Toda vez que alguém diz que vai lançar seu quadrinho independente um gnomo morre nas florestas da Dinamarca.
Toda vez que alguém vai a noite na Rua Augusta pra se divertir achando que está entrando no lado obscuro da cidade uma nova marca de refrigerante é criada no interior de São Paulo.
Toda vez que uma banda fala de suas influências citando mistura de jazz, MPB e música regional alguém fica de saco cheio e vai embora da Rua Augusta.
Toda vez que uma nova cantora declara numa entrevista que canta desde a barriga da mãe 5 litros de pesticida altamente tóxico são despejados na nascente do Córrego do Pau Barbado em Paraguaçu Paulista.
Toda vez que a Maria Gadú abre a boca para cantar eu me pergunto, “Porque… …porque?”
Toda vez que um psiquiatra fala “Aham… …me fale mais sobre seu pai!” um executivo da indústria farmacêutica sorri e cheira mais uma carreira de cocaína.
Toda vez que o Collor ouve Alice in Chains ele se sente saudade dos tempos em que era presidente do Brasil e tinha a alcunha de “caçador de marajás”, mal sabia ele do que estava por vir.
Toda vez que Rosane Collor via Fernando Collor ouvindo Alice in Chains ela se perguntava, “Porque… …porque?!”
Toda vez que alguém toca uma nota musical no momento em que se deveria executar a pausa, nasce um cabelo preto no Hermeto.
Toda vez que eu escrevo “Toda vez que…” alguém na frente da tela de um computador espera por algum tipo de relação entre um fato e outro, tenha ele sentido ou não.
Toda vez que o Bolsonaro deita na cama a noite um pensamento não lhe sai da cabeça, “Eu quero a boca de Jean na minha boca!”
Toda vez que alguém senta com o violão e começa a tocar Legião Urbana numa fogueira uma gravidez se anuncia no horizonte.
Toda vez que eu viajava pela estrada de Ouro Fino, de longe eu avistava a figura de um menino.
Toda vez que alguém marca um show de rock no centro de São Paulo, logo na sequência outro show é desmarcado, porque os promotores não sabem usar agenda e marcam dois eventos numa mesma noite.
Toda vez que o Brasil começa a entrar na linha vem a “oposição” e fode com tudo de positivo que está sendo feito.
Toda vez que Tilda Swinton faz um filme nada muda na minha vida, até porque só escrevi isso porque o som das palavras “Toda vez que” me lembrou o nome de “Tilda Swinton”.. …ela fez um filme de vampiro que pare e uma propaganda de perfume, é um saco!
Toda vez que a linha 10 da CPTM fica sem energia a circulação de trens fica comprometida.
Toda vez que um bar na Vila Madalena enche um balde de gelo e cerveja, sorrisos largos e dentes brancos são mostrados e alguém levanta o copo dizendo, “Riviera é top!”
Toda vez que a menina posta uma foto de si mesma (selfie, como gostam de dizer) alguém do outro lado clica na foto pensando em como seria estar ao lado dela. Ambos estão sozinhos.
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*Rafael Moralez é músico, ilustrador e autor da série Peixe Peludo. Conheça seu blog de ilustrações clicando AQUI.