Vinicius Ferreira é biólogo e pesquisador especializado em insetos, com foco em besouros, e atualmente está em fase de conclusão do seu doutorado na área de Entomologia (estudo dos insetos) nos Estados Unidos. É especialista em um grupo de besouros chamados lícideos (Lycidae é o nome científico dessa família de besouros).
Os besouros desse grupo são, como Vinicius gosto de dizer, os primos pobres dos vaga-lumes (nome científico da família é Lampyridae), pois são bem parecidos em vários aspectos com eles, tendo como principal diferença o fato de que os licídeos não são bioluminescentes. O Brasil tem muitas espécies de besouros novas, e como cientista, existe o interesse de catalogar e descobrir todas as espécies de besouro da família Lycidae, atualmente conhecida por cerca de 4.200 espécies diferentes.
Como o fã do Dead Fish descobriu a banda
De acordo com o Vinicius, o Dead Fish entrou em sua vida quando começou a graduação em biologia, em 2008, quando amigos apresentaram o hardcore, incluindo ai o DF. “Sempre fui muito fã de rock, mas quando conheci o hardcore, com uma pegada mais embativa, anti-establishment e desafiadora, encontrei um tipo de música que além de agradar aos ouvidos alimentava a cabeça com ideias, me fazendo questionar coisas que nunca pensei ou prestei atenção”, conta. O fã reconhece que teve uma vida privilegiada, com muito conforto e acesso a uma boa educação e um lar amoroso, mesmo morando na Zona Leste de São Paulo. “Meu contato com o DF e outras bandas me ajudou a enxergar a vida por uma perspectiva diferente, de quem não teve acesso a estes privilégios, sempre trazendo a tona em suas letras temas sobre a desigualdade desse brasilzão”, diz.
Uma nova espécie de besouro batizada de Acroleptus limai
A ideia de homenagear o Rodrigo Lima ocorreu quando Vinicius descobriu esse novo besouro, somente conhecido pelo exemplar fotografado (ver imagem), que assim como o Rodrigo, também é nativo do Espírito Santo. O bicho, um macho, que se chama Acroleptus limai, estava na coleção científica de besouros do Museu de História Natural de Londres, e foi enviado com centenas de outros exemplares de várias outras espécies para o seu estudo.
“Praticamente nada se sabe da biologia desse bicho, mas por conta da sua anatomia única (o formato das antenas elaboradas, combinado com o conhecimento de outras espécies próximas) penso que os adultos machos, como este da foto, tenham uma biologia parecida com a de outros besouros, em que os adultos machos tem um ciclo de vida parecido com o das borboletas (larva, pupa e adulto), enquanto que as fêmeas adultas nunca passam por esse processo, e retém a forma de larva mesmo quando adultos”, explica o biólogo.
Por fim, o cientista ressalta a importância dessa homenagem. “Pra mim, besouro é coisa séria, e poder homenagear um músico e letrista tão bom quanto o Rodrigo, nomeando uma espécie nova com seu nome, é uma chance que eu tenho de retribuir por tudo o que ele e a banda fizeram pela minha formação e pela forma como vejo o mundo”. conclui.
O trabalho foi publicado na revista científica Journal of Natural History, do Museu de História Natural de Londres. Abaixo os links para conferir esse material:
Link do trabalho: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00222933.2020.1733120
Observação: No PDF, vá para a página 2.748, onde é citada a homenagem ao Rodrigo. As fotos que pertencem ao bicho Acroleptus limai são as figuras 7 (vista de cima), 8 (vista de frente) e 9 (vista de baixo) e 18 (vista ventral e dorsal do pênis do bicho). Perfil do Vinicius no Facebook (clique AQUI).
Pra saber um pouco mais da pesquisa do Vinicius, dê uma olhada em seu site pessoal: https://cantharoid.com/