Punk, hardcore e alternativo

Luciano Guimas, guitarra e vocal da Superbad - Foto: Garage Sounds
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Conexão Manaus: Entrevista com Luciano Guimas, da Superbad

Luciano Guimas, guitarra e vocal da Superbad – Foto: Garage Sounds

Luciano Guimas é vocalista e guitarrista da SuperBad, banda de hardcore extremo de Manaus com origem em 2015. Apesar de nascido no Estado do Pará, Luciano mora em Manaus há alguns anos. Além de músico, também trabalha na área de acessibilidade como Intérprete de Libras, ledor e também transcritor (isso mesmo, “dá um Google” depois para entender o quanto isso é bacana).

O papo abaixo foi realizado pela Brenda Resende, que gentilmente encaminhou para o Nada Pop essa entrevista. Para saber quem é a Brenda, basta acessar este link: http://bit.ly/2khw72j

Como você entrou no cenário hardcore?

Eu não lembro muito bem o ano, mas foi através de um amigo no ensino fundamental. Foi minha primeira banda. Ele disse que tinha uma banda com mais dois amigos e estavam precisando de um segundo guitarrista. Eu tinha acabado de ganhar a minha primeira guitarra do meu pai. Foi uma caixa mágica pra mim (hahaha). Na época, a gente fazia uns covers de CPM22 e outras bandas. Até a gente começar a fazer uns sons autorais e tocar em uns eventos na cidade.

Como surgiu a Superbad?

Então… Superbad surgiu no segundo semestre de 2015, com uma troca de ideias com um ex-membro da banda, o Marcos Efraim. A antiga banda dele tinha acabado e ele tava a fim de fazer algo novo, e me chamou pra produzir junto com ele. Foi a minha primeira banda com objetivo de fazer algo sério mesmo, lançar um disco, merchandising, turnê, produzir e rodar a banda no cenário.

A gente se reunia sempre na casa dele pra ensaiar e criar os primeiros sons. A ideia do nome da banda veio do filme “Superbad”. O Renan, primeiro batera levou o filme em um dos ensaios/reunião da banda pra gente assistir. A gente não tinha ideia de nome pra banda (hahahaha) e a rapeize decidiu por Superbad por conta do filme.

Eu, particularmente, acho um nome bem merda, mas combinou com a banda. Atualmente eu sou o único integrante da banda que tá desde o começo.

Sabemos que você também fazia parte do Dead Fish da Depressão, como foi a experiência com essa página de humor no Facebook? E de onde/como surgiu a ideia da mesma?

Eu era um fã da página, um dos 50 primeiros a curtir a página quando surgiu com o Lucas. Depois entrou o Luiz e o Arlei. Sempre mandava umas montagens bem tosca pra ele, e ele curtia. Até que um belo dia ele me chamou pra entrar pra página e produzir com eles. Se eu não me engano, foi em 2013 que foi criada, posso estar errado, mas eu lembro quando estourou e chegou na banda, foi em 2014.

Foi uma experiência muito doida!!! Jamais pensei que eu fosse chegar na minha banda favorita, por meio de montagens no Facebook (hahahahaha).

Logo da página Dead Fish da Depressão

Qual a principal dificuldade de tocar hardcore fora do Eixo Sul/Sudeste?

Sem dúvidas é se locomover para outro Estado. É bem difícil para uma banda aqui do Norte, do Amazonas, um estado bastante afastado dos demais, ter um certo apoio em translado e várias outras questões. Aqui em Manaus também é bastante difícil a galera consumir essa vibe do hardcore, pior ainda… de um som autoral.

Normalmente a galera cola “em peso” quando a banda vem de fora. O hardcore por aqui ainda tem suas grandes dificuldades, infelizmente. É bastante difícil a galera consumir um som mais pesado e autoral aqui em Manaus, mas tem uma galera que tá sempre ali na renovação de geração. Eu ainda acredito, por mais difícil que seja.

Como foi fazer tour pelo Brasil com a Superbad?

A gente organizou essa tour toda dentro de um grupo de Whatsapp, logo no começo da banda. Eu, Efraim, Zé (Sokera) E o Leeo (Surra). A gente trocava contatos de manos que fazia shows nas cidades. Rolou, em Janeiro de 2017, começando em Belém e terminando em Curitiba no período de um mês inteiro.

Como eu falei sobre o lance da dificuldade de translado, foi tudo do nosso bolso. Mas tivemos a ajuda de pessoas incríveis durante essa tour. Alavancou a banda de um jeito sinistro!! E eu tenho uma parada na minha cabeça de que toda banda precisa fazer uma turnê, pra ela amadurecer. É necessário! Só quem faz essas doideiras sabe.

Luciano sendo interprete de Libras no show do Gramophone, no festival Passo a Paço, em Manaus. Foto: arquivo pessoal.

Quais suas maiores influencias musicais?

Chester Bennington (Linkin Park), Rodrigo Lima (Dead Fish), Jesse Barnett (Stick to Your Guns), David Blom (Dismember), Leeo Mesquita (Surra) e Scott Vogel (Terror).

Quais as três coisas que te atraem no cenário musical (no qual está inserido) e três coisas que o faz querer desistir de tudo?

As três coisas que me atraem são: 1) A independência das bandas. Toda correria que cada uma faz; 2) A mensagem e energia que o hardcore passa por meio das das músicas; 3) Produtores que ainda valorizam as bandas autorais.

As três coisas que me fazem querer desistir? Pode ser mais? (Hahaha). Vamos lá: 1) Conservadorismo do público e até mesmo dos próprios artistas; 2) Não ter uma estrutura boa; 3) Não ter reconhecimento de trabalho; 4) Festivais gigantes valorizando bandas covers; 5) Infelizmente, as pessoas ainda estão com essa visão de que o hardcore é só coisa de homem, de que as meninas não podem estar inseridas nisso. Mas acredito que isso ta mudando! Hardcore é um espaço pra todos os gêneros!

Cartaz da tour Superbad realizada em 2017.

Você trabalha como intérprete de libras, ledor e transcritor. O que te fez ir por esse caminho?

Tenho um amigo/irmão Ney, que sempre me influenciou fortemente. Sempre estive presente na vida dele e ele na minha. Ele é profissional na área há bastante tempo, eu ainda estou em formação, mas já comecei a atuar. Os amigos surdos sempre estavam presente na casa dele para organizar trabalho e conversar. Eu ficava ali sempre curioso pra saber o que se passava.

Sempre tive uma grande vontade de me comunicar e entrar nessa cultura. Aprendi umas coisas básicas na comunicação com eles no começo, até fazer os cursos. É uma coisa que mudou e tá mudando muito a minha vida até o momento. Eu não sei nem como explicar, é uma parada muito linda. Assim como ler uma prova de concurso para um cego até uma pessoa que possuí dislexia. Se você, que tem essa vontade de aprender e ajudar o próximo, FAÇA!

Se comunique, ajude, se aproxime. Torne acessível e inclua as pessoas em tudo! Todos tem o direito de ter o mesmo acesso que você!

Fale um pouco sobre a experiência de ter interpretado músicas durante o festival no Passo a Paço com a banda Gramophone?

Interpretar no Passo a Paço foi uma experiência absurda. Subir no palco e ter na base de 60 mil pessoas te olhando é surreal. Tudo graças ao convite da Banda Gramophone que ta na divulgação do seu novo trabalho, que inclui libras e áudio descrição, e do meu amigo Ney que estava na responsabilidade de interpretar, mas surgiu um imprevisto pra ele de uma viagem e acabei o substituindo. Semanas estudando e traduzindo na base de 10 músicas foi um desafio e tanto. No final deu tudo certo e foi lindo! Salve Gramophone! Escutem o trabalho, ta único.

O que você diria pra quem pretende seguir com banda?

DESISTA! Tô brincando (hahaha). Se você tem um sonho, por mais distante que ele seja, não desista, nunca! Se for sua mãe, pai, namorada, namorado, tio, colega… Qualquer um, não importa, qualquer um que falar que essa porra não vale a pena responda: “que se foda!”. Faça! E torne isso possível. Nada é impossível pra você.

O que a música trouxe de bom e nem tão bom assim, podemos dizer que trouxe algo ruim?

É tanta coisa boa que eu iria passar horas aqui escrevendo. Conheci lugares, pessoas, culturas diferentes desse país. Conheci e me tornei amigo de pessoas que sempre fui muito fã e admirei. Só tenho que agradecer a todo esforço dos amigos de bandas que ficaram e que já se foram. A música nunca me trouxe nada de ruim! Sempre foi meu alívio.

Como foi cantar com o Dead Fish, uma de suas bandas favoritas?

Foi maravilhoso. Lindo demais! Foi muito aleatório, não tinha combinado nada com o Rodrigão antes do show. Em “Suv’s” ele me chamou pra berrar com ele, mas eu meio que fiz um gesto pra ele que iria em outra música. Só subi no palco na hora de “Tão Iguais” e ele me deu o microfone carinhosamente.

Sempre tive vontade de cantar aquela parte famosa da música que normalmente quem faz ela é o Rey ou o Victor, do Braza. Muito amor e respeito por esse cara. Criei uma amizade muito forte com ele devido ao Dead Fish da Depressão e firmou forte depois da Superbad. Salve gigante ao meu amigo e essa banda linda!!!

Um obrigado com muito amor ao Nada Pop e a Brenda, vocês são lindos! Abraço forte a todos! Continuem ouvindo, colando nos shows das bandas da sua cidade, apoie ao máximo que você puder! Leia e se informe! Dê espaço para todos na sua cena, menos para ignorância, preconceito e conservadorismo.

Abraxxxxsss

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