
No próximo domingo, 6 de outubro, três gerações do punk nacional se reúnem no Fabrique Club para um show que será histórico. Garotos Podres, Flicts e Faca Preta formam uma trinca punk de mensagens, sugerindo uma continuação da cena punk paulista. Estamos falando de um encontro mais do que especial. Por isso, vamos tentar trazer uma pequena entrevista com cada uma das bandas que participam desse show. O nosso primeiro convidado é o Faca Preta, que não poupou palavras e demonstra porque vem se destacando no cenário musical.
O Faca Preta surgiu em 2013 e trouxe um novo fôlego ao streetpunk. O quinteto lançou um EP 7’ pela HBB, que tem a já clássica “Lutando de Braços Cruzados”, e prepara seu primeiro disco completo para ser lançado em breve. A banda conta que talvez seja lançado um single ainda neste ano. Ela é formada por músicos experientes do circuito underground: Anderson Boscari (guitarra), Dudu Elado (guitarra), Fabiano Santos (vocal), Marcelo Sabino (bateria) e Shamil Carlos (baixo).
Mais uma vez, a Powerline é a produtora do evento deste domingo, que acontecerá na Fabrique Club, que fica na rua Barra Funda, número 1.071, na Barra Funda. Os ingressos custam R$ 40 online e é possível comprar online neste endereço: http://bit.ly/2mNZ5bc
Confira o nosso papo logo abaixo. Sobre o evento deste domingo, confirme a sua presença na página do evento no Facebook, basta clicar AQUI.
Sobre a ascensão da direita no Brasil, quais as perspectivas de futuro e como enxergam a questão ambiental que vem sendo debatida no mundo? Há esperança no amanhã?
SHAMIL – A Ascensão dessa ultra-direita infelizmente é mundial. Na minha visão, chegamos no ponto que a esquerda conciliadora que tivemos a frente da democracia burguesa, chegou no seu limite, e só acredito num futuro revolucionário. Mas até lá também acredito que cabe a cada um de nos ser a mudança que quer no mundo, diminuir consumo de industrializado e de carnes é uma escolha simples e diária que nos garante alguns dias a mais nesse planeta já tão destroçado.
NADA POP – Qual a importância do punk rock em nosso atual momento político e quais os artistas que vocês percebem, e que admiram o trabalho, que estão engajados nesse alerta à população? Não precisa ser só do estilo punk.
SHAMIL – No punk ainda estamos bem presos a discursos simplistas, o próprio anarquismo propagado tantos anos em nosso meio é raso e niilista. Nunca vi uma banda falando sobre organização anarquista, é sempre algo apenas destrutivo, nunca tem um plano. Tirando o Cólera né, obviamente o Redson tinha uma visão acima da média. Eu gosto muito do caminho que o Dead Fish tem seguido e vejo muita gente engajada no RAP e nesse rolê de brasilidades.
ANDERSON – O punk e outros estilos, como o RAP e a MPB, sempre trouxeram mensagens em suas letras. Em diferentes épocas, e em diferentes caminhos. Hoje em dia vemos muitas bandas se posicionando, muitos artistas com um discurso muito interessante, porém acho que a mobilização de quem ouve ainda não aconteceu. Acredito que o caminho pra lutar contra essa ascensão da extrema direita seja nossa união, discutir quais caminhos podemos trilhar juntos pra alcançar um bem maior. Acredito que essa mensagem tem chegado na molecada, e isso é muito importante.
NADA POP – O machismo sempre foi um problema em diversas áreas de nossa sociedade (se não todas). Vocês percebem isso também no punk? O que as bandas de punk e hardcore devem ou podem fazer para tornar nossos espaços ainda mais plural?

SHAMIL – Acho um ponto importantíssimo da gente como homem estar aberto a discutir isso, encarar que a culpa é nossa e que por mais desconstruído que sejamos, ainda vamos levar muitas ideias e pensamentos machistas com a gente devido a sociedade que fomos criados.
E vou te ser sincero, se eu não tivesse me envolvido com o punk eu nunca teria aberto minha cabeça pra isso, lembro de dois eventos que eu fiquei pensativo depois.
O primeiro show do Dominatrix que vi e a Elisa parou o show pra dar uma bela orelhada em todos os meninos presentes e lembro de meus amigos ficarem falando o quão ela era chata e eu pensei “mas ela tá certa, a gente tem que dar espaço pras meninas”, mas óbvio que só pensei né, homem que sou fiquei quieto diante dos meus amigos.
E um show do Blind Pigs, que o Henrike viu alguém passar a mão numa menina que pulou e disse “mano, dessa vez eu só vi a mão, mas se eu ver quem foi eu mesmo vou descer pra te bater. Tem que respeitar as mulheres seu babaca”.
NADA POP – Quais os futuros da banda em relação a novos sons, álbuns, shows, tours e o que mais puderem contar sobre isso. O que os fãs podem esperar de vocês em curto e longo prazo?
ANDERSON – Estamos na fase de mixagem do nosso álbum, e vamos lança-lo no primeiro trimestre do ano que vem. O processo foi bem mais demorado do que imaginávamos, ou que planejávamos, mas o resultado final ficou muito além das nossas expectativas. O disco tá foda! Até lá, faremos provavelmente apenas esse show dia 06/10, com Flicts e Garotos Podres, e com o lançamento do disco, estamos preparando uma tour de divulgação. Pretendemos ainda lançar um single esse ano, se tudo correr bem!
NADA POP – Sobre os nossos “punks” de direita, que acredito vocês já tenham visto ou ouvido histórias. Esse é um sinal de que existe uma falta de consciência e pensamento crítico ou apenas a alienação social da qual todos nós estamos suscetíveis diariamente pela mídia e propaganda?
SHAMIL – Pra mim, punk de direita é uma postura bem burra, nem dou muito palco pra maluco não. Só nunca serão bem-vindos em nossos shows. Leiam as letras, as bandas estão falando coisas importantes!
ANDERSON – Acredito que seja uma total falta de interesse pelo movimento, que nos ensina coisas completamente contrárias aos ideias de direita. São apenas pessoas que buscam fazer parte de alguma coisa, se sentirem parte de algo, mesmo sem a menor ideia do que estejam fazendo. Não são bem-vindos em nossos shows!