Punk, hardcore e alternativo

Ilustração por Rafael Moralez
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Crônica ~ A banda que resolveu VOLTAR!!!, por Rafael Moralez

“Bar é bom.”, diziam. Ambiente onde as relações ficam um pouco mais horizontais. Bebe-se com quem não se conhece. Não há a ala dos platinum ou a mesa dos Personalité, boteco que é boteco tem balcão e meia dúzia de mesa. Às vezes encontra-se a mesma cerveja, a mesma piada e as mesmas afirmações bêbadas:

– “Sim, eu sou um advogado muito, muito, muito responsável, faço pesquisas até hoje!”

– “Conta aquela história.. …conta vá!”

– “O Moralez toca bateria…”

Mais do mesmo… …geralmente é mais do mesmo. Evite botecos, evite pessoas.

Pessoas, geralmente, são mais do mesmo.

Como uma banda que volta a tocar depois de muito tempo. Foi uma banda boa décadas atrás. O motivo de ter sido boa décadas atrás é que não tinha ninguém para competir, só tinha eles tocando. É como ganhar uma corrida em que você compete consigo mesmo, não tem superação, é só continuar reto, ninguém vai te ultrapassar. De repente todos mais gordinhos, carecas, sem nenhuma juventude no rosto resolvem “fazer um som”.

A banda foi boa, hoje soa chata, os integrantes viveram do silêncio por anos e agora triunfam na sua volta. Passaram a décadas vivendo da lembrança de meia dúzia shows que foram foda… …depois esperavam pelo sucesso, que, claro, não veio. Não compreendo a vibração dos que foram fãs… …mas não é minha função entender porra nenhuma. Mal entendo o que eu escrevo aqui!

Um dia, em um bar, ouvi um integrante da banda-que-estava-morta se desdobrar numa explicação do motivo pelo qual não fizeram sucesso. Envolvia uma gravadora, uma outra banda que passou a perna neles e um “…a gente estava cansado sabe, era começo dos anos 90, apareceu o grunge e blá, blá, blá…”, ele pensava que ainda era relevante, ele ainda se achava referência, ele ainda se achava roqueiro, ele ainda se achava como quem devia satisfação de sua derrota… …ele estava dando uma entrevista sem ninguém ter perguntado nada.

Vou resumir para vocês, “nem eles aguentavam mais tocar aquela merda de música”, então foda-se a banda e sua volta triunfal. Não há interesse em meia dúzia de caras na midlife crisis tocando um repertório que ficou parado por décadas.

Se eles fizessem um churrasco, apresentariam os filhos uns pros outros (esses vão se divertir pacas, criança quer mais é tocar o terror!), as esposas vão reparar na barriga, nas celulites e nas estrias alheias (vai ter piscina, o encontro é num sítio!) e no fim do dia o momento máximo… …eles se juntam num lugar ladrilhado, provavelmente na varanda, uma rede ao fundo, com guitarras emprestadas, chinelos, sem camisa e meio bêbedos depois de passar a tarde entre carnes e cerveja skol em lata, nessa hora a banda revive seus acordes e distorções… …se fosse assim seria honesto, seria lindo, seria como acontece de verdade. Mas não, eles escolheram o palco… …não sei o que dizer mais!

Uma pá de cal como cobertor para os vermes… …e Inês é morta!

A Monsanto.

A Samarco.

O Mercado Livre.

Evite empresas, evite bandas que voltam depois de muito tempo inativas, evite bares… …evite pessoas.

Pessoas, geralmente, são mais do mesmo!

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*Rafael Moralez é músico, ilustrador e autor da série Peixe Peludo. Conheça seu blog de ilustrações clicando AQUI.

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