Punk, hardcore e alternativo

Compartilhe:

Crônica ~ O facebook estragou a sobremesa, por Rafael Moralez

Vai comer o quê?

Cresci nos anos 80, vi a movimentação para as Diretas Já, mas era moleque, não entendia nada de política. Minha participação nesse movimento se resumiu a participar de um concurso de frases do suco em pó Tang, a frase que enviei foi “Diretang Já”. Acho que os jurados não entenderam o peso político do suco em pó no processo de redemocratização do país e eu não ganhei o prêmio, que era um buggy verde para crianças. Melhor assim, eu ia acabar me fodendo todo num poste com aquele buggy-mirim. Depois veio a patacoada Caras Pintadas. O canal de televisão Groba elegeu e derrubou o Collor (eu penso assim, me explica de outro jeito se souber mais direitinho!). Tocava grunge, cena e música da qual nunca gostei, acho chato como uma praia paranaense. Faltou molho para o grunge, ainda prefiro a rispidez do Bad Brains, Dead Kennedys e Olho Seco que na época tocava nas minhas fitinhas K7. Demorou um pouco e depois dessa salada veio a internet como prato principal.

Argumento que ouço – “Pô bicho, mas ficou tudo mais fácil, eu ouço banda da Islândia e de Sorocaba,baixo tudo.”

O Orkut acabou graças a Jah, veio o facebook e todo mundo tá clicando e falando de tudo e de todos. Fofocaiada das braba. A vizinha que espiava o bairro inteiro de seu muro e comentava da “filha da Neuza que tava saindo com o traste do filho do Chico da oficina” liberou geral e eu posso descer o sarrafo em banda, vizinho, site e em quem mais quiser sem me preocupar com o que acontece depois (maizomeno né!). O que se faz no facebook, fica no facebook? Nem sempre. Você encontra o canalha do seu amigo virtual que é “gente de bem, defende a família e odeia viado” e até aperta a mão dele na festa que tá rolando na casa daquele seu brother que é indie, conhece um monte de banda, mas não paga 10 conto num CD da sua banda. Se for uma cerveja importada na Vila Madalena ele paga até 50,00.

Pô bicho, dá um desconto, você é maior pessimista!

O Ignacy Sachs (economista dos bons) disse que “o pessimista é um otimista bem informado”. Hoje tá tudo aí pra nós na internet, é só saber chegar (Brown, Mano, 2002). Até a revolta está disponível… …essa semana vamos nos unir virtualmente contra o quê? Esperemos a próxima tragédia.

Dizem (sei porra nenhuma de psicologia) que o trauma serve, por vezes, para alterar a conduta do indivíduo. Pós-trauma ele se cuida para não mais repetir os atos que o levaram a ter dor, desconforto ou perda. Nossa sociedade, nosso tempo, nossa época, vive uma sucessão de traumas sucedendo sucessivamente. É tanto tiro, porrada e bomba (Popozuda, Valesca, 2015) que o trauma é o normal, é nosso dia a dia. Mas eu queria mesmo escrever sobre a banda Chabad, vi um show deles tempos atrás e foi foda de bom! Acabou que comecei citando o Collor (isso dá maior zika), passei pela internet e terminei sei lá onde.

Gosto de matar não… …mas se precisar matar eu mato!

Eu curto Crust.

Curte aí!

(Semana que vem vou escrever sobre pescadores urbanos, sei nada sobre o assunto!)

*****************************************

*Rafael Moralez é músico, ilustrador e autor da série Peixe Peludo. Conheça seu blog de ilustrações clicando AQUI.

Mais posts

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Categorias
Youtube
Instagram