Punk, hardcore e alternativo

Danilo, da banda La.Marca - Foto: Neto Santos
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Danilo, da banda La.Marca: “Não levem a sério as redes sociais, o parâmetro ainda é o seu som e shows”

Danilo, da banda La.Marca – Foto: Neto Santos

Dentro do hardcore ou até mesmo do punk rock, não existe uma fórmula ou obrigações que determinem que uma banda que escolha esse estilo precise falar apenas de política, contestação social. Existem bandas que acabam obtendo reconhecimento pelas mensagens positivas, de autoconhecimento, amores (vide o emo), família, amizade ou histórias (engraçadas ou não) que de algum modo nos conecte com a música e letra. Poderia citar várias bandas assim, entre Ramones a CPM 22.

La.Marca é exatamente essa banda que se preocupa em passar uma mensagem de otimismo e autoconhecimento. Formada em 2009, vinda do extremo Sul de São Paulo, lançaram em 2009 o EP intitulado “Subliminar”. Seu primeiro full surgiu em 2012, o “Válvula de Escape”, e chegou a contar com participação do Badauí (CPM 22), na faixa “Uma Saída”, assumindo de vez a proposta de banda com mensagem positiva.

Mudanças de formação surgiram ao longo da existência de 10 anos de história, mas atualmente o La.Marca é o Danilo (voz), Ronaldo (baixo), Eduardo (guitarra) e Funga (batera). O mais novo álbum da banda se chama “A nova versão de uma velha estória”, é um disco pegado, com várias mensagens interessantes e que retratam a vida dos próprios integrantes. Acredito que, quando uma música busca ser otimista, o autor também quer que aquela música seja uma ferramenta de otimismo também para si.

Por isso acredito que o La.Marca consegue se comunicar tão bem com o seu público, colocando-se na mesma vibração e sendo a trilha sonora perfeita para muitos que precisam acreditar que há um caminho, tudo pode melhorar e que a vida é uma escola e que, se a gente puder aprender, poderá conquistar aquilo que mais queremos, sem que seja necessário passar por cima de ninguém.

Entrevistamos o Danilo para saber um pouco mais sobre a sua trajetória no underground e como avalia essa estrada do La.Marca até o momento, assim como o cenário independente, bandas, entre outros. Confere aí, além de muito honesto, o papo está bem divertido.

NADA POP – Danilo, pensando na primeira vez que você ouviu punk/hardcore, o que você sentiu e qual foi o seu primeiro pensamento a respeito?

DANILO – Eu sempre fui roqueiro de rádio, o contato com punk/hardcore que tinha era com Blink 182, Ramones, Green Day e Offspring e no geral mais bandas do mainstream. Porém, depois que ouvi CPM 22, um amigo me abriu a porta para o cenário underground, aí fudeu a porra toda, pois pirei em tanta banda que falava a minha língua. Foi nessa que eu entrei para essa loucura de underground, a princípio como público e consumidor, mas já sabia que queria mais.

NADA POP – Quando você quis montar uma banda e como tudo começou?

DANILO – Sempre tive um pezinho na música, meu pai cantava em karaokê e mandava superbem, ele sempre gostou de samba e tudo mais. Meu falecido avô Miro era um baita violeiro, tem até vinil gravado em 1.900 e guaraná com rolha. Então a música foi algo presente na minha vida e desde que comecei a ouvir rock queria tocar em banda. A princípio baixo, mas depois que eu conheci todo o movimento underground eu acabei virando vocalista.

Comecei em uma banda na igreja (olha as ideia), cantei em uma banda chamada Jesus HxC e ao mesmo tempo essa banda também fazia uns sons próprio e se chamava Hard Play Of Life, coisa de moleque que queria tocar. Com o tempo essas bandas acabaram e tentei outras até que sai de vez da igreja e fui tocar em uma banda chamada Doxy. Aí comecei a ter contato com a cena punk/hardcore de forma mais ativa tocando e organizando shows. Durou uns dois anos e acabei saindo da banda e junto com o batera e montamos o La.Marca. Resumidamente é isso! Rs

La.Marca – Foto: Dayane Mello

NADA POP – Os motivos que fazem você ter uma banda são os mesmos do início comparado com os atuais?

DANILO – Não, isso eu posso te afirmar sem vergonha alguma. Mudou algumas coisas. Mais novo você quer sucesso, virar e todo aquele papo Rick Bonadio. Hoje a ideia é passar uma mensagem bacana de esperança pra quem precisa acreditar em algo e, claro, se divertir e conhecer lugares e pessoas.

NADA POP – Existe meio que um padrão considerado estético no mundo do hardcore. Garotos magros e brancos, nascidos em uma família geralmente de classe média. Você de alguma forma já se sentiu excluído desse tipo de grupo ou isso nunca fez diferença pra você?

DANILO – Não sei se posso dizer preconceito, mas afirmo que por não estar inserido nesse contexto houve momentos em que não fomos escolhidos, isso me chateou por um tempo, mas hoje nem ligo mais. Cada cabeça é uma sentença. Punk/Hardcore sempre foi som pra boy e não tem problema algum. A gente curte o som é vai lá e faz dentro das nossas possibilidades e já era.

NADA POP – Com o La.Marca o que você destacaria que já aconteceu de especial e que ficará para sempre na sua memória?

DANILO – Conheci pessoas que hoje são meus amigos pessoais, isso não tem preço.

Mas claro que ter gravado com o Badauí, do CPM 22, foi algo importante pra gente. Imagina uma banda do extremo sul de São Paulo gravando com um cara que foi no Faustão. Chega no seu bairro falando isso, é coisa de doido. Não tenho vergonha de dizer, o cara é uma das minhas referências, sem contar que comigo sempre foi gente boa. Falta só aquele show cantando junto, uma hora acontece!

NADA POP – Entre as bandas que você ouvia e as que você ouve hoje. O que mudou, o que melhorou ou piorou em sua opinião?

DANILO – Antes era uma treta achar disco/k7/CD das bandas pra ouvir. Ver clipes e saber dos shows. Hoje é uma explosão diária de informação, é material na sua cara. Isso é bom pra quem consome. Pena que temos pouca gente consumindo os shows em si. A moda é fazer a piada que a banda do amigo pode ser ruim, por isso ninguém cola. A renovação de gente interessada não saiu como imaginávamos, essa é a verdade.

NADA POP – Sobre o álbum Válvula de Escape e o mais recente A Nova Versão de uma Velha Estória, quais as barreiras físicas, emocionais e psicológicas pelas quais você passou que te fizeram melhor como músico?

DANILO – Filosofou em bixo! Rs – Em 6 anos muita coisa aconteceu de um álbum para o outro, teve troca de formação, mudança de pensamento e do que eu queria trazer. Acho que de um disco para o outro de fato evolui muito como músico, embora não me considere um. Mas no pessoal eu evolui muito mais, comecei a ter consciência de quem eu deveria ser, mais consciente que a vida passa rápido e temos que crescer, de que eu tinha que cuidar da minha saúde é isso mexe um pouco com a cabeça. É aquela fase de várias crises de existência.

Mas no fim eu acho que toda essa coisa fez um bem danado e acabou transparecendo no disco novo. Afinal, todo dia você pode fazer uma versão nova de uma velha estória. Deu pra entender!? rs

NADA POP – E como anda a sua saúde hoje? Você teve problemas recentes com isso, certo? Você consegue fazer alguma relação entre saúde e música? Qual?

DANILO – A saúde até que anda boa pra um cara gordão que nem eu… rs

Mas como disse acima, ao logo dos últimos anos eu vi a necessidade de que eu tinha que me cuidar, tentei milhões de dietas e não deu certo. Então no final do ano passado decidi que iria fazer uma cirurgia bariátrica. A cabeça tá boa, e a fase da banda me ajudou muito a tomar essa decisão. Os caras me apoiaram muito. Sem contar a minha esposa que é uma pareceria incrível. Vem aí o ex gordão, vamos ver se depois disso chamam a gente pros rolês bão… kkkk

Brincadeiras à parte, a gente tem que se cuidar e ter uma qualidade de vida melhor sempre.

NADA POP – O hardcore nos coloca muitos questionamentos, rupturas e esperanças. Como você se vê em 10 anos ou o que gostaria de fazer ou como gostaria de estar?

DANILO – Foi se o tempo que eu planejava a longo prazo algo como a banda. A gente está completando dez anos de correria sem atrasar o lado de ninguém, tocando no nosso ritmo e fazendo as coisas como queremos. E o legal é ver que tem gente gostando ao longo do tempo. Mesmo às vezes a gente sabendo que a garfada come solta. Dentro disso tudo eu acho que não tem plano melhor pra se fazer a não ser deixar rolar.

A única vírgula que eu colocaria e que gostaria e ver um cenário mais favorável para bandas que não estão em um primeiro escalão. A galera tem se movimentado bem, só precisa de chance pra mostrar para o público mais seletivo e consumidor do punk/hardcore.

Já eu como pessoa, me vejo sentado na beira do mar com as minhas pelancas de fora tostando ouvindo as bandas dessa molecada nova e dos meus amigos… Já está de bom tamanho.

NADA POP – Sei que você já trabalhou com diversas bandas por trás dos palcos. Qual lição isso teve e quais os melhores momentos pra você nesse período? Conta como era seu trampo para quem não sabe ficar sabendo, por favor.

DANILO – Trampei com alguns roqueiros doidos, aprendi o que devia e não devia fazer. Tive um grande parceiro e professor (Alex, do Statues on Fire). Mais a lição mais valiosa foi, o papo é reto e a palavra não faz curva. Levo isso pra qualquer situação da vida sempre.

Sem dúvida o momento mais bacana foi o show de volta do Blind Pigs, no Cine Joia, em 2013, e a primeira vez que viajei como tour manager do mesmo Blind Pigs para Ilha Solteira, 12 horas de van é uma puta responsa cuidar dessa delegação de punks doidos.

NADA POP – O que o hardcore/ punk fez por você (ou aquilo que ele te deu) que qualquer outra situação seria impossível?

DANILO – Dor de cabeça, raiva! Rs

Posso dizer que me moldou e fez eu ser uma pessoa melhor, me deu um lugar onde eu não era o esquisito, me deu grandes amigos.

NADA POP – Para quem for montar uma banda hoje, você diria para ela se preocupar primordialmente com o que?

DANILO – Não monte! Rs

Caso insista eu diria pra não levar as redes sociais tão a sério, o parâmetro ainda é o seu som é o que rola no show. Faça o que goste e não atrase o lado de ninguém.

NADA POP – Sobre os outros integrantes da banda, como você destaca a importância de cada um deles para o La Marca?

DANILO – Sem o Dudu o Roni é o Funga o La.Marca não existiria, não vejo seguindo sem eles.

Dudu é o coração bom da banda, o cara do riso fácil e que traz as músicas e os riffs mais doidos.

Funga é o operário que não tem tempo ruim, esse cara vestiu a camisa com gosto.

Roni é o cara que faz a gente ter os pés no chão, sempre corta minhas brisas. Porém, se tenho uma ideia boa é o primeiro a incentivar, são nove anos tocando juntos com o Roni, o santo bateu.

A importância deles pra mim na banda é só um ponto, a importância deles na minha vida é muito maior e eles nem tem ideia disso, antes de banda a gente é amigo, camarada. Eles são família que eu pude escolher.

NADA POP – Sucesso é algo relativo. Pra você, o que isso significa? O que seria mais importante, sucesso ou respeito?

Sucesso é estar dez anos na ativa e muitas vezes sendo ignorado por não fazer média e dizer o que as pessoas querem ouvir. Ser respeitado sempre será o mais importante. Cabeça leve no travesseiro é uma das coisas mais bacanas do dia a dia.

NADA POP – Sobre o atual projeto da banda, o que você destacaria do que está por vir?

Estamos tocando e divulgando o disco mais recente o Nova versão de uma Velha Estória. Não digo que é tour, pois me sinto um charlatão querendo se achar o músico foda. A ideia é fazer shows até o começo de julho e depois devo tirar um tempo pra ver o lance da cirurgia. Se tudo der certo, em setembro a gente volta com clipe é a festa de dez anos da banda e no final do ano um registro acústico, quem sabe com algo inédito. Amigos chama noix pra fazer um rock ae!

NADA POP – Para encerrar, qual os três álbuns que você ouviria pelo resto da vida?

DANILO: Esses aqui:

Obrigado pelo espaço. Nada Pop, dar voz para diferentes visões do punk rock é necessário. Crianças bebam água, acreditem menos nas redes sociais e dar risada de si mesmo é o melhor remédio!

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