando essa questão, sendo multi-instrumentista, você citaria algum instrumento com o qual você sinta mais afinidade? Falta algum instrumento que você queira aprender a tocar ou já esteja ensaiando seus primeiros sons?
MICHELLE ABU – Não tenho um instrumento predileto. Cada um tem seu lugar e função. Na bateria tenho mais responsabilidades e sou apaixonada pelo poder de som que ela representa. Brinco com meus amigos que se o guitarrista tirar a mão da guitarra, ninguém percebe, o baixo pode parar um pouco, mas o bumbo nunca! rs… A guitarra é meu grande desafio do momento. Quero aprender mais sobre harmonia e como tirar o som dela, percussivamente claro!

NADA POP – Sua família foi responsável por estimular a música na sua vida? Houve barreiras ou discriminação por você ser mulher?
MICHELLE ABU – De uma certa forma sim. Eles sempre me deixaram a vontade para experimentar coisas novas. Mas quando perceberam que eu iria levar a sério tiveram um pouco de receio. Quando entrei na Universidade Federal da Bahia (UFBA) em licenciatura eles perceberam que eu tinha feito minha escolha!

NADA POP – Você acredita que os homens são mais estimulados em relação a música nesse sentido? E que exemplos você poderia citar para demonstrar o quanto há diferenças nesse tipo de estímulo ou até preconceitos?
MICHELLE ABU – Acho que hoje em dia não existe mais isso. Mas no meu tempo, há 20 anos atrás, existia sim. Muitas vezes eu chegava no lugar e me perguntavam: você que é a produtora? Eu dizia : não, a baterista! Aí ficavam me olhando desconfiados até eu bater o bumbo e as coisas mudarem… rs
NADA POP – Sobre o seu primeiro álbum solo (#1), qual foi a sua necessidade/urgência em assumir a liderança no palco e pode extravasar ao mundo esse lado artístico como cantora e compositora? Como tem sido essa sua experiência e o que podemos esperar de um próximo disco solo?
MICHELLE ABU – Sempre tive bandas desde o começo de tudo. E toda vez que o vocalista saía da banda perdíamos o trabalho todo. Como eu sempre compus, pois o violão é meu amigo inseparável, resolvi assumir os vocais e finalmente comprar um guitarra e começar a tocar. Fiz uma banda chamada Reféns que também não durou muito, mas como era eu que estava a frente do projeto, escrevi o Reféns no Proac e ele foi aprovado. Foi a deixa para eu fazer o #1. No próximo disco com certeza o pensamento é o mesmo, buscar o som, a poesia e as ideias que eu sinto e desejo para minha carreira, levando a percussão sempre junto, seja num riff de guitarra ou numa levada de bateria.
NADA POP – Você tocou e ainda toca com vários artistas e já dividiu o palco com muitos outros. Você pode citar algumas experiências inesquecíveis que tenham marcado seus 20 anos de carreira?
MICHELLE ABU – Ter trabalhado com a Elza Soares, Lobão, Arnaldo Antunes, Ira!, Maria Alcina e atualmente Palavra Cantada e Filipe Catto são momentos inesquecíveis que guardo comigo. Mas teve um dia que foi extremamente especial porque juntou muitos artistas que eu admiro de uma vez só. Grêmio Recreativo, um programa da MTV. Nesse dia, fiz bateria, Liminha estava no baixo, Frejat na guitarra. Vozes: Arnaldo Antunes, Wanderléia, Erasmo Carlos, China, Vanessa da Mata e Branco Mello!! Lembro de lágrimas de agradecimento escorrendo no rosto…
NADA POP – Em uma entrevista sua para o site Eleven Culture, você diz que “o rock nacional começou a querer copiar os timbres, riffs e ideias dos gringos e se perdeu dentro disso”. Com base nessa frase, quais seriam os culpados, em sua opinião, pelo rock nacional ter pouco se reinventado nos últimos anos?
MICHELLE ABU – Acredito que o mercado mesmo seja o culpado. Querer que as coisas se repitam achando que vai fazer o mesmo sucesso sempre…Isso não funciona, desgasta o artista, a arte e os ouvidos.

NADA POP – De baterista da Palavra Cantada a baterista da banda Mercenárias, como funciona essa relação musical na sua vida e como você se beneficia artisticamente dessas diferenças?
MICHELLE ABU – Tocar com trabalhos diferentes me faz mais versátil e ao mesmo tempo desafios novos. Com certeza bagagem musical é o que eu ganho.
NADA POP – Michelle, obrigado pelo papo. Ao invés de pedir para você deixar uma mensagem para os leitores, gostaria de encerrar com uma pergunta: se uma música pudesse representar você, qual seria?
MICHELLE ABU – Difícil escolher uma canção que me represente. De Luiz Gonzaga à Raul Seixas, Mutantes á Elis Regina, de Titãs á Chico Science. Posso dizer que a arte deles e de muitos outros me representa.
Saiba mais sobre a Michelle Abu nos links abaixo:
Clipe da música Gangorra (Michelle Abu / Arnaldo Antunes)
Clipe da música Suíte Pescador (intro) (Dorival Caymmi) | Filha de Pai (Michelle Abu)