Vamos por partes, e antes de você começar a xingar ou até mesmo sorrir com esse texto, quero deixar claro que essa é uma opinião pessoal e que de forma alguma tem interesse em falar mal do evento, mas apresentar alguns pontos que tornaram o show do Black Flag, infelizmente, sem alma.
Diante dos nossos contatos e amizades, ouvimos muita gente dizer que não iria nesse show, chamando-o de ‘Black Flag Cover’. Particularmente, também não iria no show e me sentia convencido disso até poucas horas antes do início da apresentação. Mas poxa, era a primeira vez da banda aqui no Brasil, um dos logos mais conhecidos da história, sendo um dos grupos de punk/hardcore mais lendários dos Estados Unidos. Foi quando me vi, às 18h do último domingo (8/3), na frente do Carioca Club, tomando uma cerveja na frente do espaço, aguardando calmamente para entrar.
Show sem banda de abertura
O que me chamou a atenção é que não houve banda de abertura, o que me trouxe uma certa estranheza. O espaço do Carioca Club realmente é grande, quem conhece sabe que rolam shows de diferentes estilos no lugar, de sertanejo, samba, punk, entre outros. Com espaço para mais de 1.000 pessoas, não estava lotado. Mas o público estava chegando cada vez mais. Acredito que um pouco mais de 500/600 pessoas tenha sido o público do evento (chutando alto). Fiquei na pista aguardando o início do show, música rolando enquanto observava ao redor. Sem dúvida, o local estava majoritariamente tomado por homens entre 30 anos para mais. Sei que você deve estar falando “o que isso tem a ver com o show?”. Tá, é uma observação sobre o próprio público do hardcore, será que o gênero está se renovando? As bandas que nasceram há mais de 40 anos são capazes de conquistar um público de outra geração? Qual a diversidade de gênero em um show como esse? Não estou problematizando nada, apenas observando. Com essas informações, tirem a própria conclusão.
O show começou pouco depois das 20h30, logo com “Depression”. No meio da música uma pessoa sobe ao palco para o que seria primeiro mosh da noite quando é agarrado pela camisa pelo vocalista Mike Vallely. Ele cantando no microfone com uma das mãos e na outra agarrando um cara pela camisa para colocá-lo fora do palco. Mike até tenta derrubá-lo com um chute, mas aí os “ajudantes de palco” vieram e retiraram o fã empolgado de lá (assista o vídeo acima).
Foi uma situação tensa que durou poucos segundos, cheguei a ouvir o início de algumas reclamações, mas foi acabar “Depression” e emendaram na sequência “No Values”. A situação voltou ao normal, mas todo mundo que subia no palco era imediatamente expulso de lá. Tudo bem, tudo bem… Tem a questão que o povo sobe, pisa nos pedais, em cabos, quer ficar dançando no palco e tals… mas pô, um show desses é querem todo mundo comportadinho só na pista? De cara já quebrou um clima. Outros fãs não se importaram muito e continuaram o pogo.
Guitarra do Greg Ginn com volume baixo
O show ficou durante uma boa meia hora – ou mais – com a guitarra do Greg Ginn com o volume baixo. Não se sentia o peso do instrumento enquanto o batera Isaias Gil e o baixista Joseph Noval estavam com uma melhor audição. Em alguns momentos, o vocal do Mike não era tão nítido e isso chegou a ser comentado entre as pessoas próximas a mim no show. Felizmente, após esse período, aumentaram o volume da guitarra do líder da banda.
O Black Flag continuava jorrando seus clássicos no público, que foi empolgando cada vez mais, mesmo que de forma tímida em alguns momentos. A banda não falava nada com o público, ia tocando seus clássicos. Entre eles “Fix Me”, “Gimmie Gimmie Gimmie”, “Black Coffee”, “Loose Nut”, “White Minority”, “Jealous Again”, “Nervous Breakdown”, “TV Party”, “Rise Above”, “Louie Louie”, “Six Pack”, e algumas pirações como “Slip it In”. Nesses momentos de piração, solos intermináveis de Greg Ginn, com o Mike de costas para o público e de frente para o baterista. Isso esfriava bem o público, porém muitos fãs continuavam pulando. O show terminou em alta, mas sem qualquer despedida e… sem tchau, bis e todos sem ideia se teria continuação ou não. Quando as portas laterais do espaço se abriram, ficou claro que o show tinha acabado, uma hora e pouco depois do início.
Conclusão
Tanto o Greg quanto o Mike foram cumprimentar o público depois do show, o que convenhamos foi uma atitude bem simpática. Tiraram fotos, conversaram com as pessoas, receberam até presentes. Ficou claro que eles estavam satisfeitos por estarem ali. Minha percepção é que o Black Flag poderia ter obtido uma conexão muito maior com o público durante o show. Greg é um excelente guitarrista, a banda está marcada na história e mesmo sem os integrantes que ajudaram a construir a concepção trazida desde início pelo Black Flag no mundo da música, que com certeza foi além do punk, há que se reconhecer que o show satisfez quem apenas queria ouvir alguns dos clássicos da banda ao vivo.
Para outros, que como eu, esperavam criar algum vínculo mais especial com esse show, infelizmente não deu.
- Greg Ginn com os fãs após o show no Carioca Club
- Mike Vallely recebendo o público no fim do show
Cerveja MUITO cara
Não vou me estender muito sobre o Carioca Club, mas um lugar que cobra R$ 12,50 uma lata de cerveja por si só já demonstra o quanto é acessível ou não. Mas esse valor é referente a compra da bebida diretamente com o garçom, já no caixa para pegar uma ficha o valor da lata de cerveja era de R$ 9, mas o pulo do gato estava na cobrança de uma taxa de R$ 2 na comanda. Ou seja, você teria como pegar uma comanda, mas essa taxa era incluída no serviço. Se você é especialista em direito do consumidor, ou conhece alguém que seja, agradecemos se puder confirmar se esse procedimento é legal ou prática abusiva. Fica dica para os próximos rolês no local: beba antes de entrar.